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questões da política

Acordo de WhatsApp para manter Frota no PSL não resiste a canetada de Bolsonaro

Bancada selou em grupo de aplicativo permanência do deputado, que acabou expulso depois de criticar Eduardo; outros parlamentares devem ser enquadrados

Thais Bilenky | 15 ago 2019_13h22
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A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) foi quem pôs o assunto em debate. “Amigos, o deputado Frota me procurou para conversar e chegamos juntos à conclusão de que a única pessoa prejudicada com toda essa história foi ele mesmo”, ela escreveu no grupo de WhatsApp da bancada do PSL na Câmara, na quarta-feira da semana passada. “Pedi que ele repense as críticas que tem feito ao governo e ele topou. Proponho que observemos sua postura e repensemos o seu pedido de expulsão, que eu propus. Acho que todos devemos ter uma chance de redenção.” Para acompanhar a mensagem, ela encaminhou fotografia dos dois conversando no plenário, momento que selou a reconciliação. Provisoriamente.

No grupo, a mensagem de Zambelli recebe o apoio de outros membros da bancada, como Bibo Nunes (RS), Felício Laterça (RJ), Gurgel (RJ), Luiz Ovando (MS) e General Girão (RN). Pessoalmente, outros, como Bia Kicis (DF), se mostraram simpáticos à iniciativa. A permanência de Frota recebeu ainda o apoio do deputado Coronel Tadeu (SP), aliado do senador Major Olimpio (PSL-SP), autor de outro pedido de expulsão do deputado. “Entre nós, resolvemos dar um basta e apagar a fogueira, que estava alta”, afirmou Tadeu à reportagem. “Nós, deputados, combinamos de dar uma chance ao Frota, desde que ele não falasse mais besteira”, prosseguiu.

Como ninguém se opôs no grupo, os deputados entenderam que tinham selado um acordo. No entanto, o silêncio de dois membros da bancada falou mais alto. O deputado Eduardo Bolsonaro, presidente do PSL em São Paulo, não se pronunciou na discussão; tampouco o fez o presidente nacional da sigla, deputado Luciano Bivar (PE). Dias depois, o processo de expulsão foi movido a toque de caixa, e Frota, removido dos quadros partidários.

“Não era a vontade da bancada do meu partido”, registrou o deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP). “Abre um precedente perigoso de cerceamento de liberdade de expressão. É o partido do presidente, você não quer contrariar o Palácio, mas, da forma como foi feito, nem o PT faz.” 

“É o partido do presidente. Ele fez acontecer”, disse Tadeu. “Prevaleceu com certeza a ingerência do presidente e um ou outro ministro do PSL que possa ter interferido.” Frota entrou na mira do Palácio do Planalto ao disparar seguidos ataques ao governo, ao presidente Jair Bolsonaro (“decepção”), a Eduardo (“nada diplomático”) e a ministros como o do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, criticado por Frota por sua participação em suposto esquema de candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais. Em fevereiro, num protesto teatral, o deputado levou a fruta à tribuna da Câmara, espremeu-a e, deixando o suco cair sobre a mesa, discursou que “laranja podre no PSL será esmagada”. 

Ao se abster na votação em segundo turno da reforma da Previdência, Frota deu o argumento cabal para sua desfiliação. O terceiro pedido de expulsão de Frota era de autoria de Luciano Bivar. Inicialmente, o presidente do PSL tentou apaziguar os ânimos. No início deste mês, entretanto, ele foi convocado para uma reunião de manhã no Palácio do Planalto com Bolsonaro e sua advogada Karina Kufa. O vice-presidente do PSL, Antônio Rueda, também participou. Doze dias depois, o ex-ator Alexandre Frota, linha de frente do batalhão bolsonarista na eleição de 2018, foi expurgado do PSL.

Alguns congressistas disseram ver um acerto entre Bivar e Frota, que perderia o mandato se pedisse para sair, mas o mantém se expulso. Sua insistência nas críticas aos Bolsonaro despertou desconfiança de que ele já queria trocar o partido por uma legenda que lhe ofereça mais espaço que o PSL – Eduardo nunca concedeu poder no diretório estadual ao agora ex-correligionário. 

