RIO — O presidente Jair Bolsonaro, quando assumiu o cargo, em janeiro, trazia consigo um aparente trunfo, conquistado por seus antecessores recentes — com a raridade de ter dado estatura a um partido até então nanico. Elegeu a maior bancada do país, com 53 deputados federais, integrantes de uma legenda sem tradição alguma no Congresso. Se tornou menor apenas que o PT. Para garantir resultados favoráveis em um momento crucial para a economia, obter tamanha vitória parecia passaporte para um fôlego essencial para tempos em que a reforma da Previdência e o pacote Anti-Crime prometiam virar marca para as mudanças que o Brasil demonstrou querer nas urnas.
Perfil do PSL: A bancada do partido na Câmara
A conhecida falta de disposição do presidente para receber congressistas não ajudou. Tampouco a perspectiva de coalizão com um Congresso que se renovou conservador se concretizou: a taxa de renovação foi de 52%, a maior em vinte anos. Havia uma expectativa de convergência de interesses para a aprovação dos projetos de interesse do governo, ele também com uma agenda conservadora. A divisão do PSL, que se agravou agora com acusações graves de lado a lado, ultimatos e a aparentemente inevitável saída do presidente para uma nova legenda (são cinco convites, disse uma de suas advogadas ao GLOBO ontem) exacerbam uma dificuldade nítida de articulação.
A governabilidade, desafio maior de qualquer presidente, em especial no primeiro mandato, se tornou o grande nó desta gestão. Eleitos em grande parte na cola da popularidade do então candidato Bolsonaro, em 2018, muitos políticos se tornaram adversários. A insurreição dentro de sua própria casa vai precisar de bombeiros. Por ora, a tensão causa temor até de briga física.
Deputado é contra reunião no PSL: 'Pode acontecer uma luta'
Um outro efeito: o enorme mapa de eleitos pelo PSL em 2018, que cobriu o Brasil de bolsonarismo, parece começar a dar sinais de que vai mudar de cor. A luta por ocupar uma centro-direita contaminou os potenciais pré-candidatos à Presidência: Wilson Witzel e João Doria.
A briga interna do PSL terá efeitos na agenda do Congresso. E será o maior teste até aqui para a musculatura do presidente no ano eleitoral que se aproxima.