Finanças
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Por Ana Carolina Neira, Lucas Hirata e Victor Rezende, Valor — São Paulo


O Banco Central anunciou nesta terça-feira à tarde mais um leilão de dólares no mercado à vista. O certame ocorreu entre 15h35 e 15h40 e teve lote mínimo de US$ 1 milhão. A data de liquidação informada pelo BC é o próxima sexta-feira, dia 29. Com a intervenção, o dólar, que chegou a bater R$ 4,2771, desacelerou. No fechamento, a moeda era cotada a R$ 4,2394, alta de 0,63%.

Ao atingir a marca de R$ 4,27 a cotação registrou uma nova máxima intradiária desde a criação do Plano Real num movimento que evidencia o momento de pressão no mercado de câmbio. O primeiro leilão do BC teve efeito limitado, ocorreu entre 11h03 e 11h08 e tem como lote mínimo US$ 1 milhão. A data de liquidação informada pelo BC é o próximo dia 29 de novembro.

De acordo com analistas, o movimento é resultado de uma série de fatores, mas foi intensificado por comentários do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre câmbio. Na segunda-feira, o ministro disse que o câmbio mais alto no país é consequência do novo regime fiscal do país.

"Quando você tem política fiscal mais forte e juro mais baixo, o câmbio de equilíbrio é mais alto", observou o ministro, que participou de evento no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. Ele disse ainda não estar "preocupado com a alta do dólar".

As falas reforçaram a percepção no mercado de que o câmbio deve ficar pressionado no curto prazo. Apesar de perspectivas positivas para a economia brasileira, a retomada da atividade ainda é incipiente, ao mesmo tempo que agenda de reformas está “congelada” e só deve ser retomada depois do Carnaval. Além disso, os dados de transações correntes, divulgados na segunda, mostram a falta de fluxo de recursos para o país.

Diante de todo um contexto que joga contra a moeda brasileira, ainda não é possível dizer que o real esteja “barato”. Essa é a avaliação de Marcos Mollica, sócio e gestor do Opportunity, que tem evitado montar posições mais robustas no mercado de câmbio desde a frustração com a participação de estrangeiros nos leilões de petróleo.

“Os dados de transações corrente foram piores do que o mercado esperava. Isso reforça a leitura de que chegou ao fim aquele período de abundância de fluxo cambial”, explica o profissional. “O balanço de pagamentos ficou muito justo. Caiu o saldo comercial, não tem entrada de portfólio e tem saída de recurso para reestruturação de dívidas das empresas”, diz.

A revisão dos dados da balança pagamentos, que mostram agora uma situação mais negativa das contas externas, começa a colocar em dúvida a percepção de que o real brasileiro se apreciará com a retomada da economia. Essa é a avaliação de Marcelo Giufrida, sócio e gestor da Garde, que vê essa preocupação refletida no novo nível do dólar.

Por que o dólar não para de subir?

Por que o dólar não para de subir?

“Temos um ciclo de juro baixo, que já tira a atividade da moeda brasileira. Mas, à medida que entramos num período de crescimento maior da economia, a expectativa é de que país atrairia capitais, voltando a fortalecer o real”, explica.

Desta vez, ao observar os dados da balança de pagamentos, “acho que essa sequência está meio em dúvida. Com 3% de déficit de conta corrente em relação ao PIB, acho que vamos crescer com o dólar ainda em nível elevado”, diz o profissional.

“Antes, acreditávamos que crescimento poderia trazer o investimento estrangeiro e traria o real para níveis mais normais. Mas, com dados de conta corrente e balanço de pagamentos, parece que esse cenário está mais difícil”, aponta Giufrida.

Bolsa

Já pressionado pelas incertezas em torno da disputa comercial, o Ibovespa intensificou suas perdas com a disparada no dólar e o desconforto dos investidores com a fala de Guedes. Às 15h56, o índice recuava 1,54%, aos 106.758 pontos. No pior momento do dia, chegou às mínimas de 106.414 pontos. Ainda que com a alta do dólar o investidor estrangeiro ganhe maior poder de compra no mercado brasileiro, o que impera no curto prazo é o nervosismo diante da incerteza.

"O mercado não entendeu muito bem o que o Paulo Guedes quis dizer com essa coisa de dólar alto por mais tempo, então os investidores vão aproveitar o dia para testar qual esse limite. Se o dólar deve ficar alto, quão alto? Até onde vai essa tolerância? Os limites são testados junto com um alto nível de incerteza, ninguém sabe como isso se encaminhará. Por isso temos essa aversão ao risco", diz Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.

A visão dos especialistas é que a reação do mercado é limitada e não altera o otimismo com os ativos brasileiros.

O que está pesando agora é o fator surpresa, afirma Priscila de Araújo, sócia da Hogan Investimentos.

"O mercado foi bastante surpreendido pelas declarações do Guedes. Nosso contexto já não é dos melhores, com guerra comercial e instabilidades na América Latina. Quando ele sinaliza que o câmbio mudou de patamar em um cenário de economia que não cresce suficientemente, em que falamos em desaceleração global e aqui não temos presença de estrangeiros, realmente isso traz um novo nível de incerteza", conta.

