Com Onyx enfraquecido, mudanças na Casa Civil são prenúncio de minirreforma ministerial

Com demissões de Vicente Santini e Fernando Moura, órgão está enfraquecido após ofensiva de ministros de fora do Planalto contra o titular da pasta

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Por Julia Lindner e Tania Monteiro
Atualização:

BRASÍLIA - As mudanças anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro na Casa Civil são vistas por integrantes do Palácio do Planalto como um prenúncio de uma minirreforma ministerial.

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Segundo fontes do Planalto, há uma ofensiva interna capitaneada pela ala militar, mas com apoio de ministros de fora do palácio, contra o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que se intensificou após ele entrar em férias. Dois de seus principais auxiliares foram demitidos durante a sua ausência: Vicente Santini, que fez "voo particular" com avião da Força Aérea Brasileira (FAB), e Fernando Moura, que ficou apenas um dia como interino. Com as mudanças, a Casa Civil está por ora sem comando. 

Oficialmente, o ministro volta ao trabalho na próxima segunda, 3. Uma saída estudada seria transferi-lo para um ministério da área social, retirando ele do Palácio do Planalto, onde despacha o chefe da Casa Civil, assim como o presidente.

O ministroda Casa Civil, Civil Onyx Lorenzoni, em seu gabinete de trabalho durante a entrevista ao 'Estado' Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

A ofensiva contra Onyx também teria outro foco, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que vem acumulando desgastes recentes depois da identificação de erros graves no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Abraham e o irmão, Arthur, que é assessor especial da Presidência, foram apresentados ao presidente justamente por Onyx.

O MEC apresenta problemas desde o início da gestão Bolsonaro. Abraham não é o primeiro ministro a assumir a pasta. O antecessor, Ricardo Vélez Rodríguez, foi demitido após gestão marcada por controvérsias e recuos

Nesta quinta-feira, 30, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou Weintraub e também o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. "Quanto ao Salles, eu acredito que ele radicalizou no ano passado, mas é um ministro que tem qualidade. Já o ministro da Educação atrapalha o Brasil, tem visão ideológica e brinca com o futuro de milhões de crianças", disse Maia.

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, no jardim do Palácio da Alvorada Foto: GABRIELA BILO / ESTADÃO

Na semana passada, Bolsonaro deu indícios de que pensa em mudanças nos ministérios. Durante conversa com jornalistas, o presidente afirmou que se arrepende de não ter dado status de ministério à Secretaria da Pesca.

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"A Secretaria da Pesca, por exemplo, eu confesso a você que, se fosse hoje, eu deixaria Ministério, porque o Brasil é um mar nessa área, é um dos países que mais têm água do mundo. Até pela característica, pelo empenho do Jorge Seif Jr., que se dedica de corpo e alma à sua função, merecia isso para lhe dar um status maior para melhor divulgar, difundir e estimular a pesca, a aquicultura no Brasil", disse na ocasião.

Bolsonaro também chegou a dizer que estuda a possibilidade de recriar o Ministério da Segurança Pública, atualmente sob o comando de Sérgio Moro, mas recuou após repercussão negativa de que a medida enfraqueceria o superministro.

"Ministro-zumbi"

Com a transferência do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) para o Ministério da Economia, o presidente Jair Bolsonaro deixou a Casa Civil totalmente esvaziada. No Palácio do Planalto, a avaliação é de que a pasta se tornou "obsoleta" após sucessivas mudanças em sua estruturação.

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Um dos primeiros apoiadores de Bolsonaro no período pré-eleitoral, Onyx Lorenzoni foi o responsável por coordenar a transição do governo no final de 2018. Depois, na Casa Civil, acumulava a articulação política e a Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ), por onde passam as principais decisões do governo.

Na metade do ano passado, Bolsonaro decidiu fazer uma reestruturação e tirou a articulação de Onyx, que passou para a Secretaria de Governo, sob o comando de Luiz Eduardo Ramos. A SAJ, por sua vez, acabou transferida para a Secretaria-Geral da Presidência, com Jorge Oliveira. Considerado um "prêmio de consolação", Onyx ganhou o Programa de Parceria e Investimentos. Agora, ele acaba de perder o PPI para a Economia.

O general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, pilotando sua moto Harley Davidson após despachar com o presidente da República, Jair Bolsonaro, no Palacio da Alvorada. Foto: Dida Sampaio / Estadão

Além disso, o ministro da Casa Civil teria, em teoria, a missão de coordenar a atuação de todas as pastas da Esplanada, mas há reclamações nos bastidores de que isso não vem ocorrendo. Um sinal de que Bolsonaro não está satisfeito com o trabalho foi o fato de ter passado a coordenação do Conselho da Amazônia, anunciado no início deste ano, para o vice-presidente, Hamilton Mourão.

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