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Política Brasília

Para desidratar discurso de Bolsonaro, Congresso avalia abrir mão de controle de R$ 19 bilhões

Nas conversas da cúpula do Legislativo, a fala do presidente foi classificada como chantagem explícita
Declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o Orçamento foram dadas nos Estados Unidos Foto: Alan Santos / Pfresidência
Declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o Orçamento foram dadas nos Estados Unidos Foto: Alan Santos / Pfresidência

BRASÍLIA — Depois de o presidente Jair Bolsonaro pressionar o Congresso a desistir de controlar uma fatia do Orçamento de 2020, a cúpula do Legislativo avalia a possibilidade de abrir mão do projeto de lei que deixaria R$ 19 bilhões sob a tutela de deputados e senadores.

Em reuniões que entraram a madrugada desta terça-feira, o comando do Parlamento se debruçou sobre duas possibilidades: a de colocar o projeto em banho-maria por tempo indeterminado e a de simplesmente rejeitar a proposta. A avaliação é a de que o Congresso tem de fazer movimentos que desidratem a narrativa de Bolsonaro e, neste cenário, o recuo é considerada a melhor estratégia.

Nesta segunda, Bolsonaro chegou a insinuar que, caso o Congresso desista do controle de parte do Orçamento, as manifestações contrárias ao Parlamento, que o próprio presidente já endossou , perderiam força. Nesta terça, a Comissão Mista de Orçamento adiou votação dos projetos que repartem verbas do Orçamento.

— O que a população quer, que está em discussão lá em Brasília, não quer que o Parlamento seja o dono do destino de R$ 15 bilhões do Orçamento. É isso que está em jogo no momento. Acredito ainda que, até o dia 15, os presidentes da Câmara e do Senado anunciem algo no tocante a dizer que não aceitam isso — disse Bolsonaro, vinculando o tema aos protestos:

— Se a proposta chamada PLN4 tiver dúvida no tocante a ficar com eles, para que venham destinar os recursos para onde eles acharem melhor, e não o Executivo, acredito que eles possam botar até um ponto final na manifestação, não um ponto final, porque ela vai haver de qualquer jeito, no meu entender, mas para mostrar que estamos sim afinados no interesse do povo brasileiro.

Nas conversas da cúpula do Legislativo, a fala de Bolsonaro foi classificada como chantagem explícita. Políticos que participaram do encontro dizem que, em meio ao risco de uma recessão mundial, o Congresso pode acabar sendo responsabilizado pela crise econômica no Brasil.

Segundo essa análise, se os parlamentares ficarem com os R$ 19 bilhões, o presidente daria mais força ao discurso de que, no momento em a economia do país não vai bem, deputados e senadores tiram recursos do governo e travam o avanço do país.

A tese de abrir mão do montante do Orçamento ainda não é unânime. Na Câmara, parte dos líderes vai insistir que a Casa cumpra o que foi acordado com o Palácio do Planalto e aprove o projeto ainda nesta terça. No Senado, no entanto, tem se consolidado a avaliação de que não cabe ao Parlamento a execução dos recursos. Há um movimento, inclusive, para tentar derrubar a proposta já na Comissão Mista de Orçamento (CMO).