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Política Bolsonaro

Bolsonaro estuda fusão do Patriota com outro partido para sair do PSL

Flávio e Eduardo Bolsonaro avaliam que estratégia é a solução mais rápida e têm conversado com dirigentes partidários
Bolsonaro e o presidente do Patriota, Adilson Barroso 10/08/2017 Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Bolsonaro e o presidente do Patriota, Adilson Barroso 10/08/2017 Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

RIO — O presidente Jair Bolsonaro estuda alternativas para sair do PSL e, como plano principal, aposta na fusão do Patriota com outro partido de menor expressão. O núcleo duro do presidente considera que, dessa forma, será possível que deputados do PSL migrem para a nova legenda sem o risco de perder o mandato. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) têm conversado com dirigentes de outros partidos e avaliam que a fusão é a solução mais rápida, uma vez que dispensa o recolhimento de assinaturas para a oficialização.

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—  Quando duas legendas se fundem, aos olhos da Justiça Eleitoral é como se surgisse um novo partido. Com isso, deputados poderiam vir para essa legenda sem necessidade de aguardar a abertura da janela de transferência. A criação de um novo partido, sem fusão, demoraria cerca de um ano, e não podemos esperar. No ano que vem, já temos eleições municipais — disse um aliado de Bolsonaro, projetando que a fusão levaria entre três e seis meses e que, apesar de incorporar uma legenda, o Patriota continuaria com o mesmo nome.

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Bolsonaro admitiu a deputados em reunião na quarta-feira que está decidido a sair da legenda, mas que primeiro quer uma garantia jurídica para que os deputados que o acompanhem na desfiliação ao PSL não percam seus mandatos e que a Justiça possa também congelar os recursos partidários do PSL. Entre as opções estão a criação de um novo partido, como a UDN, que está prestes a ser criada, ou como o Conservadores, cujo estatuto está sendo produzido por integrantes do PSL, mas que levaria um tempo maior até ser viabilizado porque ainda precisa recolher assinaturas de apoio.

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Presidente nacional do Patriota,  Adilson Barroso afirma que o partido está aberto à fusão para receber Bolsonaro, mas vê a articulação com ressalvas.

— Se houver fusão, o próprio grupo do Bolsonaro escolherá o partido com o qual iremos nos fundir. O Bolsonaro está ciente de que o Patriota o ama. Estamos com ele desde que tinha 5% (de intenção de voto em pesquisas). Mas acho que, juridicamente, a fusão não é suficiente para permitir a entrada de políticos com mandato — disse Barroso.

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Uma resolução de 2007 do Tribunal Superior Eleitoral permitia a entrada imediata de políticos com mandato em partidos recém-criados ou fundidos, mas uma lei de 2015 estabeleceu novos critérios e passou a vedar a prática. Um processo movido pela Rede, que pede a revisão da lei, está em análise no Supremo Tribunal Federal (STF). A então procuradora-geral da República, Rachel Dodge, se manifestou, em abril de 2018, a favor da Rede no processo, mas o plenário do STF ainda não julgou o mérito da questão.

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— Mesmo se não houver a fusão, o Patriota está aberto para receber o Bolsonaro. O senador Flávio pode vir sem problemas, já que se elegeu para um cargo majoritário. Já o deputado Eduardo pode argumentar na Justiça que, pela expressiva votação que recebeu, elegeu-se sozinho, sem necessidade dos votos dos demais candidatos do PSL. Isso também o torna dono de seu mandato — argumentou Barroso.

Em 2017, Bolsonaro quase selou a ida para o Patriota, mas foi demovido da ideia por Gustavo Bebianno, que, insatisfeito com o partido, levou o então candidato à Presidência para o PSL. Bolsonaro cedeu ao apelo de Bebianno por temer que, depois de se filiar ao Patriota, Barroso não levasse sua candidatura adiante e negociasse o apoio do Patriota a um presidenciável de outro partido.

— Como garantia de que isso não aconteceria, assinei um documento me comprometendo a seguir com a candidatura do Bolsonaro. E ofereci a presidência nacional do partido ao Flávio Bolsonaro, como prova maior da minha intenção. Estive com o Bolsonaro meses atrás e disse a ele que, quem sabe um dia, estaríamos juntos. Talvez essa hora tenha chegado — disse Barroso.

Fontes do GLOBO afirmam que, na ocasião, em 2017, Bolsonaro e Flávio chegaram a se desentender: o presidente queria ir para o PSL; o senador, para o Patriota. Siglas como o PHS e PMN são cotadas para eventual fusão com o Patriota.