Rio

Bolsonaro diz que mandou condecorar Adriano em 2005 e afirma que, na época, o miliciano era um 'herói'

Pela primeira vez presidente fala sobre o caso do ex-capitão do Bope e afirma que a responsabilidade pela morte foi a PM da Bahia, estado governado pelo PT
Bolsonaro participa de inauguração da alça viária da Ponte Rio-Niterói Foto: Clauber Cleber Caetano/PR
Bolsonaro participa de inauguração da alça viária da Ponte Rio-Niterói Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

RIO E BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro comentou pela primeira vez, na tarde deste sábado, a morte do miliciano Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) do Rio, morto durante uma operação da Polícia Militar da Bahia no último domingo. Ele falou sobre o caso na inauguração de uma alça viária que liga a Ponte Rio-Niteroi à Linha Vermelha, na Zona Portuária do Rio. O miliciano  foi condecorado, em 2005, por um dos filhos do presidente, o então deputado estadual Flávio Bolsonaro, atualmente senador. Naquela ocasião, segundo disse Bolsonaro no Rio neste fim de semana, ele próprio pediu que Flávio homenageasse Adriano na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

- Para que não haja dúvida. Eu determinei. Manda pra cima de mim. Meu filho condecorou centenas de policiais militares. Vocês querem me associar a alguém por uma fotografia, uma moção há 15 anos atrás. As pessoas mudam, para o bem ou para o mal mudam. Não estou fazendo juízo de valor. Vamos esperar as investigações. Se bem que se for o padrão do porteiro da minha casa... - disse Bolsonaro, criticando as investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco.

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O presidente também disse que a responsabilidade pela morte de Adriano era da Polícia Militar (PM) da Bahia.

- Quem é responsável pela morte do capitão Adriano? A PM da Bahia, do PT. Precisa falar mais alguma coisa? - disse ele, ao ser perguntado se estava acompanhando as investigações do caso.

Presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa durante a inauguração da alça da Ponte Rio-Niterói Foto: Carolina Antunes/PR
Presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa durante a inauguração da alça da Ponte Rio-Niterói Foto: Carolina Antunes/PR

Indagado ainda se atribuía a morte a uma questão política, Bolsonaro se esquivou e voltou a dizer que quem matou Adriano foi a PM da Bahia. Em seguida, ele comentou as condecorações feitas por seu filho ao miliciano, chamado por ele de "herói".

- Ele foi condenado em primeira instância e absolvido em segunda - disse Bolsonaro,  referindo-se a um processo no qual Adriano foi acusado de matar um guardador de carros. - Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando o capitão Adriano por nada. Sem querer defendê-lo. Desconheço a vida pregressa dele. Naquele ano (2005), era herói da Polícia Militar. Como é muito comum, um PM quando está em operação mata vagabundo, traficante - disse Bolsonaro.

Ao ser questionado sobre a ligação de Adriano com a milícia no Rio, ele afirmou desconhecer o grupo paramilitar.

- Eu não conheço a milícia no Rio de Janeiro. Desconheço. Não existe nenhuma ligação minha com a milícia do Rio de Janeiro - afirmou.

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A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, e a ex-mulher dele, Danielle Mendonça, já trabalharam no gabinete de Flávio na Alerj. No mesmo evento na Zona Portuária do Rio, o senador também comentou a homenagem que prestou ao ex-capitão do Bope no passado.

- Eu, como deputado estadual, homenageei centenas e centenas de policiais militares que venciam a morte todos os dias. E vou continuar defendendo. Não adianta querer me vincular à milicia porque não tem absolutamente nada com a milícia. Condecorei o Adriano há mais de 15 anos - disse o filho do presidente. - A revista "Veja" desta semana dá a informação de que queriam cremar o corpo dele. Fiz questão de ir para as redes sociais e pedir que não fizessem. Porque, pelo que eu soube, pelo que está na revista, ele foi torturado - completou.

Rui Costa diz que 'o Governo da Bahia não presta homenagens a bandidos'

Pelas redes sociais, o governador da Bahia, Rui Costa, disse que "o Governo do Estado da Bahia não mantém laços de amizade nem presta homenagens a bandidos nem procurados pela Justiça. A Bahia luta contra e não vai tolerar nunca milícias nem bandidagem".

"Na Bahia, trabalhamos duro para prevalecer a Lei e o Estado de Direito. Na Bahia, a determinação é cumprir ordem judicial e prender os criminosos com vida. Mas se estes atiram contra pais e mães de família que representam a sociedade, os mesmos têm o direito de salvar suas próprias vidas, mesmo que os MARGINAIS mantenham laços de amizade com a Presidência da República", escreveu.

Rui Costa disse que Governo da Bahia não mantém laços de amizade com bandidos Foto: Reprodução/Instagram
Rui Costa disse que Governo da Bahia não mantém laços de amizade com bandidos Foto: Reprodução/Instagram

Em resposta ao governador da Bahia, o presidente disse, por meio de nota, que a Polícia Militar da Bahia "não procurou preservar a vida de um foragido, e, sim, sua provável execução sumária, como apontam peritos consultados pela revista Veja".

"A atuação da PMBA, sob tutela do governador do Estado, não procurou preservar a vida de um foragido, e sim sua provável execução sumária, como apontam peritos consultados pela revista Veja. É um caso semelhante à queima de arquivo do ex-prefeito Celso Daniel, onde seu partido, o PT, nunca se preocupou em elucidá-lo, muito pelo contrário", disse o presidente.

No texto, Bolsonaro acirrou mais a briga política e disse que "o atual governador da Bahia, Rui Costa, não só mantém fortíssimos laços de amizade com bandidos condenados em segunda instância, como também lhes presta homenagens, fato constatado pela sua visita ao presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, em Curitiba, em 27 junho de 2019".

O presidente finaliza a nota dizendo que brasileiros aguardam a elucidação de crimes como o de Marielle e Anderson Gomes, de Adriano da Nóbrega.

Bolsonaro voltou a Brasília neste sábado depois de agenda no Rio. Ele chegou no início da noite. Antes de entrar no Palácio do Alvorada, ele ficou quase 40 minutos dentro do carro na portaria. Ao sair, ele disse que estava elaborando a nota. Não quis falar com a imprensa. Apenas cumprimentou apoiadores.

Gleisi Hoffmann responde declaração de presidente

A presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), reagiu às declarações de  Bolsonaro, que atribuiu à "PM da Bahia, do PT"  a morte do ex-capitão do Bope do Rio.

— Não tentem jogar seus problemas no colo do PT. Quem tem amizade com miliciano é Bolsonaro, não o PT — afirmou Gleisi ao GLOBO.

Segundo ela, não foi o PT que condecorou o miliciano e empregou a mulher e a mãe dele.

— Não é ao PT que interessa silenciar um testemunha das ligações da família Bolsonaro com as milícias — disse ela, acrescentando ainda que qualquer conduta errada deve ser punida. — O governo da Bahia certamente vai apurar essa morte com rigor e transparência, punindo qualquer conduta errada que vier a ser comprovada.

Ainda de acordo com Gleisi, é Bolsonaro quem tem de explicar "suas ligações com Adriano, Fabrício Queiroz e os assassinos de Marielle e Anderson".