Gilmar ataca Moro e diz que Lava Jato usou prisões como ‘elemento de tortura’

Disse que Moro era ‘coach de acusação’

Gilmar vê ‘era das trevas’ no procesos penal

Ministro atacou operação Lava Jato durante seu voto
Copyright Sérgio Lima/Poder 360 - 3.mai.2018

Durante a leitura de seu voto na sessão do plenário STF (Supremo Tribunal Federal) que debateu a ordem de apresentação de alegações finais, nesta 4ª feira (2.out.2019), o ministro Gilmar Mendes aproveitou para atacar Deltan Dallagnol, Sergio Moro e a Operação Lava Jato.

“Hoje se sabe, de maneira muito clara, e o Intercept está aí para confirmar e nunca foi desmentido, que usava-se a prisão provisória como elemento de tortura. E quem defende tortura não pode ter assento na Corte Constitucional. O Brasil viveu uma era de trevas no que diz respeito ao processo penal”, disparou o ministro contra as ações da força-tarefa de Curitiba.

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O ministro criticou também seus colegas do Supremo, exaltando que foi a única voz na Corte que questionou o projeto de 10 Medidas Contra a Corrupção. “Quando foi divulgada, em 2016, as tais 10 Medidas, fui eu a voz que se levantou sobre a impropriedade dessas 10 medidas. O que eu disse [à época]: tenho a impressão de que estamos vivendo 1 momento singular. Depois esses falsos heróis vão encher os cemitérios, a vida continua. Sou mau profeta… isso eu falava em 2016. E aconteceu”, ironizou Mendes.

“Busquei advertir sobre os descomedimentos de 1 inovador e criativo modelo de Justiça criminal que se alastrava pelo país com os acordos de colaboração premiada. No emaranhado de acordos negociados pela força-tarefa de Curitiba vimos de tudo”, disse Gilmar .

O ministro ainda embasou trechos do seu voto nas publicações da Vaza Jato. Segundo ele, Moro era o chefe da operação.

“Não parece haver dúvida de que o [então] juiz Moro era o verdadeiro chefe da força-tarefa de Curitiba. Em diversos momentos, o magistrado direcionou a produção probatória nas ações penais e aconselhou a acusação, inclusive, indicando testemunhas e sugerindo a juntada de provas documentais. Quem acha que isso é normal, certamente não está lendo a Constituição e o nosso Código de Processo Penal”, esbravejou.

Gilmar Mendes também criticou a relação entre procuradores e juízes na Lava Jato e acusou Moro de agir como “1 verdadeiro coach da acusação. “Ao apreciar a denúncia formulada contra o suposto operador Zwi Skornicki, Moro deu por falta de provas de 1 suposto depósito […] que seria determinante para a recepção da denúncia. O magistrado ainda tinha a função estratégica de sugerir aos procuradores a ordenação das fases da operação, considerando o seu interesse midiático”.

O ministro ainda afirmou que “o núbio entre julgador e polícia pode ter até algum fetiche, até de índole sexual”, e completou: “moderação aqui! Julgador é órgão de controle, não é órgão de investigação”.

“O quadro de esquizofrenia nas funções de juiz não chega a passar despercebido pelos próprios membros da forca-tarefa. Em mensagem atribuída à doutora Monique Cheker, a procuradora demonstra ter clareza que Moro sempre viola o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, apontou.

Resultado

Os ministros decidiram, por 7 votos a 4, que é direito de réus delatados apresentarem suas alegações finais por último, depois de delatores, obtendo, assim, o direito à ampla defesa nas ações penais.

Após bater o martelo em relação à ordem das alegações, os magistrados iniciaram outra votação. Por 8 votos a 3, os decidiram fixar uma regra de orientação a outros juízes com base no que foi decidido hoje.

Foram a favor disso os ministros Dias Toffoli; Edson Fachin; Luís Roberto Barroso; Rosa Weber; Luiz Fux; Cármen Lúcia; Gilmar Mendes; e Celso de Mello. Foram contra a fixação de uma orientação: Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio.

A definição sobre para quais casos o novo entendimento poderá ser aplicado, no entanto, foi adiada para novo julgamento a ser realizado nesta 5ª feira (3.out).

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