Manifestantes tentam impedir a passagem de caminhões-tanques Foto: Leo Correa / AP

Pré-candidatos fazem coro contra reajustes do diesel

Veja a opinião dos principais postulantes ao Planalto sobre a greve dos caminhoneiros

Manifestantes tentam impedir a passagem de caminhões-tanques - Leo Correa / AP

por Eduardo Bresciani, Igor Mello, Jussara Soares, Marco Grillo e Tiago Dantas

RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO — No oitavo dia da greve dos caminhoneiros, polarizada entre críticos e apoiadores, pelo menos um consenso surgiu entre os pré-candidatos à Presidência : postulantes dos mais diversos perfis ideológicos defendem que os preços praticados pela Petrobras nos combustíveis deixem de flutuar diariamente, como acontece hoje. A tarifa do diesel foi reduzida em R$ 0,46 por 60 dias, em uma tentativa do governo de atender às reivindicações e encerrar as manifestações. Depois deste prazo, o preço será revisado mensalmente, mas não houve mudança na política em vigor para a gasolina e o etanol.

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O GLOBO enviou na segunda-feira as mesmas perguntas sobre o movimento grevista e a formulação do preço dos combustíveis para os nove principais pré-candidatos. Com pequenas diferenças de método na forma de aplicação, a alteração na política de preços foi defendida por nomes alinhados à esquerda, como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e a ex-deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB), e à direita, casos do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM). Os ex-ministros Henrique Meirelles (PMDB) e Marina Silva (Rede), o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL), e o senador Álvaro Dias (Podemos-PR) também se posicionaram contra as mudanças diárias no valor dos combustíveis. O pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi o único a não responder aos questionamentos da reportagem, mas já se posicionou sobre a greve e as tarifas implementadas pela Petrobras em outros momentos. Nesta segunda-feira à noite, ele postou mensagem no Twitter na qual "parabeniza os caminhoneiros pela luta justa", mas pede "sabedoria para que tudo volte à normalidade".

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Segundo cientistas políticos, a crise provocada pela greve dos caminhoneiros é desafiadora para os candidatos, que podem ser acusados de omissos caso não se manifestem. Ou desagradar uma parcela da sociedade a depender da opinião divulgada.

— Acredito que a população tende a ficar cansada do candidato que fala, mas não diz nada. Talvez, numa situação crítica como essa, seja melhor falar a verdade e ter um posicionamento contundente sobre o que pretende fazer para evitar que uma situação dessa volte a acontecer — analisa o cientista político Carlos Mello, do Insper.

Marina (Rede)

Marina concede entrevista em evento do Banco Santander - Edilson Dantas / Agência O Globo

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

A greve dos caminhoneiros é mais uma demonstração da insatisfação generalizada de milhões de brasileiros contra os serviços públicos precários.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

Precisamos debater a infraestrutura logística, como a diversificação da matriz energética, o suporte adequado ao transporte rodoviário e modais alternativos.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

A Petrobras definiu uma política de preços fora da realidade. Não é possível esse repasse automático ao trabalhador. O câmbio responde a conjunturas de curtíssimo prazo, e o preço dos combustíveis não pode seguir essa lógica. Há margem para absorver variações momentâneas do dólar, pois apenas uma parte do petróleo consumido no país é importada.

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Alckmin (PSDB)

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na reunião da executiva do PSDB - Jorge William / Agência O Globo

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

Todos os trabalhadores têm direito de manifestação, mas o direito de um termina onde começa o direito do outro. Nenhuma pauta, por mais justa que seja, pode parar o Brasil.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

O primeiro caminho é sempre o diálogo. É preciso esgotar o diálogo até o último momento. E, no caso de intransigência, a aplicação da lei.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

O ideal teria sido negociar com a Petrobras reajustes mensais, para garantir alguma previsibilidade aos consumidores de diesel. Além disso, em vez de zerar a alíquota do PIS-Cofins por 60 dias, que é uma solução provisória, teria sido melhor criar um colchão tributário, com alíquotas máxima e mínima que seriam adotadas em momentos de choque de preço.

