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Bolsonaro nega que tenha agido para obstruir investigações do caso Marielle

Presidente disse que se referia aos vídeos feitos pelo filho Carlos quando afirmou ter pego as gravações da portaria do condomínio Vivendas da Barra
O presidente Jair Bolsonaro em entrevista à Record TV Foto: Reprodução / TV Globo
O presidente Jair Bolsonaro em entrevista à Record TV Foto: Reprodução / TV Globo

RIO - O presidente Jair Bolsonaro negou, na noite deste domingo, que tenha agido para obstruir as investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. No sábado, partidos de oposição ameaçaram representar contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) e na Procuradoria-Geral da República (PGR). O motivo foi a declaração do presidente de que pegou os áudios das ligações realizadas entre a portaria e as casas do condomínio Vivendas da Barra antes que, segundo ele, as gravações fossem adulteradas.

— O que eu fiz foi filmar a secretária eletrônica com a respectiva voz de quem atendeu o telefone. Só isso, mais nada. Não peguei, não fiz backup, não fiz nada. A memória da secretária eletrônica está com a Polícia Civil há muito tempo. Ninguém quer adulterar nada — afirmou.

As declarações foram dadas enquanto Bolsonaro assistia ao jogo entre Itália e Paraguai, partida válida pela última rodada da fase de grupos do Mundial Sub-17, com o estádio praticamente vazio. O estádio Bezerrão, no Gama (DF), a cerca de 40 quilômetros da região central de Brasília, é uma das sedes da competição.

Para os líderes da oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ), e no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), ao dizer no sábado que tinha pegado os áudios, o presidente "confessou ter se apropriado de provas" relacionadas ao caso Marielle.

Mais cedo, Bolsonaro já havia comentado o tema em entrevista ao "Domingo Espetacular", da Record TV. Ao explicar o que quis dizer quando afirmou ter pegado as gravações, referiu-se ao vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), também morador do condomínio. Na quarta-feira passada, Carlos divulgou dois vídeos em que mostra o conteúdo das gravações feitas pelo sistema do condomínio no dia da morte de Marielle e Anderson, 14 de março de 2018.

— Agora, também falam que estou obstruindo a Justiça. Que obstrução? Apenas eu falei com meu filho, ele foi na portaria, como qualquer um dos 150 moradores do condomínio podem fazer. Colocou a data 14 de março do ano passado, entrou nas ligações da minha casa e para a casa dele, ele botou o áudio e filmou esse áudio. Nada além disso — disse Bolsonaro.

Os vídeos feitos por Carlos foram uma resposta aos depoimentos de um porteiro noticiados pelo Jornal Nacional, da TV Globo, na última terça-feira. O profissional disse à Polícia Civil, em duas ocasiões, que o ex-Policial Militar Élcio de Queiroz, suspeito das execuções da parlamentar e do motorista, teria entrado no Vivendas horas antes do crime com a autorização da residência de Bolsonaro (ele disse ter falado com o "seu Jair" no interfone). O profissional também registrou em uma planilha de controle que Élcio teria ido à casa 58, onde vivia Bolsonaro. No entanto, uma perícia feita pelo Ministério Público do Rio nas gravações contradisse o porteiro e mostrou que o responsável por liberar a entrada de Élcio foi o sargento reformado da PM Ronnie Lessa, outro suspeito do crime e também morador do residencial.

— Caso Marielle, quero resolver também. Querer botar no meu colo, é no mínimo má fé e falta de caráter — disse Bolsonaro no estádio.

Bolsonaro assistiu à maior parte do jogo de futebol na tribuna de honra do Bezerrão da Gama e foi aplaudido por torcedores do Paraguai. Antes do fim da partida, o presidente desceu para a arquibancada para cumprimentar os torcedores paraguaios. Com capacidade para 20 mil pessoas, o estádio reuniu 824 espectadores neste domingo. O presidente deixou o estádio antes do fim do jogo. O Paraguai venceu a partida por 2 a 1. Paraguai e Itália se classificaram para as oitavas de final da competição.