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Brasil

Ritmo de mortes no Brasil por Covid-19 segue trilha de países onde vírus matou mais do que na China

Após escalada rápida, número de vítimas fatais dá leve sinal de desaceleração
Coveiros usam roupas de proteção em cemitério de São Paulo Foto: Amanda Perobelli/Reuters / Amanda Perobelli/Reuters
Coveiros usam roupas de proteção em cemitério de São Paulo Foto: Amanda Perobelli/Reuters / Amanda Perobelli/Reuters

SÃO PAULO - Passado um mês da primeira morte por Covid-19 registrada no Brasil, o país já tem 1.924 óbitos pela doença, segundo o boletim do Ministerio da Saúde, divulgado nesta quinta-feira. Após escalada rápida nas duas primeiras semanas, o ritmo das mortes dá leve sinal de desaceleração agora, mas segue a mesma trilha de alguns países onde o vírus já matou mais do que na China.

Bélgica, Alemanha, Holanda e Irã experimentaram um aumento acentuado, por volta de 30% ao dia, nas duas primeiras semanas em que começaram a registrar mortes pela doença, e agora reduziram o ritmo para uma média mais próxima dos 20%, ou abaixo. Todas essas nações já contabilizam mais de 3.300 mortes, nível em que os chineses conseguiram estabilizar sua crise.

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O que preocupa a leitura da tendência para o Brasil é que não há ainda testagem de todos os casos suspeitos, o que implica em tamanho subestimado da epidemia. Países que com a Covid-19 incorporada há mais tempo, como o Reino Unido, tinham número de mortes na mesma ordem de grandeza do Brasil no primeiro mês a partir do primeiro registro de óbito. Em duas semanas, os britânicos saltaram de 2.300 para 13.600 mortes.

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É difícil dizer se esse é o destino do país, mas poucos especialistas acreditam que o Brasil possa frear a epidemia com menos mortos do que a China registra agora.

— É muito provável que a gente vá atingir as 3 mil mortes, porque a epidemia no Brasil ainda está na ascendente — afirma Aluísio Dornellas de Barros, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas que integra um projeto nacional para avaliar a real incidência da Covid-19 no Brasil.

A despeito de uma curva aparentemente em desaceleração, ele pondera que o problema com testagens no Brasil ainda compromete avaliar a situação.

— Esses números todos são muito difíceis de interpretar, porque dependem de quantos testes são feitos, dependem do momento em que você está na epidemia — diz Barros.

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Como o Brasil testa poucos casos suspeitos de Covid-19, em comparação com outros países, estima-se que haja grande subnotificação. Estudos já estimaram que o número real de infectados seja 12 a 15 vezes maior. Para as mortes, porém, a disparidade não deve ser tão grande, porque os casos graves que resultam em óbito têm uma probabilidade maior de terem sido testados.

— A taxa de morte entre os diagnosticados, que não é mesma coisa que a taxa de letalidade da doença, varia um pouco de um país para país, mas que está na ordem de 1% a 5% — explica Barros. — As taxas de letalidade, o número de mortos dividido pelo número total de pessoas que você estima que foram infectadas, são baixíssimas, entre 0,1% e 0,5%.

Com um vírus que infecta uma parcela substancial da população, porém, esses números mais baixos não chegam a ser um alento.