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Economia

Em reunião com Bolsonaro, Huawei promete acelerar construção da rede 5G no Brasil

Empresa, que está no centro da guerra comercial EUA-China, quer facilitar crédito a teles para compra de equipamentos
O presidente Jair Bolsonaro com o CEO da Huawei para a América Latina, Zou Zhilei (à esquerda), e o presidente da Huawei do Brasil, Yao Wei (à direita) Foto: Marcos Correa/PR
O presidente Jair Bolsonaro com o CEO da Huawei para a América Latina, Zou Zhilei (à esquerda), e o presidente da Huawei do Brasil, Yao Wei (à direita) Foto: Marcos Correa/PR

RIO E BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro recebeu ontem o CEO da Huawei para a América Latina, Zou Zhilei, e o presidente da Huawei do Brasil , Yao Wei. A companhia chinesa, no epicentro da guerra comercial entre Washington e Pequim, fez uma apresentação sobre seu interesse em participar da construção da rede da quinta geração de internet móvel , o 5G, no país. Segundo fontes, a companhia ressaltou que pode acelerar a construção da rede no Brasil com acordos de financiamento a teles brasileiras para aquisição de tecnologia e equipamentos.

— Ele apenas mostrou que quer o 5G no Brasil. Não mostrou a proposta, ele mostrou apenas como está a empresa dele no Brasil — disse Bolsonaro, que negou que o tema do leilão de 5G tenha sido discutido: — Leilão eu não ouvi na reunião. Se falou, eu estava desatento.

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Bolsonaro afirmou que a decisão sobre o leilão será feita com base nas melhores ofertas e na conectividade:

— Estou sabendo que tem uma firma sul-coreana também está em condições de operar 5G. A melhor oferta, né? A gente vai levar para o lado do quê? Oferta e conectividade. É isso aí.

Segundo fontes a par das discussões, a Huawei pediu ao governo que as empresas de telecomunicações no Brasil sejam livres para escolher seus fornecedores de rede quando a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) marcar o leilão de 5G, o que deve ocorrer no segundo semestre de 2020.

— A mensagem que a companhia passou (no encontro) é que o mercado deve definir sozinho seus fornecedores para o 5G. E mostrou que pode trabalhar em conjunto com bancos estatais da China para conseguir financiamentos para as teles para a compra de equipamentos e tecnologia — disse uma fonte.

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Do lado dos chineses, a avaliação é que o governo já indicou, ainda que de forma informal, que não deve interferir.

A aproximação entre os dois governos começou com a visita do vice-presidente, Hamilton Mourão, à China em maio. Em outubro, Bolsonaro também esteve na China. Semana passada, o presidente chinês, Xi Jinping, esteve em Brasília.

Foram debatidos vários temas nos dois encontros, entre eles investimentos das estatais chinesas em infraestrutura no Brasil, como no setor de petróleo, na energia elétrica e nas telecomunicações.

Na reunião desta segunda-feira, a Huawei voltou a apresentar seu plano de investimento de US$ 800 milhões no estado de São Paulo, que inclui a construção de uma nova fábrica no país.

Hoje, a gigante de tecnologia é fornecedora das principais teles no país, como Oi, Vivo, TIM e Claro. Além disso, a chinesa é uma das principais empresas que fornecem infraestrutura para os pequenos provedores de internet no Brasil.

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Há 20 anos no país, a Huawei não participa diretamente dos leilões de frequência. Seu objetivo é atuar como fornecedora de rede para as teles que vencerem a disputa.

O governo brasileiro adota atitude cautelosa ao falar sobre a companhia, pois ela está no centro da guerra comercial entre EUA e China. A Huawei é acusada pelo governo americano de espionagem, a mando de Pequim.

Diante das restrições impostas pelo governo de Donald Trump, a chinesa lançou na semana passada um novo smartphone dobrável sem o sistema operacional do Google, empresa americana que é um dos ícones de sucesso da área de tecnologia no país.

A audiência dos dirigentes da Huawei com Bolsonaro e parte de sua equipe, incluindo o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ocorreu poucos dias depois da reunião de cúpula dos líderes do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

* Eliane Oliveira