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Fortalecimento de militares cria contraponto à agenda liberal de Guedes

Historicamente, núcleo fardado tende ao nacionalismo e ao aumento de gastos, mesmo em tempos de dinheiro curto

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Brasília

Entre algumas cotoveladas, Paulo Guedes conseguiu provar sua influência durante o ano inaugural de Jair Bolsonaro. O ministro contornou resistências políticas dentro do governo e dobrou até o próprio presidente para emplacar uma agenda amarga de ajustes nas contas públicas.

A ampliação da presença de militares em postos-chave do Palácio do Planalto deve lançar o chefe da equipe econômica numa nova competição. Ao cercar Bolsonaro, a ala fardada reforça também sua participação em decisões políticas que envolvem diretamente a pauta de Guedes.

Os representantes das Forças Armadas com assento no governo não chegam a discordar da cartilha liberal do ministro da Economia. Determinadas posições, no entanto, produzem pontos de atrito com alguns desses planos.

Jair Bolsonaro ao lado do vice presidente general Hamilton Mourão e de comandantes das forças armadas durante cerimônia da troca da guarda do Palácio do Planalto
Jair Bolsonaro ao lado do vice presidente general Hamilton Mourão e de comandantes das forças armadas durante cerimônia da troca da guarda do Palácio do Planalto - Pedro Ladeira - 28.nov.2019/Folhapress

Partiram da ala militar, por exemplo, sinais de resistência que levaram Bolsonaro a hesitar no envio da reforma administrativa ao Congresso, ainda no ano passado.

O núcleo de inteligência do governo, dominado pela caserna, foi o responsável por levar ao presidente o alerta de que a proposta poderia ser o estopim de protestos como os que ocorriam no Chile naquela época.

A consolidação do grupo fardado no entorno de Bolsonaro cria um contraponto relevante nas discussões que ocorrem no centro do poder. O presidente ouvirá com cada vez mais peso vozes que tendem, em certas ocasiões, a se opor aos dogmas do ministro da Economia.

Confirmada a nomeação do general Walter Braga Netto para a chefia da Casa Civil, agora serão quatro os militares instalados em gabinetes que ficam a apenas alguns passos da cadeira presidencial.

A importância que Bolsonaro dá aos assuntos do grupo verde-oliva é evidente, ainda que eles se choquem com o rigor fiscal de Guedes. O governo, por exemplo, aumentou os investimentos no Ministério da Defesa num ano de penúria orçamentária e entregou uma reforma da Previdência que acabou favorecendo os militares.

Alguns integrantes da equipe econômica enxergam ainda, no núcleo fardado, os genes nacionalistas que marcaram a carreira política de Bolsonaro antes de sua conversão relâmpago ao liberalismo na eleição de 2018.

Seria exagero, entretanto, dizer que os ministros militares vão necessariamente torpedear a tentativa de Guedes de reduzir a participação do Estado na economia. Um almirante, afinal, vem tocando o processo de privatização da Eletrobras no Ministério de Minas e Energia —sob resistência do Congresso, e não das Forças Armadas.

Em governos passados, era comum a disputa entre a ala política e a equipe econômica pela chave do cofre da União. O primeiro time queria ampliar despesas para atender aliados e ampliar a popularidade do presidente, enquanto o segundo fazia questão de bloquear esses avanços para cumprir suas metas.

Guedes escapou de parte desses conflitos. Primeiro, obteve o status de superministro da área econômica, eliminando outras pastas que poderiam se tornar vozes dissonantes nessa disputa.

Depois, construiu uma aliança direta com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), reduzindo a necessidade de participação política do Palácio do Planalto nas negociações para a aprovação de suas reformas.

Fiador da agenda econômica do governo, Guedes teve relativa liberdade para executar esse trabalho ao longo do ano passado. Mas, como em qualquer relação de poder, o fortalecimento de um novo grupo pode acabar fechando espaços para outros.

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