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Cultura

Por que Bolsonaro quer Regina Duarte na Cultura?

Amiga da primeira-dama Michelle Bolsonaro, atriz participou ativamente da campanha do presidente, quando o chamou de 'homem doce'; neste sábado, fez post com elogio ao governo
Jair Bolsonaro e Regina Duarte em foto postado no Twitter dele Foto: reprodução
Jair Bolsonaro e Regina Duarte em foto postado no Twitter dele Foto: reprodução

RIO - Convidada pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir o lugar de Roberto Alvim , demitido da secretaria da Cultura nesta sexta-feira (17) após copiar frases de um discurso nazista em um pronunciamento oficial, a atriz Regina Duarte é conhecida por defender o governo. É também amiga da primeira-dama Michelle Bolsonaro e conselheira do Pátria Voluntária, programa de Michelle que incentiva a prática do voluntariado.

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A atuação de Regina em defesa do atual governo começou ainda na campanha eleitoral. Durante uma manifestação pró-Bolsonaro na Avenida Paulista, em outubro de 2018, ela chegou a discursar no carro de som. Perguntada sobre seu apoio ao candidato, disse: "Estou de corpo, alma e de espírito". Na ocasião, ela afirmou estar ali "para falar de esperança, porque agora eu tenho um soldado, um cidadão do bem para combater a impunidade". Também contou que foi a deputada bolsonarista Carla Zambelli, líder do movimento Nas Ruas, quem a aproximou de Bolsonaro. "Foi o anjo da guarda que me levou até o capitão", disse.

Regina Duarte em manifestação pró-Bolsonaro em 2018 Foto: reprodução
Regina Duarte em manifestação pró-Bolsonaro em 2018 Foto: reprodução

Na mesma época, em outubro de 2018, a atriz definiu o político, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", como “um cara doce, um homem dos anos 50, um jeito masculino, machão”. Disse ainda que a "homofobia de Bolsonaro é da boca para fora". Também o visitou e posou para foto, postada por ele no Twitter. Esta foi a primeira imagem dos dois juntos, mas antes disso, Regina já demonstrava seu apoio a ele em suas redes sociais. Por ali, ela também deixa claro estar alinhada com pensamentos conservadores. "Peço desculpas, mas tenho sexo, não tenho gênero", é o título de um vídeo postado em seu Instagram.

Post de Regina Duarte no Instagram Foto: reprodução
Post de Regina Duarte no Instagram Foto: reprodução

Em maio de 2019, durante o "Programa do Bial", a atriz fez uma comparação sobre a sua situação atual com 2002, quando, em uma peça da campanha eleitoral presidencial daquele ano, provocou polêmica ao dizer que "tinha medo do PT" antes da eleição de Lula. “Em 2002 fui chamada da terrorista e hoje sou chamada de fascista, olha que intolerância?”, questionou na TV.

Atualmente, a atriz não parece nem um pouco arrependida do apoio que deu a Bolsonaro. Em outubro de 2019, fez um post no Instagram pelos 10 meses de governo. "Em meio a tanto revezes ( sic )... parabéns, equipe". Neste sábado (18), ela deu uma pista de que pode estar perto de aceitar o convite para assumir a secretaria da Cultura ao repostar a mesma imagem com o seguinte texto: "Nunca é demais lembrar o tanto de respeito que esse governo tem pelo seu povo".

Post de Regina Duarte no Instagram neste sábado (18) Foto: Reprodução
Post de Regina Duarte no Instagram neste sábado (18) Foto: Reprodução

O presidente Bolsonaro telefonou para Regina e fez o convite. Segundo o governo, ela ficou de responder nos próximos dias. A jornalista Natuza Nery informou em seu blog no G1 que a atriz conversará com o presidente nesta segunda-feira (20), e teria pedido para o encontro ser "olho no olho".

Se ela não topar a empreitada, o secretário do Audiovisual, André Sturm, é o favorito para assumir o cargo. Um pastor — cujo nome não foi revelado — também estaria cotado. Até a definição do novo secretário, assume interinamente José Paulo Soares Martins. Atual secretário-adjunto da Cultura, ele já havia chefiado a pasta após a exoneração de Henrique Pires, em agosto do ano passado.

Regina não é a primeira atriz a ser convidada para ocupar o comando da Cultura no governo federal. Fernanda Montenegro foi convidada duas vezes, nos governos Sarney (1985) e Itamar Franco (1992), para ser ministra. Recusou os dois convites. Michel Temer convidou Marília Gabriela para ser secretária da Cultura (2016), que também recusou.

Neste sábado, no Rio de Janeiro, um encontro reuniu a classe artística para discutir os rumos da Cultura no país. O debate foi organizado pelo produtor Eduardo Barata, da Associação de Produtores Teatrais do Rio de Janeiro. Mas agentes do setor já reagem à indicação. A produtora cultural Paula Lavigne disse ao jornal "O Estado de São Paulo" que Regina pode ajudar no caos da Cultura: "É de direita, mas não é nazista", afirmou Paula.

E agora? Após a demissão de Roberto Alvim, como fica a guerra cultural no governo Bolsonaro?