Publicidade

Iraque

Decisão do Iraque de expulsar americanos é vitória do Irã

O Parlamento do Iraque aprovou resolução para a remoção das tropas dos EUA do território iraquiano. São 5 mil militares. Esta decisão é um duro revés para Trump e o primeiro efeito negativo após o ataque contra o líder militar iraniano, Qassem Soleimani. Além disso, é uma vitória estratégica para o Irã.

O objetivo de Soleimani nos últimos meses vinha sendo canalizar o sentimento nacionalista do Iraque contra os americanos para que as tropas fossem expulsas. Pode conseguir mesmo após a sua morte. Foram 170 votos a favor e nenhum contra no Parlamento, embora boa parte dos 329 membros não tenham votado. Ainda assim, é a maioria e certamente uma parcela dos ausentes também se posicionaria a favor.

Manifestante carrega cartaz com fotos de Soleimani e comandante Abu Mahdi al-Muhandis

O Parlamento do Iraque reflete as divisões religiosas deste país, onde os xiitas são majoritários, com minoria sunita tanto árabe quanto curda. O principal partido tem como líder Moqtada al-Sadr, que talvez seja a figura mais popular do país na atualidade. Na Guerra do Iraque, sua milícia chegou a ser vista como a maior adversária americana. Xiita e historicamente próximo ao Irã, se distanciou do regime de Teerã ao adotar uma agenda nacionalista iraquiana nos últimos anos, mantendo sua postura anti-EUA.  O segundo maior bloco é comandado por Hadi al-Amiri, que assumiu o comando da aliança de milícias xiitas pró-Irã no lugar do antigo líder, morto no ataque contra Suleimani. Esta agremiação, obviamente, tem proximidade ao regime de Teerã e inimigos dos americanos.

Os EUA devem tentar convencer os iraquianos a revogarem esta decisão. O premier Adil Abdul-Mahdi ainda precisa referendar a aprovação no Parlamento. Não está claro, porém, se o primeiro-ministro poderá decidir porque está no cargo interinamente, desde que anunciou sua renúncia em meio a protestos populares. Tampouco, no texto da resolução, está determinada uma data para a retirada. Independentemente destes pontos, o sinal simbólico está claro — as forças americanas não são mais bem-vindas.

Caso a expulsão americana realmente se concretize, o Irã naturalmente preencherá o espaço em uma vitória geopolítica. Ainda assim, o regime de Teerã terá problemas, já que o nacionalismo iraquiano também se volta contra os iranianos. Mas a Guarda Revolucionária possui aliados fortes nas milícias xiitas iraquianas.A presença dos 5 mil militares é fundamental para a segurança dos interesses americanos no país e também na região, incluindo o combate ao terrorismo do Estado Islâmico. Há um risco claro de o grupo terrorista se reerguer, ainda que enfrente resistência do Irã e das milícias xiitas, além dos guerreiros peshmergas curdos. A ajuda americana era fundamental. Sem falar na humilhação de Washington de levar adiante uma guerra que custou trilhões de dólares e milhares de vidas americanas para ver seu maior adversário sair vencedor. 

 

Leia também