Por G1


Funcionário lacra escritório que guarda urnas em Buenos Aires neste sábado (26), véspera da eleição presidencial na Argentina — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

As eleições na Argentina ocorrem neste domingo (27) diante de um cenário de crise política e econômica.

Embora os maus resultados na economia tenham dificultado a missão do presidente Mauricio Macri em se reeleger, os escândalos envolvendo a ex-presidente Cristina Kirchner, candidata a vice na chapa do favorito Alberto Fernández, representam uma barreira na possível volta do peronismo ao poder.

Confira abaixo quais são esses problemas

Inflação, recessão e moeda desvalorizada

Dólar disparou na Argentina, mostra casa de câmbio fotografada na sexta-feira (25) — Foto: Ronaldo Schemidt/AFP

Os números da economia da Argentina mostram que Macri não conseguiu entregar uma das principais promessas de campanha: reerguer a economia do país. Veja os principais índices:

  • PIB caiu 2,5% em 2018, e a previsão é de queda de 2,6% neste ano;
  • Inflação chegou a 53,5% nos últimos 12 meses
  • Peso argentino sofreu depreciação, e um dólar vale quase 60 pesos – dois terços a mais do que o valor de outubro do ano passado

Preocupado, o Banco Central da Argentina elevou a taxa de juros a 40% ao ano, vendeu reservas internacionais e injetou mais de US$ 10 bilhões na economia.

Macri e a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde: crise cambial empurrou Argentina de volta aos braços do fundo — Foto: KEVIN LAMARQUE/REUTERS

A economia, porém, não deu sinais de melhora e obrigou o governo argentino a pedir maior prazo para pagar empréstimos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e credores privados. A medida gerou pânico nos mercados e obrigou Macri a pedir "calma" em público.

Isso porque, ainda em 2018, o FMI aprovou empréstimo de US$ 50 bilhões para resolver a inflação, o déficit fiscal e a queda da moeda. Em troca, o presidente argentino se comprometeu com um severo programa de austeridade.

Aumento da pobreza

Catador de lixo empurra carrinho em rua de Buenos Aires, na Argentina — Foto: Agustin Marcaria/Reuters

As dificuldades econômicas foram sentidas pela população. Os índices acima se refletiram num aumento na pobreza – dados mostram que 35,4% dos argentinos estão pobres. Isso significa mais de um terço das pessoas que vivem nos 31 grandes centros urbanos analisados pelo Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec).

Trata-se do maior nível de pobreza na Argentina desde o colapso da economia em 2001, quando o caos econômico no país levou a sucessivas quedas de presidentes.

Argentino vive em barraco de madeira e lona na província de Salta, na Argentina — Foto: Javier Corbalán/AP Photo

Outro indicador mostra que a indigência – pessoas em situação de pobreza que não conseguem atender às suas necessidades mínimas de qualquer tipo – aumentou de 6,7% para 7,7% entre o segundo semestre de 2018 e o primeiro de 2019.

Os números atingiram Macri em cheio, em um momento de plena campanha presidencial. "Infelizmente reflete a situação em que vivemos e, apesar de doer, devemos olhar para frente", disse.

Emergência alimentar

Bar de Buenos Aires esvaziado após dono abandoná-lo em meio à crise econômica na Argentina — Foto: Natacha Pisarenko/AP Photo

A Argentina está sob emergência alimentar desde setembro, quando o Congresso aprovou um projeto de lei que permite alocação de mais recursos aos programas sociais. A proposta prevê um aumento de 50% nos valores para programas de assistência alimentar, equivalente a cerca de 8 bilhões de pesos (cerca de R$ 547 milhões).

A decisão foi tomada após grande pressão dos argentinos, que tomaram as ruas em frente ao Congresso em Buenos Aires pela falta de comida nos restaurantes populares. Esses estabelecimentos não conseguiam mais atender a crescente demanda – sobretudo com os aumentos dos preços dos alimentos nos supermercados.

Escândalos de corrupção

Cristina Kirchner no segundo dia de audiências do processo por corrupção que enfrenta — Foto: Juan Mabromata/ AFP

Pesa contra o candidato Alberto Fernández a nomeação da ex-presidente Cristina Kirchner como vice da chapa, ré em processos de corrupção relacionados inclusive ao período em que ela ocupou a presidência argentina, entre 2007 e 2015.

Kirchner responde pela acusação de firmar contratos irregulares enquanto esteve à frente da Casa Rosada. Em outro processo, relacionado ao escândalo conhecido como "cadernos K", a ex-presidente é investigada por chefiar um esquema de propinas.

Argentinos manifestam a favor de Mauricio Macri em protesto em Córdoba, na Argentina, na quinta-feira (24) — Foto: Nicolás Aguilera/AP Photo

Em recente protesto, manifestantes criaram um boneco inflável que representa Kirchner – de maneira semelhante à figura do Pixuleco, que representava o ex-presidente Lula nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

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