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Entenda: Admissão na OCDE envolve apoio político, cumprimento de regras e paciência

Organização exige que candidato respeite uma série de mecanismos para, só então, negociar entrada no grupo hoje formado por 36 nações
Chefe da OCDE, José Ángel Gurría (esq.) conversa com o diretor-gerente interino do FMI, David Lipton. Organização enfrenta disputas internas sobre formato de expansão Foto: HANNIBAL HANSCHKE / AFP
Chefe da OCDE, José Ángel Gurría (esq.) conversa com o diretor-gerente interino do FMI, David Lipton. Organização enfrenta disputas internas sobre formato de expansão Foto: HANNIBAL HANSCHKE / AFP

RIO — A admissão de novos países na OCDE é um processo que envolve aspectos econômicos, sociais e, especialmente, políticos, e que não segue uma periodicidade. Desde sua fundação, as novas adesões ocorreram em blocos ou de forma individual.

A organização é uma herdeira direta da chamada Organização de Cooperação Econômica Europeia ( OCEE ), fundada em 1947 para ajudar na alocação dos recursos para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial. Originalmente eram 16 países, todos europeus, aos quais mais tarde se uniram Alemanha Ocidental, em 1949, e Espanha, em 1958.

Desse grupo surgiu, em 1961, a Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE ), tendo como norte o incentivo ao desenvolvimento econômico, à democracia e à economia de mercado, em meio ao tenso ambiente da Guerra Fria. Foi neste ano que ocorreu o maior número de adesões: 19, incluindo os integrantes da OCEE, menos a Itália, que entraria no ano seguinte, Estados Unidos e Canadá.

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Regras e compromissos

Para que um país seja integrante da OCDE, ele precisa obedecer algumas exigências da organização, incluindo regras para o desenvolvimento de ambiente propício a uma economia de mercado, transparência no sistema fiscal e financeiro, comprometimento com regras internacionais de combate à corrupção e com os princípios estabelecidos de governança. Ao todo, são 249 “instrumentos legais” exigidos, e o Brasil cumpriu pelo menos 30% deles .

Uma vez que a OCDE considerar que todos os requisitos foram atendidos e se houver apoio político dos demais membros, serão iniciadas as conversas para a adesão posterior, um processo que pode se estender por vários anos e precisa vencer eventuais resistências dos países a uma expansão.

Diferenças e prazos

Apesar do apoio expresso dos EUA durante a reunião ministerial da OCDE, em maio, a Brasil, Argentina e Romênia , algo visto como porta de entrada para a organização, nesta quinta-feira apenas os dois últimos países apareceram na carta do Departamento de Estado como receptores do endosso de Washington. Isso, contudo, não significa que o processo de adesão deles tenha sido iniciado.

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Pouco antes da reunião em Paris e do aval americano, o diretor-geral da Organização, José Ángel Gurría fez circular, segundo o Valor , a ideia de dar início aos processos de Argentina e Romênia antes do Brasil, o chamado “Plano Gurría”. No caso da Argentina, segundo avaliação do governo brasileiro e analistas, o motivo seria a pressa diante do quadro eleitoral, com a possibilidade de vitória dos kirchneristas, o que poderia colocar entraves à adesão.

Outro ponto, segundo o Valor , seria um critério de proporcionalidade de novos membros não europeus: eles exigem que, a cada país de fora do continente, seja admitida uma nação da Europa. Neste caso, a Romênia é vista como a principal candidata, à frente de Bulgária e Croácia, por, na avaliação da OCDE , ter avançado mais nos compromissos.

Com isso, o Brasil ficaria para um segundo momento, o que não significa necessariamente que tenha sido preterido pela organização ou mesmo que uma eventual adesão ocorra antes de romenos e argentinos.

Alguns processos também podem demorar mais do que os outros. Israel entrou com o pedido de adesão em 2003, finalizando o processo em setembro de 2010. A Eslovênia, por outro lado, deu os primeiros passos em 1996, se juntando à organização apenas em julho de 2010. A Costa Rica está em negociações desde 2015.

Outro ponto é que não existe uma periodicidade definida para a expansão da OCDE. Um exemplo é o espaço de tempo de 21 anos entre a adesão da Nova Zelândia, em 1973, e do México, em 1994. A última grande expansão ocorreu em 2010, quando quatro países foram admitidos. Depois deles vieram a Letônia, em 2016, e a Lituânia, em 2018.