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Por que Bolsonaro se aliou a Bannon?

Steve Bannon não foi o responsável pela eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, ao contrário do que escreveu Eduardo Bolsonaro no Twitter. Assumiu o posto de chefe de campanha do então candidato republicano em agosto de 2016, bem depois de o atual presidente já ter surpreendido a todos ao vencer as primárias do partido, derrotando nomes poderosos como o Jeb Bush e os senadores Marco Rubio e Ted Cruz.

Não que Bannon tenha sido inútil. Teve importância especialmente através da já extinta Cambridge Analytica, que usou dados de milhões de pessoas sem permissão na campanha eleitoral. Mas o grande responsável pela vitória foi Trump. Até mesmo seu antecessor no posto de marqueteiro, Paul Manafort, que está na cadeia, foi mais fundamental.

Quando o republicano foi eleito, Bannon assumiu o cargo de estrategista, mas acabou demitido meses depois. Ivanka Trump e seu marido Jared Kushner não suportavam seu radicalismo. Após deixar a Casa Branca, Bannon passou a atacar o genro e a filha de Trump, chamando Ivanka de "burra como um tijolo", entre outros xingamentos.

Nos últimos dois anos, foi colocado no ostracismo por Trump. Tenta criar um movimento da direita populista fora dos EUA. Charlatão, vende a ideia de que foi responsável pelo fortalecimento de políticos direitistas como Orban, Salvini, e Bolsonaro. Obviamente, nenhuma destas figuras precisou de Bannon para ganhar popularidade.

Os Bolsonaros, porém, decidiram se aproximar de Bannon. Não está claro o motivo. Afinal, o presidente do Brasil e seu filho Eduardo se dizem fãs de Trump, mas Trump não gosta de Bannon. Bolsonaro e seu filho Eduardo defendem o liberalismo econômico. Bannon se descreve como nacionalista econômico. Protecionista, repudia entidades como a União Europeia, com quem Bolsonaro assinou um acordo de livre mercado junto com o restante do Mercosul.

O americano e a família do presidente do Brasil também se dizem defensores do Ocidente e da cultura judaico-cristã. Mas, enquanto Bolsonaro tem boa relação com a comunidade judaica, Bannon é visto como antissemita por muitos judeus americanos e chegou a ser criticado publicamente pela Anti-Defamation League, mais importante entidade de combate ao antissemitismo nos EUA.

Além disso, muitos europeus e americanos, incluindo simpatizantes de Bannon, não consideram o Brasil parte do Ocidente cultural, que seria restrito aos EUA, Europa, Canadá, Nova Zelândia e Austrália.

Talvez a aproximação entre Bannon e Bolsonaro tenha origem em Filipe Martins, assessor de assuntos internacionais de Bolsonaro e homem forte da política externa brasileira. Ele sempre simpatizou com a ideologia soberanista contra o "globalismo".

Como escrevi aqui no passado, os adversários dos "soberanistas" não são as ditaduras de esquerda em Cuba e na Venezuela. Na realidade, os verdadeiros inimigos deles são os liberais democratas como Macron, Obama e Trudeau, que defendem o multilateralismo.

Jair Bolsonaro, que foi abertamente nacionalista no passado, simpatiza genuinamente com esta ideologia pregada por Martins no Brasil. O assessor internacional também é o cérebro por trás de Eduardo Bolsonaro. Ernesto Araújo, que tem pouca força, também decidiu adotar esta agenda, após defender a política externa do PT no passado, para seguir no cargo de chanceler, embora sua influência seja uma fração da do bem mais poderoso Martins.

Jair Bolsonaro faz discurso em jantar com integrantes do governo e nomes da direita na embaixada do Brasil em Washington, em março. Bannon está sentado ao seu lado

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