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Secretário do Tesouro diz que não é normal um País como o Brasil crescer 1% ao ano

Mansueto Almeida afirmou que não dorme tranquilo e que o PIB de 2019 causa frustração; comentário contraria fala do ministro Paulo Guedes, que disse que o resultado era o esperado pelo governo

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Por Amanda Pupo (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA - O Secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou nesta quinta-feira, 5, que o País está passando por “enormes dificuldades” e disse não ser “normal” que uma nação como o Brasil cresça 1% ao ano. O resultado do PIB de 2019, divulgado na quarta-feira, apontou que a economia brasileira cresceu apenas 1,1%

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“Estou muito preocupado, não durmo tranquilo, não é normal um País como o Brasil crescer 1% ao ano, claramente causa frustração em vários segmentos da sociedade”, disse Mansueto durante abertura do Fórum Consad, em Brasília. 

Na quarta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o resultado do PIB era esperado pelo governo, e que não havia entendido a “comoção” com os números. "Estou surpreso com a surpresa que vocês estão tendo”, disse à imprensa ao fim de cerimônia no Palácio do Planalto

O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil 27/2/2020

A declaração de Mansueto foi dada em um momento em que o secretário frisava ser importante chegar a um consenso sobre o que o Brasil precisa fazer para ter um crescimento maior, através de debate e transparência. “Ninguém é obrigado a concordar com tudo que é feito, mas o bom debate político é sentar à mesa e discutir”, disse Mansueto. Segundo ele, ninguém defende medidas como o aumento de impostos e da complexidade do sistema tributário, por exemplo.

O secretário também citou o comentário feito pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre o PIB, quando ressaltou a importância da participação do Estado no desenvolvimento do País. Para ele, o que Maia quis dizer é que preciso criar espaço nas contas públicas para aumentar investimento público.

“Todo mundo quer ajuste fiscal para aumentar investimento público. Investimento público no Brasil é muito baixo”, disse, frisando a importância das reformas.

Ele afirmou que o motor do crescimento brasileiro é o setor privado. “Um país que tem alta carga tributária como o Brasil, normalmente tem investimento público muito maior que o nosso. Naturalmente, com ajuste fiscal, é para controlar despesa corrente para o governo recuperar capacidade de investir. Mas o motor é o investimento privado”, frisou.

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Ainda na quarta, ao explicar a declaração, Maia disse ao Estadão/Broadcast que defende as reformas para que o Estado brasileiro tenha como abrir capacidade de investimento.

O secretário não quis dar previsão de crescimento do PIB para esse ano, explicando que, se falasse em algum número, seria um “mero chute”. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem dito ser possível crescer acima de 2%, com o avanço nas reformas.

Ele negou que o resultado do quarto trimestre - que mostrou uma queda no investimento e uma alta no consumo do governo -, indique uma reversão da tendência de crescimento puxado pelo privado. 

“No fim do ano teve dados muito contraditórios, mas se a gente olha o ano, é basicamente o que já vinha falando, o crescimento está sendo puxado pelo setor privado, ano passado o investimento já cresceu em relação ao ano anterior. Tem só que consolidar isso num ritmo mais acelerado”, disse.

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Mansueto afirmou que o Brasil tem feito conquistas importantes e que a situação do País melhorou muito. Para avançar, ele ponderou que é preciso ter “calma e transparência” e aprofundar o debate político, respeitando divergências.

O secretário também rejeitou a ideia de que o Congresso estaria atrasando o andamento das reformas. “Não está atrasando, está debatendo, está no seu timing”, disse, emendando ser importante que o governo estabeleça um diálogo cada vez mais transparente com o Parlamento e com a população sobre as escolhas que estão sendo feitas. “Temos que ter esforço maior para tornar mais claro para a população quais são as escolhas que estamos fazendo.”

Mansueto acredita que o Congresso está aberto ao debate e que há um ambiente muito mais favorável para discussões. Como exemplo, citou o projeto de independência do Banco Central. “Nem todo mundo precisava concordar com independência do Banco Central, mas hoje se pode debater”, disse, destacando que não via isso há muito tempo.

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Sem previsão de novos bloqueios

Perguntando ainda se um novo bloqueio de recursos estaria em estudo, Mansueto respondeu que não, e explicou que o governo ainda não definiu novas estimativas de crescimento. “Uma vez que a gente tiver os novos parâmetros de crescimento de PIB, inflação, preço de petróleo, isso é enviado a Receita que faz a projeção, e aí tem que ver o efeito nisso tudo”, disse. 

O secretário também mostrou preocupação com o desaquecimento global da economia e os efeitos para o Brasil. "Eu durmo preocupado, entre outras coisas, por não saber como vai acontecer com o crescimento do mundo. A gente sabe o que é a China crescendo 6%, 7% ao ano. Não sabemos o que é a China crescendo 3% ao ano. O que vai acontecer com o mundo num cenário de crescimento baixo, num cenário em que você ainda está numa fase de recuperação, assusta", disse, lembrando que isso tem impacto para o Brasil.

Ontem, ao falar sobre o cenário global, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o País não é “uma folha ao vento do comércio internacional”, e que o Brasil está "fora de fase" com os países que veem seu crescimento ser reduzido. "Agora o mundo começou a desacelerar e nós estamos reacelarando, estamos fora de fase com eles", disse Guedes.

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