RIO — José Mojica Marins , o nosso querido Zé do Caixão , pode ser visto como uma vítima do complexo de vira-lata da definição criada por Nelson Rodrigues para ilustrar o complexo de inferioridade que cerca o que é brasileiro.
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Os filmes de Mojica foram catalogados durante longo tempo, inclusive por especialistas, como toscos e de mau gosto, e o governo militar não via com bons olhos o personagem Zé do Caixão, que era ateu e zombava das instituições. Foi necessária a aclamação das cabeças pensantes do cinema europeu e, principalmente, americano para que a genialidade de Mojica fosse reconhecida — e foi, mundialmente.
Desde seu primeiro trabalho de destaque, a obra-prima “À meia-noite levarei sua alma” (1964), Mojica demonstrou fazer um cinema de terror eminentemente nacional, que falava sobre o Brasil, mas com linguagem universal.
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Era também um cinema de resistência, que, por meio de alegorias visuais e narrativas, fazia comentários sobre a política e sobre nosso cotidiano — incluindo o que existia de nefasto por trás do vistoso discurso patriota da época. Nosso maior cineasta, o baiano Glauber Rocha, foi o primeiro a dizer que Mojica era um gênio. Glauber percebeu a riqueza do discurso que estava nas entrelinhas daquelas produções de baixíssimo orçamento.
Ao mesmo tempo, Mojica era popular, lotava as salas de cinema e provocava o que os grandes filmes de terror devem provocar: desconforto, envolvendo medo, repulsa ou risos nervosos.
José Mojica Marins foi importante para a criação do cinema marginal, deixou um legado e influências viscerais. Com sua fatídica saída de cena, um pedaço do cinema brasileiro morre junto.