Mas a expulsão, de toda forma, suscitou críticas pela comparação com o tratamento dispensado ao senador Flavio Bolsonaro, presidente do PSL no Rio de Janeiro. O filho mais velho do presidente da República é investigado por evolução patrimonial suspeita e suposta rachadinha de salários de funcionários na Assembleia Estadual fluminense. Nada disso, porém, o desabilitou a comandar o diretório estadual do partido, ao passo que um assessor do deputado estadual paulista Coronel Nishikawa foi forçado a deixar o diretório municipal de São Bernardo do Campo (SP) pela mesma suspeita, a divisão de remunerações no gabinete.

Em março de 2018, Bolsonaro sinalizou que nomearia Frota ministro da Cultura caso vencesse a eleição. Empossado, o presidente não levou a intenção adiante. Frota passou a criticar o presidente, seu governo, alguns de seus ministros e, por fim, a decisão de nomear Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington. O deputado afirmou que a nomeação do filho era um “mimo” do presidente, exemplo da “velha política”. Em artigo no site Brazil Journal, Frota escreveu que “Eduardo nada tem de diplomático, haja vista ter aventado até mesmo o fechamento do STF (Supremo Tribunal Federal) por ‘um cabo e um soldado’”. Classificou a relação do filho do presidente com os Estados Unidos como de “subordinação, e não de independência”.

A bancada do PSL na Câmara aponta como próximos alvos da canetada os deputados Bibo Nunes (RS) e Alê Silva (MG), ambos em atrito com Luciano Bivar. Duas horas depois da expulsão de Frota, o gaúcho entrou com uma representação no Conselho de Ética do partido contra o presidente da sigla alegando ter sido ofendido – Nunes compartilhou no WhatsApp uma mensagem de Alê Silva apontando um esquema de candidaturas laranjas de Bivar, ao que o pernambucano respondeu: “Vai tomar no…” Tanto Nunes quanto Silva foram removidos de comissões na Câmara nos últimos dias, em decisões vistas como retaliação por estarem em enfrentamento com o presidente da sigla.

“O PSL está esfacelado em todo o Brasil, falta comando. Bivar tem que sair da presidência”, afirmou Bibo Nunes. Ele contesta a indicação da executiva nacional para o comando do diretório gaúcho do PSL. “Entrei com a representação para dizer que não tenho medo, mas claro que vou perder. Quem julga é ele mesmo”, continuou. O deputado do Rio Grande do Sul se disse disposto a gastar 1 milhão de reais do próprio bolso para se defender de Bivar com advogado, assessor, o que for, “pela minha honra e a minha dignidade e em causa da nova política”. Mas se absteve de comentar o papel do Planalto no partido. “Não quero envolver o Palácio nessa, mas sou aliado total. Se é que o partido tem dono, o dono é Bolsonaro”, concedeu.

Advogada tributarista e contadora, Alê Silva disse ter sido removida da comissão especial de reforma tributária. “Bivar alega que me excluiu porque eu teria faltado a uma sessão da votação da Previdência. Nesse dia, sofri um acidente, tive uma lesão na cervical, fui para o pronto-socorro e mostrei o atestado. O Bivar diz: vou castigá-la”, reclamou. O deputado pernambucano tem 25 ausências em plenário na Câmara. A mineira tem 5 faltas em plenário e 18 em comissões, sendo 16 delas não justificadas. “Ele está querendo me castigar, porque eu que fiz as denúncias do laranjal em Minas Gerais que acabaram por atingi-lo. O sentimento pessoal dele falou mais alto.”

Na tarde desta quinta-feira (15), Frota enviou uma mensagem por WhatsApp dizendo ter recebido convites para ingressar no DEM, PP, MDB, PSDB, Podemos, PSD e PRB. “Estou discutindo espaço e atuação dentro de cada proposta. Mas estou feliz em ter sido convidado por grandes partidos. Resultado do meu trabalho nesse início de mandato”, escreveu. Mandou também um vídeo intitulado “A hipocrisia de Bolsonaro com Frota”, compilando cenas em que Bolsonaro elogia o deputado. Foi uma resposta irônica à afirmação do presidente de que não sabia nem quem o deputado era depois de sua expulsão.

Bivar não atendeu as ligações nem respondeu as mensagens da reportagem. 

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Reportagem atualizada às 16h30 do dia 15 de agosto para incluir as declarações de Frota.

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