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Cultura

Análise: Em ano cheio de filmes para o streaming, Globo de Ouro reafirma a força do cinema

'1917' e 'Era uma vez em... Hollywood' foram os grandes vitoriosos da noite. Na TV, ‘Succession’, ‘Fleabag’ e ‘Chernobyl’ se destacaram
Com um Globo de Ouro na mão, o diretor britânico Sam Mendes celebra ao lado da equipe a dupla vitória de “1917”, que venceu os principais prêmios da noite, direção e filme de drama, desbancando Scorsese e seu “O irlandês” Foto: HANDOUT / REUTERS
Com um Globo de Ouro na mão, o diretor britânico Sam Mendes celebra ao lado da equipe a dupla vitória de “1917”, que venceu os principais prêmios da noite, direção e filme de drama, desbancando Scorsese e seu “O irlandês” Foto: HANDOUT / REUTERS

RIO - De um lado, um filme que explora ao máximo a linguagem cinematográfica. Do outro, uma homenagem aos bastidores de Hollywood. Em um ano dominado por indicações de filmes feitos para o streaming, a 77ª edição do Globo de Ouro preferiu consagrar produções que pensam no cinema à moda antiga: “1917” , um épico da Primeira Guerra Mundial que simula um plano-sequência, foi a surpresa da noite, levando o prêmio de melhor filme de drama e melhor direção, para Sam Mendes. O outro grande vencedor foi “Era uma vez em... Hollywood” , de Quentin Tarantino, que faturou os troféus de melhor filme de comédia ou musical, melhor roteiro e melhor ator coadjuvante, para Brad Pitt.

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Apontada antes como possível grande vitoriosa da noite, a Netflix quase saiu de mãos abanando: sua principal aposta da temporada, “O irlandês” , de Martin Scorsese, ficou sem nenhum prêmio, assim como “Dois papas” , dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. O prêmio de consolação foi o de Laura Dern, vencedora de melhor atriz coadjuvante por “História de um casamento”.

“Era uma vez em... Hollywood” levou prêmios de melhor comédia, roteiro e ator coadjuvante, para Brad Pitt Foto: HANDOUT / REUTERS
“Era uma vez em... Hollywood” levou prêmios de melhor comédia, roteiro e ator coadjuvante, para Brad Pitt Foto: HANDOUT / REUTERS

Diante do resultado, fica ainda maior a dúvida de como a Academia irá se comportar nesta temporada. Antes de tudo, é preciso ter em mente que o Globo de Ouro não é um termômetro tão eficiente assim para prever o Oscar: a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA), que organiza a premiação, tem entre votantes jornalistas estrangeiros que cobrem cinema e TV, um grupo completamente distinto e em número muito menor do que os integrantes da Academia, que inclui diretores, atores e produtores, entre outros profissionais do cinema.

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E no ano passado, vale lembrar, tanto a Academia e o Globo de Ouro não hesitaram em dar o prêmio de direção a "Roma", obra de Alfonso Cuarón que também fruto é do streaming, embora a estatueta de melhor filme tenha ficado com "Bohemian Rhapsody".

Na TV, a gigante do streaming também ficou de fora. “Fleabag”, da Amazon, confirmou o favoritismo e levou o prêmio de melhor série de comédia e melhor atriz, para sua criadora e protagonista, Phoebe Waller-Bridge. A HBO comemorou vitórias na era pós “Game of thrones”: “Succession” foi a melhor série de drama e faturou o troféu de melhor ator em série dramática (Brian Cox).

Produzida também pela HBO, em parceria com o canal britânico Sky, a minissérie “Chernobyl” confirmou o favoritismo. A produção sobre o acidente nuclear soviético ganhou na categoria, e Stellan Skarsgård venceu como melhor ator coadjuvante.

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Derrota da diversidade

Duramente criticada pela falta de representatividade, a HFPA encerrou a noite sem premiar nenhum talento negro. Numa premiação amplamente branca, as poucas exceções foram de “Parasita”, filme sul-coreano vencedor na categoria de filme estrangeiro, e a rapper Awkwafina , melhor atriz pela comédia “A despedida”.

Não ajudou em nada a escolha de Ricky Gervais como apresentador. Logo no começo, o comediante britânico, conhecido pelo humor orgulhosamente ofensivo, pesou o clima da noite ao fazer piadas que envolviam de pedofilia a suicídio e debochavam da falta de mulheres na direção. O constrangimento foi geral.

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Gervais, no entanto, terminou a noite como um desconforto a ser ignorado: apesar de ter pedido aos astros que parassem de falar de política pois tinham estudado menos do que Greta Thunberg, ele teve que aguentar Patricia Arquette discursando contra uma eventual guerra no Irã e até um desajeitado apelo de Joaquin Phoenix para que as estrelas parassem de andar de jatinhos particulares. No fim, o que sobressaiu foi Sam Mendes no palco, pedindo que as pessoas assistam a “1917” nos cinemas, da forma como o filme foi pensado para ser visto. A produção estreia no Brasil no dia 23.