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Para analistas, resultado do PIB traz mais otimismo para a economia

Economista diz que desempenho no segundo trimestre deve motivar alterações, para cima, nas expectativas deste ano

Foto do author Thaís Barcellos
Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Thaís Barcellos (Broadcast) e Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:

O crescimento de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre de 2019, número acima do esperado pelo mercado (0,2%), faz economistas começarem a olhar com um pouco mais de otimismo para a economia daqui para a frente. Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, o resultado é um dado encorajador e que traz boas notícias, depois de um longo período de decepções com a atividade, embora a retomada ainda seja gradual.

Segundo o economista, foi um destaque dentro desse resultado a recuperação da indústria (0,7%) e dos investimentos (3,2%), depois de dois trimestres negativos. Esse resultado melhor do que o esperado, conforme Rostagno, deve estancar as revisões para baixo do PIB do ano e pode até motivar elevações nas expectativas. Atualmente, as previsões dos analistas ouvidos pelo Banco Central no boletim Focus são de alta de 0,81% para este ano. A projeção do Mizuho é de alta de 0,9% para o PIB do ano, mas o economista admite que o dado do segundo trimestre impõe viés de alta, para algo em torno de 1,0%.

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O próprio secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, disse que o resultado foi melhor que o previsto. "O resultado foi o dobro do que a maioria dos analistas esperava", avaliou. "Não dá para soltar fogos com o resultado do PIB de um semestre, mas o resultado é um certo alívio."

Alexandre Ázara, economista-chefe e sócio do Mauá Capital, diz que o resultado do segundo trimestre quebra, de certa forma, a dinâmica pessimista embutida nas expectativas em relação ao crescimento da economia também em 2020. Para ele, a despeito da crise econômica internacional, o PIB no próximo ano deverá crescer algo entre 2,0% e 2,5%. Isso porque, entre outras coisas, o carregamento estatístico de uma expansão de 1,1% este ano - esta é a projeção da Mauá Capital - será positivo.

Segundo ele, o pessimismo em relação ao PIB foi barrado pelo crescimento do segundo trimestre. Para o terceiro trimestre, a Mauá projeta um crescimento de 0,3% a 0,4% apesar de ainda haver muita incerteza pelo fato de os dados estarem começando a sair agora. 

Para a consultoria Capital Economics, os dados do segundo trimestre surpreenderam e mostram que a piora da atividade observada nos primeiros três meses do ano (quando houve queda de 0,1%) foi mais um fator passageiro do que o início de uma piora mais acentuada da economia. O economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson, porém, pondera que o crescimento da economia brasileira ainda é fraco, principalmente se comparado a outros emergentes, mas deve ter algum fortalecimento nos próximos períodos.

Indicadores de confiança apontam para uma melhora neste terceiro trimestre, observa Jackson. O ritmo, porém, vai seguir moderado e apoiar cortes de juros pelo BC. A Capital Economics projeta expansão de 0,8% do PIB neste ano e de 2% em 2020.

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A avaliação da consultoria inglesa Pantheon Macroeconomics é de que os bons números do segundo trimestre mostram que a economia brasileira está resistente, apesar dos muitos choques que teve no período. "Olhando para a frente, indicadores antecedentes, incluindo os de consumidores e empresários, sugerem que a economia deve ir relativamente bem no fim deste terceiro trimestre e no quarto período de 2019", avalia o economista sênior para América Latina da Pantheon, Andres Abadia.

Desempenho da construção contribuiu para resultado positivo da indústria. Foto: Werther Santana/Estadão

A demanda doméstica tem se mostrado resistente, apoiada pela baixa inflação e juros em mínimas históricas. A liberação de recursos do FGTS deve ser um fator adicional positivo para a atividade do período, observa ele. "A retomada, contudo, será limitada pele ambiente global crescentemente desafiador."

Abadia destaca que um dos pontos positivos do PIB é o consumo das famílias, em alta de 0,3%. Outro destaque foi a expansão de 3,2% da formação bruta de capital fixo. 

"São bons números", diz Abadia sobre os dados do segundo trimestre. Para o economista, os dados são uma evidência de que a atividade conseguiu superar eventos negativos na primeira metade do ano, que inclui a tragédia com a barragem da Vale em Brumadinho (MG) e, sobretudo no segundo trimestre, um cenário externo mais adverso e a piora da situação na Argentina.

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Rostagno, da Mizuho, avalia que o cenário externo deve continuar sem ajudar o PIB brasileiro, como ocorreu no segundo trimestre, mas a demanda doméstica deve mais que compensar esse efeito negativo. No segundo trimestre, as exportações caíram 1,6%, enquanto as importações cresceram 1,0%, ambos na margem.

Em relação à política monetária, o economista do Mizuho acredita que o PIB mais forte e alta recente do dólar não são suficientes para mudar a aposta de queda dos juros de 0,50 ponto porcentual na reunião de setembro, já que o hiato do produto ainda está muito aberto e o cenário de inflação, muito confortável. 

Contudo, ele diz que esses eventos podem limitar a expectativa de Selic abaixo de 5,0%. A projeção do economista é de redução de 0,50 ponto em setembro e mais 0,25 ponto em outubro, levando a Selic para 5,25%. Segundo ele, o dado do PIB do terceiro trimestre deve definir se o juro cai para 5,0%, mas como ele está otimista com o desempenho no período de julho a setembro, mantém 5,25%.

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Rostagno ainda diz que os ativos brasileiros estão de certa forma blindados da deterioração na Argentina, devido ao baixo déficit em conta corrente, o nível robusto de reservas e à baixa exposição de ativos atrelados ao dólar. "Algum impacto de realocação de portfólios dos investidores estrangeiros pode acontecer, mas vejo impacto moderado, não vejo cenário de contágio", avalia.