As ações mais líquidas do Ibovespa estão sofrendo perdas, como os bancos Bradesco (-2,32% a ON e -1,55% a PN), Banco do Brasil ON (-1,65%), Itaú Unibanco PN (-1,68%). Petrobras (-2,15% a ON e -1,55% a PN) e Vale ON (-0,18%) também ajudam a pressionar o Ibovespa.

Já as companhias aéreas lideraram as baixas da bolsa durante boa parte da manhã, incluindo Azul PN (-5,74%) e Gol PN (-4,30%), que chegou a ficar entre os cinco papéis mais negociados de todo o mercado à vista. A Gol já movimentou R$ 118,5 milhões até agora, mais do que os R$ 89,9 milhões vistos durante todo o pregão de segunda-feira.

A Azul também registra forte movimentação, um total de R$ 117,9 milhões, superando os R$ 100,4 milhões da sessão anterior.

Ambas as empresas possuem seus principais custos atrelados ao dólar, sendo muito pressionadas em episódios de forte desvalorização cambial. "Elas têm um componente em dólar que é muito forte, não conseguem ficar imunes à alta do dólar", explica Priscila de Araújo, da Hogan Investimentos.

No entanto, analisando a situação de maneira mais ampla, os impactos dessa valorização da moeda americana não será sentida de maneira idêntica dentro dos papéis que compõe o Ibovespa.

Um efeito esperado é o benefício para empresas que exportam sua produção, como Klabin, Suzano, Vale, Petrobras, JBS, Marfrig e BRF. Estas últimas, porém, também refletem momentos bastante específicos de seus mercados de atuação.

Priscila de Araújo explica que, de fato, a mineradora e a petroleira poderiam ser bastante beneficiadas pela alta da moeda, uma vez que exportam parte daquilo que produzem e isso geraria bons lucros para as empresas. No entanto, diante dos impasses provocados pela guerra comercial, as companhias não conseguem surfar essa onda completamente.

"Temos dois vetores em sentidos opostos: por um lado, o câmbio apreciado ajuda empresas que exportam, como Vale e Petrobras, mas com o risco de desaceleração global e os efeitos da disputa comercial ainda presentes, todos os ativos ligados à commodities são impactados de maneira negativa. Então eles ganham por um lado, mas perdem pelo outro", explica.

O sócio da Improve Investimentos, Luiz Mariano de Rosa, ainda aponta, entre as prejudicadas, Petrobras (por ter dívida em dólar e estar diretamente implicada à volatilidade dos preços do petróleo) e também Eletrobras (-1,46% a ON e -1,39% a PNB) e Sabesp ON (-2,89%).

"A Sabesp é uma das empresas com maior exposição da dívida em dólar dentre aquelas que fazem parte do setor de utilities, algo que só deve melhorar quando ele for privatizada", diz Rosa.

Juros

O salto do dólar também promoveu um avanço expressivo das taxas de juros futuras. A fala de Guedes incorporou prêmio de risco aos juros futuros, principalmente nos trechos curtos e intermediários da curva a termo, que deixou de precificar novos cortes na Selic em 2020. Os rumos da inflação continuaram a ser observados pelos agentes, sobretudo após novos indícios de aumento nos preços no curto prazo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 subia de 4,65% no ajuste de segunda, para 4,78%; a do DI para janeiro de 2022 saltava de 5,37% para 5,50%; a do contrato para janeiro de 2023 avançava de 5,94% para 6,03% e a do DI para janeiro de 2025 passava de 6,54% para 6,62%. No mesmo horário, o dólar era cotado a R$ 4,2660 (+1,26%).

“O BC atua no câmbio em casos de disfuncionalidade e, também, para reduzir a volatilidade. A depreciação de hoje do real é maior do que a de outros mercados emergentes”, diz a economista-chefe da BNP Paribas Asset Management, Tatiana Pinheiro.

Para ela, contudo, apesar do dólar mais alto, as expectativas de inflação continuam ancoradas, e, por isso, o BC não deve mudar sua forma de atuar na política monetária, ao menos por enquanto.

De acordo com Tatiana, um corte de 50 pontos-base na Selic continua sobre a mesa. A BNP Asset tem como cenário base duas novas reduções de 25 pontos-base no juro básico em 2020, o que levaria a Selic a 4% no primeiro trimestre. Esse cenário continua em vigor, mas a economista alerta que “há riscos” para ele se concretizar.

“O patamar do câmbio está mais elevado do que esteve ao longo deste ano, temos os choques nos preços das carnes e temos de observar, ainda, o quanto de repasse para outras categorias pode haver”, afirma a economista.

É pensando no real mais depreciado que a Azimut Brasil Wealth Management defende que a Selic ficará inalterada em 4,50% ao longo do próximo ano. Economista-chefe da gestora, Helena Veronese nota que o mercado, hoje, se ajusta a um novo nível de política monetária e, por isso, parou de precificar mais cortes na Selic em 2020, “depois de ter exagerado”.

Ela lembra que, até semana passada, a curva futura indicava reduções adicionais nos juros no próximo ano, o que mudou.

Para o fim deste ano, a curva a termo precifica um corte de 40 pontos-base na Selic, enquanto na primeira reunião de 2020 há alta de apenas 1 ponto-base. Já na segunda reunião de política monetária do próximo ano, em março, a curva indica alta de 2,5 pontos-base, com mais altas sucessivas ao longo de 2020.

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