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Política Brasília

Pressionado por 'dossiê' sobre produtividade, Santa Rosa pede demissão e abre descontentamento da ala militar com governo

Outros assessores também ameaçaram se demitir por causa de documento
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do general Maynard Marques de Santa Rosa Foto: Presidência da República
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do general Maynard Marques de Santa Rosa Foto: Presidência da República

BRASÍLIA —  O ministro Maynard Marques de Santa Rosa , de 72 anos, que comandava a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE), pediu demissão do governo de Jair Bolsonaro , nesta segunda-feira, após ser confrontado pelo ministro Jorge Oliveira com um dossiê que apontava falhas na gestão e produtividade, relataram ao GLOBO interlocutores do militar. Outros quatros assessores da SAE, entre os quais dois generais, um coronel e um ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência ( ABIN ) também ameaçam se demitir.

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Além da cobrança que consideram injustas, os demissionários alegam "desalinhamento conceitual" com o governo Bolsonaro. Em conversas reservadas com pessoas próximas justificaram a saída afirmando que "os interesses da pátria ficaram pequenos."

A reunião com Santa Rosa ocorreu às 10h30 no gabinete do ministro Jorge Oliveira. O general, contrariado, ainda argumentou que os dados apresentados não correspondiam à realidade, mas, por fim, decidiu entregar o seu cargo. A Secretaria-Geral da Presidência negou a existência de um dossiê e justificou que foi apresentado ao agora ex-secretário um relatório interno do próprio departamento.

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Após o pedido de demissão de Santa Rosa, Jorge Oliveira convocou uma reunião com os principais assessores da SAE para cobrar eficiência na secretaria.  De acordo com a agenda do ministro, participaram do encontro às 11h55,  o general Lauro Luís Pires da Silva, Secretário Especial adjunto de Assuntos Estratégicos da Secretaria-Geral; general Ilídio Gaspar Filho, Secretário de Ações Estratégicas;  o coronel Walter Félix Cardoso, Assessor Especial da SAE, e Wilson Roberto Trezza, Secretário de Planejamento Estratégico e ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).

Segundo relatos feitos ao GLOBO, os assessores refutaram o ministros e coletivamente também pediram demissão.  A saída deles, no entanto, não está sacramentada. Eles devem permanecer no cargo para fazer uma transição para a nova equipe.

Silêncio

Após um evento em homenagem ao Servidores da Presidência da República, o ministro-chefe da Secretaria-Geral, questionado pelo menos três vezes sobre a demissão de Santa Rosa, se negou a responder.

Já o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, ao ser perguntado sobre o motivo da saída do general do governo, disse que a questão deveria ser feita diretamente a Santa Rosa, uma vez que a exoneração se deu a pedido dele.

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General de quatro estrelas, Santa Rosa chegou ao governo Bolsonaro pelas mãos do ex-ministro Gustavo Bebianno. Na ocasião, o governo divulgava que, sob o comando de Santa Rosa, a SAE voltaria a de fato traçar  estratégias para a formulação de políticas públicas de longo prazo para a presidência da República.

O militar havia ocupado o cargo de secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa no governo Lula.  Ele deixou o cargo após, em uma entrevista ao GLOBO, em 2007, atacar a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol.

Em 2010, ele ocupava o cargo de chefe de  Departamento Geral do Pessoal do Exército, mas foi exonerado após uma carta atribuída a ele criticar a  Comissão da Verdade - criada para investigar crimes contra direitos humanos durante a ditadura (1964-1985).