Entidades divulgaram notas de repúdio aos ataques feitos nesta terça-feira (11) à jornalista Patricia Campos Mello, do jornal "Folha de S.Paulo", durante a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso Nacional que apura a disseminação de conteúdo falso na internet, a CPI das Fake News.
Nas notas, as entidades disseram que os ataques à jornalista têm caráter "misógino, violento e sexista" e contribuem para a "perseguição a jornalistas e descredibilização da profissão".
Durante a sessão, Hans River do Nascimento, convocado a prestar esclarecimentos à CPI, disse que a jornalista "se insinuou" para ele para tentar obter informações sobre disparos de mensagens.
Após o depoimento, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, afirmou em uma rede social que, segundo Nascimento, a jornalista havia oferecido "sexo em troca de informações". Depois, no plenário da Câmara, Eduardo Bolsonaro disse ainda que o objetivo da jornalista era ter acesso ao computador portátil de Hans River do Nascimento.
Reação das entidades
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que a jornalista da "Folha" foi alvo de "ofensas machistas e misóginas". Acrescentou ainda que Eduardo Bolsonaro difamou Patrícia Campos Mello e que a jornalista foi alvo de assédio.
"A Abraji repudia a ação do deputado, que repercutiu para milhões de seguidores alegações difamatórias. É assustador que um agente público use seu canal de comunicação para atacar jornalistas cujas reportagens trazem informações que o desagradam, sobretudo apelando ao machismo e à misoginia. Além disso, esta é mais uma ocasião em que integrantes da família Bolsonaro, em lugar de oferecer explicações à sociedade, tentam desacreditar o trabalho da imprensa", afirmou a entidade.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), por sua vez, afirmou que as declarações sobre Patrícia Campos Mello são um ataque com caráter "misógino, violento e sexista".
Para a Fenaj, Eduardo Bolsonaro e Hans River do Nascimento "contribuem para a perseguição a jornalistas e descredibilização da profissão".
"As declarações difamatórias foram desmentidas por reportagem da Folha, que disponibilizou provas, como gravações dos contatos e trocas de mensagens de Patrícia com Hans durante a apuração da matéria. A FENAJ e o SJSP repudiam as condutas do depoente e do parlamentar, entendendo que contribuem para a perseguição a jornalistas e descredibilização da profissão, reflexos dos ataques deliberados e estimulados pelo governo", declarou a entidade. A nota também é assinada pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também afirmou "repudiar com veemência" os ataques à jornalista.
"A grosseria de que foi alvo a jornalista Patrícia Campos Melo está relacionada com dois fenômenos: os contínuos ataques à imprensa e aos jornalistas em geral, e à multiplicação de comportamentos cafajestes. Esses dois fenômenos têm sido estimulados por algumas das mais altas autoridades da República", declarou o vice-presidente da ABI, Cid Benjamin.
Em nota, o Observatório da Liberdade de Imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) manifestou "irrestrito apoio" à jornalista, alvo de "ataques e insinuações agressivas" na CPI das Fake News.
"O uso de difamação para afetar a imagem de uma profissional de comunicação que incomoda justamente por sua competência merece repúdio das instituições que prezam a liberdade de expressão e de informação", afirmou o observatório.
'Baixaria'
Na tarde desta quarta-feira (12), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em uma rede social, sem citar nomes, que mentir em depoimento a uma CPI é crime e que atacar a imprensa com acusações falsas e de caráter sexual é "baixaria".
"Dar falso testemunho numa comissão do Congresso é crime. Atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria com características de difamação. Falso testemunho, difamação e sexismo têm de ser punidos no rigor da lei", publicou Maia.