PUBLICIDADE

Informe sobre 138 casos de coronavírus revela detalhes preocupantes

Estudo é um dos mais extensos publicados sobre pessoas infectadas pelo novo coronavírus e mostra casos de pacientes com diagnóticos tardios e 'super hospedeiros' capazes de contagiar dezenas de pessoas

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Um paciente admitido em um hospital de Wuhan, na China, infectou pelo menos 10 funcionários do hospital e quatro pacientes com o coronavírus, que já contagiou mais de 34 mil pessoas, com mais de 720 mortes.

O caso é mais um detalhe preocupante citado em um novo estudo sobre 138 pacientes em Wuhan que ajuda a explicar como a doença progride e como ela se propaga.

China registrou mais de 400 mortes por coronavírus Foto: Reuters

PUBLICIDADE

O estudo, um dos dois publicados na sexta-feira pelo Journal of the American Medical Association (JAMA), é um dos mais extensos até agora sobre as pessoas infectadas com o vírus.

Os pacientes, entre 22 a 92 anos, com uma idade média de 56 anos, foram admitidos no hospital Zhongnan, da Universidade de Wuhan, em 1º de janeiro a 28 de janeiro e incluíram 17 pessoas internadas por outras enfermidades, e 40 atendentes do hospital.

Este paciente havia sido colocado em uma ala cirúrgica por problemas abdominais e não despertava suspeita de coronavírus. Outros quatro também naquela ala contraíram a doença, provavelmente por contágio.

O incidente é um lembrete assustador do hospedeiro “super contagiante” visto em epidemias de outras doenças por coronavírus, como a SARS e MERS – ou seja, pacientes que infectam um grande número de outras pessoas – às vezes dezenas. O fenômeno não é ainda bem entendido e é imprevisível. Esses hospedeiros super-contagiantes provocaram uma transmissão considerável da SARS e MERS dentro dos hospitais.

Os autores do estudo publicado pelo jornal médico afirmaram que os dados que tinham em mãos sugeriam que um rápido contágio de pessoa para pessoa ocorreu em vários casos. O contágio se deve em parte como no caso do paciente admitido para uma cirurgia, cujos sintomas levaram os médicos e suspeitar de outra enfermidade, e tomaram as precauções para evitar uma propagação do vírus quando já era muito tarde.

Publicidade

Cerca de 10% dos pacientes não apresentam de início os sintomas habituais, como tosse e febre, mas outros como diarreia e náusea. Outros sintomas incomuns incluem dor de cabeça, vertigem e dores abdominais.

Outra causa preocupante é de que alguns pacientes no início parecem moderadamente doentes e o seu estado piora dias ou mesmo uma semana depois. O tempo médio para os primeiros sintomas surgirem, quando então surge a dificuldade de respirar, é de cinco dias, para hospitalização sete dias e no caso de problemas para respirar, oito dias. Especialistas afirmam que esse padrão indica que os pacientes precisam ser cuidadosamente monitorados e não é seguro supor que uma pessoa que parece bem no início está livre do vírus.

A conclusão é um “alerta” para os médicos ficarem de olho nesses pacientes, afirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, em uma entrevista publicada pelo JAMA.

Como estudos anteriores sobre pacientes infectados com o coronavírus, este último conclui que pessoas mais velhas com problemas de saúde como diabetes, doenças cardíacas ou câncer são afetadas de modo mais grave do que pessoas mais jovens e mais saudáveis.

No total, cerca de 26% dos 138 pacientes necessitaram de tratamento intensivo e sua idade média era de 66 anos, comparado com a média de 51 anos no caso dos enfermos que não precisaram de cuidados intensivos.

Para esta série de pacientes, o índice de mortalidade foi 4,3%, mais alto do que estimativas vindas de outras partes da China. A razão não é conhecida e os números podem mudar à medida que mais informações são reunidas.

Ao contrário de estudos anteriores, este não indica que muito mais homens do que mulheres são infectados; 54% são homens.

Publicidade

Os dados sobre os pacientes mostram que a doença causou pneumonia e uma infecção viral sistêmica que desencadeou uma fortíssima resposta inflamatória no corpo, afirmou William Schaffner, especialista em doenças infecciosas na Vanderbilt University, em uma entrevista.

“Existem indicadores bioquímicos de que vários sistemas do corpo humano são afetados e que há uma resposta inflamatória que altera em parte a sua função”, disse ele.

Os pulmões, o coração, fígado e rins e sistemas que controlam a coagulação do sangue são todos afetados, disse Schaffner. Mas não está claro que o próprio vírus infecte outros órgãos além dos pulmões.

A reação inflamatória é marca característica de uma grave doença viral, disse ele, acrescentando que, nos últimos anos, já ficou aparente que uma inflamação acentuada decorrente de doenças como uma gripe pode persistir durante um mês ou mais, depois que a fase aguda da doença passou, e pode aumentar o risco de ataques cardíacos e derrames em pessoas mais idosas.

O segundo informe do JAMA diz respeito a 13 pacientes tratados em três hospitais em Pequim de 16 a 29 de janeiro. Eram pessoas mais jovens do que o grupo de Wuhan, com idade média de 34 anos e sem nenhuma doença latente. Somente um paciente tinha mais de 50 anos. O mais jovem era um bebê de dois anos. Eles não ficaram tão doentes como os pacientes em Wuhan, e nenhum deles morreu.

Os casos, especialmente em jovens saudáveis, devem dissipar a ideia de que somente pessoas mais velhas contraem a doença.

“O vírus pode atacar uma pessoa jovem e saudável e fazer com que ela adoeça. Isto está claro de acordo com os atendentes de hospitais e as pessoas jovens citados nesse documento”, disse o médico./ Tradução de Terezinha Martino

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.