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EUA devem adotar outras medidas de apoio ao Brasil para afastar críticas

Segundo fonte do Itamaraty, ideia é se contrapor às acusações de que alinhamento a Trump só é benéfica ao lado americano
O presidente dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, em visita do brasileiro a Washington em março de 2019 Foto: JIM WATSON / AFP 19-3-19
O presidente dos EUA, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, em visita do brasileiro a Washington em março de 2019 Foto: JIM WATSON / AFP 19-3-19

BRASÍLIA- A escolha do Brasil , pelos Estados Unidos, para ter prioridade na próxima rodada de expansão da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) faz parte de um conjunto de medidas a serem adotadas pelo governo americano para se contrapor às críticas de que o alinhamento entre Brasília e Washington é prejudicial ao lado brasileiro.

Nas últimas semanas, o governo de Donald Trump emitiu algumas sinalizações importantes ao governo brasileiro, segundo uma fonte do Itamaraty. Entre elas, estão o apoio a uma eventual candidatura do Brasil a parceiro global da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), fim do embargo à carne bovina in natura ainda este ano e uma atenção maior às negociações para um acordo bilateral de livre comércio.

Ao mesmo tempo, os EUA querem que o Brasil mantenha seus compromissos e seu voto favorável aos americanos nos fóruns internacionais. Por exemplo, o governo brasileiro abriu mão do tratamento especial dado a nações em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC) em troca do apoio à candidatura à OCDE.

Além disso, o Brasil rompeu uma tradição de quase 30 anos e se colocou a favor do embargo a Cuba e, mais recentemente, ao lado de Washington no assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, chefe da Força Quds da Guarda Revolucionária.

Não há decisão em Brasília quanto à possibilidade de se tornar um parceiro global da Otan, embora o assunto esteja em análise. Porém, a Casa Branca deixou claro que, se houver interesse, o Brasil poderá contar com os EUA.

No caso da carne bovina in natura, o Brasil havia começado a vender o produto ao mercado americano no início de 2017, após mais de 15 anos de negociação. Porém, as autoridades daquele país suspenderam as importações, alegando questões sanitárias, em meados daquele ano. A sinalização dos EUA é que o embargo poderá ser levantado ainda neste semestre. A ordem dada pelo governo americano foi para que as autoridades sanitárias daquele país acelerassem a elaboração do relatório final. Técnicos do Ministério da Agricultura garantem que os problemas apontados pelos americanos já foram resolvidos.

Existe uma projeção conservadora de que as exportações de carne bovina fresca para os EUA rendam US$ 100 milhões em exportações. O valor é considerado pequeno, mas o que importa é entrar no mercado americano, pois isso aumentaria a credibilidade do produto brasileiro junto a outros parceiros internacionais.

Quanto à OCDE, o governo brasileiro não acredita que os europeus vão atrapalhar a candidatura do país. No entanto, avalia que eles vão exigir que um país da Europa — provavelmente a Romênia, que pede para entrar na OCDE há cerca de 20 anos — inicie o processo de adesão junto com o Brasil.

Como os EUA defendem o início imediato dos trâmites de ingresso do Brasil, é possível que o início do processo de adesão brasileira se dê em maio deste ano, quando haverá uma reunião ministerial da OCDE. A expectativa é que ele esteja concluído até o fim do mandato de Bolsonaro, em 2022. Em nota divulgada ontem, o Itamaraty enfatizou que a decisão dos EUA poderá facilitar o processo de expansão da OCDE.

‘Bastante adiantados’

Mais cedo, ao sair do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que a notícia foi “muito bem-vinda”. Em outubro do passado, Washington dera prioridade às candidaturas de Argentina e Romênia.

— São mais de cem requisitos para você ser aceito, estamos bastante adiantados, inclusive na frente da Argentina. E as vantagens para o Brasil são muitas. Equivale ao nosso país entrar na primeira divisão — disse ele.

O chanceler Ernesto Araújo disse que o governo brasileiro está no caminho certo para tornar o Brasil uma “grande nação”.