A indicação do presidente Jair Bolsonaro, que escolheu Augusto Aras para comandar o Ministério Público Federal no lugar de Raquel Dodge, deu início a uma rebelião entre procuradores da República.
Os quadros com maior expressão na carreira, em sua maioria ligados à Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e defensores da lista tríplice para nomeação do procurador-geral, prometem não ocupar cargos de indicação do procurador-geral da República caso Aras venha a ter seu nome aprovado pelo Senado e efetivamente assuma o comando da instituição.
Com isso, Aras terá que buscar integrantes com menor liderança na carreira para ocupar importantes postos de sua gestão, como os de vice-PGR e o de vice-procurador-geral Eleitoral.
Além de substituir o PGR em caso de ausência, o vice é responsável por julgamentos na corte especial do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Já o vice-eleitoral representa o procurador-geral no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Entre os cargos que os procuradores ligados à ANPR e que defendem a lista tríplice também pretendem se recusar a assumir estão postos como o de secretário-geral do MPF e as demais secretarias ligadas ao gabinete, como as de cooperação internacional, direitos humanos e assuntos criminais, entre outras.
Haverá também rejeição nas vagas de corregedor-geral, ouvidor-geral e na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, área de bastante importância dentro da instituição.
O grupo de procuradores que vai se rebelar ainda promete até mesmo abandonar as câmaras de coordenação e revisão caso os indicados por Aras para o comando dos colegiados desagradem os demais integrantes.
Em conversas reservadas, o grupo defensor da lista tríplice sabe que não faltarão procuradores dispostos a trabalhar com Aras, mas nenhum com maior relevância ou liderança atual na carreira deverá estar ao lado do escolhido de Bolsonaro.
Sem compor a gestão central da PGR, o grupo tentará manter a tradição de escolher os chefes das procuradorias regionais e no Distrito Federal através dos colegiados locais, seja no voto ou no acordo entre os membros.
Apesar da tradição, Aras tem poder para alterar tal quadro e designar chefes para as unidades do MPF nos Estados.
Segundo procuradores ouvidos pelo BuzzFeed News, a categoria já aguardava a indicação de um nome fora da lista tríplice para comandar a instituição.
Tinham esperança, no entanto, de que um nome com liderança dentro da carreira fosse escolhido, como o do subprocurador-geral da República José Bonifácio de Andrada ou Paulo Gonet, por exemplo.
Neste caso, procuradores não deixariam de demonstrar insatisfação com o processo de escolha, mas seria possível apaziguar rapidamente os ânimos dentro da instituição.
Para o grupo que hoje é majoritário no MPF e conta com as principais lideranças políticas da instituição, Aras é visto mais como um advogado que um procurador.
Sergio Moro
A escolha de Aras representa mais uma derrota para o ministro da Justiça, Sergio Moro, que sempre foi defensor da nomeação do procurador-geral da República através da lista tríplice e havia prometido à ANPR fazer a defesa dos nomes escolhidos na categoria junto ao governo.