Por G1


Cientista Vanessa Hayes conversa com caçadores do grupo Juǀ’hoansi na Namíbia. — Foto: Divulgação/Chris Bennett/Evolving Picture

Pesquisadores da Universidade de Sydney dizem ter descoberto o berço do homem moderno no norte da Botsuana. Em estudo publicado pela "Nature" nesta segunda-feira (28), a região teria abrigado há 200 mil anos, o Homo sapiens sapiens.

Ainda de acordo com os cientistas, a região foi habitada por esta espécie de hominídeo durante 70 mil anos. À época uma savana exuberante, a área é hoje o deserto de Kalahari.

A equipe de pesquisadores baseou seu trabalho na genealogia genética, que permite rastrear os modelos de migração.

"Sabemos há algum tempo que o homem moderno apareceu na África cerca de 200.000 anos atrás. Mas até agora não sabíamos exatamente onde", declarou Vanessa Hayes, principal autora do estudo, em entrevista coletiva.

O grupo analisou 200 genomas mitocondriais, marcadores genéticos da genealogia materna, extraídos de populações que atualmente vivem na Namíbia e na África do Sul, uma região da África há muito considerada um dos berços do homem moderno.

Localização de Botsuana, na África — Foto: Arte G1

"Olhando para essa linhagem, nos perguntamos de onde essas pessoas vieram, onde elas moravam? Depois estudamos a dispersão geográfica dessa linhagem", explicou Hayes à agência AFP.

Os testes de DNA revelaram a rara presença da linhagem genética materna mais antiga, chamada "L0", que ainda é conservada nessas populações.

"Fizemos análises espaciais para voltar no tempo, porque toda vez que ocorre uma migração, ela é registrada em nosso DNA, que muda. É como um relógio da nossa história", explicou a geneticista.

'Todos éramos khoisan'

Ao comparar os genomas, os pesquisadores conseguiram isolar um ancestral comum que era um khoisan, um povo caçador-coletor que existe ainda hoje.

Segundo o estudo, todos os homens que vivem atualmente na África e fora da África compartilham o mesmo ancestral.

"Acredito que todos nós fomos khoisan em um dado momento", disse Hayes.

Esses khoinsan, que formaram a primeira comunidade humana moderna, viveram na mesma região por 70.000 anos, sem se mover. Como ter certeza disso? Porque o genoma permaneceu idêntico, sem divergência, de 200 mil anos atrás a 130 mil anos atrás.

A comunidade prosperou nessa região (tão grande quanto a Nova Zelândia), localizada ao sul do rio Zambeze, no norte do atual Botsuana. Hoje deserto, o Kalahari era na época úmido, verde e exuberante.

Análises geológicas, combinadas com modelos climáticos, mostraram que abrigava um enorme lago, duas vezes o lago Victoria, chamado Makgadikgadi, que desapareceu desde então.

Membros de comunidade de 'bosquímanos', grupos tradicionais de caçadores e coletores do Sul da África. No deserto do Kalahari já são menos de 85 mil pessoas — Foto: Siphiwe Sibeko/Reuters

Um deserto outrora fértil

O clima começou a mudar devido a uma "modificação da órbita da Terra", disse Axel Timmermann, oceanógrafo e co-autor do estudo.

O lago desapareceu, a região secou gradualmente e as populações começaram a migrar através de "corredores verdes", na direção nordeste e depois sudoeste.

Essas primeiras saídas abriram o caminho para a futura migração de homens modernos fora da África.

Mas alguns ficaram e se adaptaram à seca. Seus descendentes vivem ali e ainda são caçadores-coletores.

Por causa desse modo de vida ancestral, Hayes suspeitava que esses khoisan carregavam a linhagem antiga. Outro sinal: falam um idioma que faz algumas consoantes clicarem com a língua.

"A linguagem com clique é a mais antiga", ressalta a pesquisadora.

"Os khoisan que vivem aqui nunca deixaram a pátria ancestral. Eles sabem que sempre estiveram aqui, contam isso de geração em geração. Eu tinha que provar isso cientificamente para o resto do mundo", comemora Hayes, que levou dez anos para descobrir essa genealogia genética.

"É como olhar para uma grande árvore, na qual europeus e asiáticos seriam pequenos galhos no topo", concluiu.

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