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Bolsonaro (PSL)

O deputado Jair Bolsonaro, pré-candidato à Presidência pelo PSL, participa de debate com prefeitos - Jorge William / Agência O Globo

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

Bolsonaro não respondeu às perguntas do GLOBO. Na sexta-feira, em vídeo publicado nas redes sociais, ele parabenizou os caminhoneiros, mas pediu para não bloquearem estradas, tática adotada pelo movimento grevista.Em outro momento, ele disse que fechar rodovias era “extrapolar” e tornava a situação inegociável. Depois, amenizou o tom e defendeu a revogação de multas impostas a caminhoneiros.

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Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

Na semana passada, ele disse que “quem tem que dar solução é o governo”.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

Em vídeo, ele afirmou que “acompanhar o preço internacional com minoria entrando (através de importações) aqui é mau-caratismo, no mínimo”.

Em seu perfil no Twitter, ele parabenizou os caminhoneiros pela "luta justa", mas pediu "sabedoria para que tudo volte à normalidade". Na postagem anterior, ele afirmou que o "Governo de forma covarde trabalha para colocar na conta dos caminhoneiros a responsabilidade pelos futuros prejuízos causados pela paralisação".

Ciro Gomes (PDT)

O presidenciável Ciro Gomes - Jorge William / Agência O Globo

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

Tenho alertado sobre a política de preços da Petrobras desde 2016. Era uma crise anunciada e a justa manifestação dos caminhoneiros é um reflexo dela. Lamento apenas que o custo esteja sendo pago pela população brasileira, que não tem culpa.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

Se eu fosse o presidente, não teria deixado as coisas chegarem a tal ponto. Primeiro, porque não adotaria esta política de preços. Segundo, porque manteria diálogo permanente com a sociedade, na qual estão os caminhoneiros.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

Uma política que fortaleça a Petrobras e que reverta em benefícios para a população. Jamais espetar nas costas dos caminhoneiros e do povo o desejo de lucro dos poucos acionistas minoritários.

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Álvaro Dias (Podemos)

Senador Alvaro Dias - Ailton de Freitas / Agência O Globo

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

Fui favorável à greve dos caminhoneiros por entender que chegaram ao limite. O governo não teve a capacidade de se antecipar aos fatos e acabou obrigando os caminhoneiros à paralisação.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

Se fosse eu o presidente não chegaríamos a esse impasse, porque nos anteciparíamos aos fatos e evitaríamos a crise.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

Primeiramente revogaria o decreto do presidente Temer que autoriza a Petrobras a promover reajustes quase que diários em razão da flutuação do preço do petróleo internacionalmente. Países produtores praticam preços locais em defesa de sua população. A reforma tributária seria o mecanismo mais adequado para a redução de preços.

Manuela D’Avila (PCdoB)

Manuela D'Ávila é pré-candidata à presidência pelo PCdoB - Wilson Cardoso / Divulgação/ALRS

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

Nossa posição histórica sempre foi defesa das manifestações dos trabalhadores. A pauta dos caminhoneiros autônomos é justa.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

Não deixaríamos que a situação atingisse o ponto que atingiu porque haveria negociação prévia e mediação permanente.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

A estratégia é reativar o Plano de Investimentos da Petrobras para aumentar a produção e nos deixar menos dependentes da volatilidade do mercado externo. Minha proposta é aumentar os investimentos públicos em refinarias. No período de transição até o aumento do número de refinarias, nossa proposta é criar um Fundo de Compensação para dar sustentação em caso de volatilidade do preço do barril do petróleo.

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Rodrigo Maia (DEM)

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, durante reunião em seu gabinete - Ailton de Freitas / Agência O Globo

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

A greve dos caminhoneiros é legítima, mas neste momento passou de todos os limites toleráveis: deixou de ser um movimento de reivindicação, legítimo no mundo das relações de trabalho, e se converteu num grande problema para todo o país. É inegável que houve uma escalada no preço dos combustíveis, isso impactou o diesel e se espalhou pela cadeia do sistema rodoviário de carga.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

Maior previsibilidade nos preços do combustível e zerar Cide e Pis/Cofins do diesel.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

Deveria existir um prazo de reajuste de 60 dias, no qual seria apurado o saldo e o ajuste se faria com a redução do PIS/Cofins. O

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Guilherme Boulos (PSOL)

O pré-candidato do Psol à Presidência, Guilherme Boulos 07/05/2018 - CJPress / Marcelo Chello / CJPress

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

A greve é um instrumento legítimo dos trabalhadores. É preciso separar o joio do trigo: de um lado, o legítimo protesto de caminhoneiros; de outro, donos de transportadoras barganhando isenções fiscais e oportunistas de extrema direita defendendo uma intervenção militar.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

Não permitiria que a Petrobras praticasse essa política de desmonte que só atende aos interesses dos acionistas.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

Empresa pública tem responsabilidade social. Se a Petrobras operasse com a capacidade total de refino e deixasse de exportar petróleo e importar derivados, a crise teria sido evitada, porque o preço não teria ficado refém das variações do dólar.

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Meirelles (MDB)

Ex-ministro da Fazenda e pré-candidato do MDB à Presidência Henrique Meirelles - UESLEI MARCELINO / REUTERS

Qual a sua posição sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

É inaceitável que, além dos problemas graves e reais dos preços do petróleo e derivados, haja um componente político-ideológico e empresarial nessa aliança de entidades politicamente engajadas com empresas transportadoras.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

Já foram tomadas medidas que enfrentam os problemas levantados pelos grevistas e, portanto, isso deve ser seguido pela aplicação da lei e da ordem.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

Para trazer equilíbrio e reduzir a volatilidade do preço, é necessário criar espaço para um fundo de estabilização que absorva eventuais oscilações das cotações internacionais. Este fundo não deve ser deficitário. Ele pode ser capitalizado sempre que houver queda dos preços do petróleo.

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João Amoêdo (NOVO)

Coletiva de imprensa com João Amoedo no Teatro Santander - Edilson Dantas / Agência O Globo

Qual a sua opinião sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

Sou contra. Os caminhoneiros tinham o direito de protestar dentro da lei contra o governo e a Petrobras, mas jamais poderiam enfrentar o povo brasileiro, impedindo o direito de ir e vir. Não é aceitável impedirem o transporte de itens básicos de alimentação e saúde, como remédios. A negociação tem que ser respeitada pelos dois lados. A liberdade demanda responsabilidade.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

É preciso dialogar até o limite. Mas quando um acordo é firmado e não é cumprido, é preciso o uso da lei. Para isso, é preciso que o governo seja respeitado e tenha autoridade.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

Como a empresa tem monopólio, é preciso criar mecanismos para evitar excessos e controlar as flutuações. Esta é uma medida paliativa até a privatização da Petrobras e geraçao de maiores incentivos à concorrência no setor. O Brasil precisa reduzir impostos que asfixiam a economia. Em todos os setores e de forma permanente, e não como um alívio temporário sob pressão setorial. Essa redução de impostos deve ser acompanhada de redução de gastos. A soluçao para o setor é o aumento da concorrência, que leva a menores preços e melhores produtos.

Paulo Rabello de Castro (PSC)

O pré-candidato do PSC à Presidência, Paulo Rabello de Castro - Edilson Dantas / Agência O Globo

Qual a sua opinião sobre a greve dos caminhoneiros? Contra ou a favor?

Eu sou a favor do movimento dos caminhoneiros, porque ele é, na realidade, um basta que a sociedade brasileira inteira está dando para o descalabro econômico. A situação dos caminhoneiros é resultado da montanha de impostos que incide sobre qualquer movimentação de mercadorias ou serviços no país.

Que medidas tomaria para acabar com a paralisação?

A melhor solução – e a mais sustentável economicamente – é viabilizar o aumento do suprimento do diesel através de um sistema de leilões com a participação tanto da Petrobras, como supridora dos leilões, como qualquer importador. Também defendo a eficientização da frota de caminhões do Brasil. O BNDES pode lançar uma linha para incentivar os caminhoneiros substituir seus veículos velhos por caminhões novos e mais eficientes.

Na sua visão, qual deve ser a política de preços da Petrobras?

Não somos contra uma política que valorize a mais significativa empresa brasileira, a Petrobras. Mas ela já passou do limite de continuar sendo uma empresa que exerce equivocadamente o seu poder de monopólio. Nós temos que valorizar a Petrobras e os petroleiros como uma empresa brasileira competitiva mundialmente. A competição se ganha jogando o jogo do mercado. Sou a favor de ajudar a Petrobras a entrar no jogo do mercado através do sistema e da política de leilões.