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Política Romário

Coaf vê indícios de lavagem de dinheiro em movimentações financeiras de Romário

Relatório aponta que senador e pré-candidato ao governo do Rio usou conta da irmã
Romario, no plenário do Senado Federal Foto: Jorge William / Agência O Globo
Romario, no plenário do Senado Federal Foto: Jorge William / Agência O Globo

RIO —  O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do Ministério da Fazenda, encontrou indícios de lavagem de dinheiro em operações bancárias envolvendo o senador Romário (Podemos-RJ), pré-candidato ao governo do Rio. Um relatório, do dia 2 de maio, indica que ele administra uma conta em nome da irmã, Zoraidi de Souza Faria, com o “intuito de ocultar” a sua própria movimentação financeira. O senador tem uma procuração, entregue por Zoraidi, que dá a ele poderes específicos sobre recursos depositados no Banco do Brasil. Segundo o Coaf, o fluxo financeiro da conta é “incompatível com a capacidade financeira” da irmã de Romário.

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Revelada por O GLOBO em fevereiro, a conta de Zoraidi foi aberta em uma agência no Congresso Nacional, em Brasília, onde Romário exerce mandato parlamentar desde 2011 — primeiro na Câmara e depois no Senado. Já a sua irmã vive em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio. Com rendimento anual declarado de apenas R$ 8 mil, Zoraidi recebeu na sua conta, segundo o Coaf, R$ 8 milhões, entre agosto de 2016 e abril de 2017. Já as saídas da mesma conta totalizaram R$ 7,5 milhões no mesmo período.

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“A movimentação financeira apresenta-se incompatível com a capacidade financeira da cliente (Zoraidi), mesmo considerando a renda de seu procurador (Romário); aparenta pertencer ao procurador e irmão da cliente e nos leva a crer que o mesmo utilize a conta da irmã com o intuito de ocultar sua movimentação. Comunicamos por não encontrar fundamentos econômicos ou legais para a movimentação financeira, podendo configurar a existência de indícios do crime de lavagem de dinheiro”, diz o relatório do Coaf.

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Do valor total que entrou na conta de Zoraidi no período analisado, R$ 6 milhões vieram da RSF, uma empresa com as iniciais do nome do senador, cujos sócios no papel são a mãe e o pai dele. É por meio desta empresa que Romário recebeu valores devidos pelo Flamengo — o acerto foi feito por um acordo judicial. Outros R$ 2 milhões rastreados no Banco do Brasil vieram de uma transferência feita pelo próprio Romário de uma outra conta sua na Caixa Econômica Federal.

As despesas identificadas também ligam a conta de Zoraidi ao senador. Para a advogada Adriana Sorrentino, foram repassados R$ 1,3 milhão entre 2016 e 2017. Em fevereiro, ela disse ao GLOBO ter vendido a Romário — por R$ 6,4 milhões — uma casa em um condomínio de luxo na Barra, Zona Oeste do Rio. O senador já negou ser proprietário do imóvel, que teve cotas do IPTU pagas por meio da conta de Zoraidi no Banco do Brasil.

Relatório da Coaf Foto: Reprodução
Relatório da Coaf Foto: Reprodução

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OUTROS PAGAMENTOS RELACIONADOS AO SENADOR

Outro que recebeu recursos da conta em nome da irmã foi o escritório do advogado Norval Valério, que já representou Romário em diversos processos (R$ 408 mil). Já o advogado Marcello Santoro, ex-cunhado de Romário, a quem representou em ações na Justiça, recebeu depósito de R$ 300 mil. Uma pesquisa feita em sites de tribunais não identificou processos em que Zoraidi seja defendida por estes advogados. Há também um pagamento de R$ 82 mil a Marcius Ney de Oliveira Fernandes, assessor parlamentar de Romário, lotado em um escritório de apoio no Rio.

O senador tem dívidas milionárias com credores já reconhecidas judicialmente. A Justiça, no entanto, tem dificuldades de encontrar valores e bens em nome de Romário, em função das movimentações financeiras por contas que não pertencem oficialmente a ele e pelo registro de imóveis e carros em nome de familiares, como Zoraidi e a mãe.

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Outros documentos obtidos por O GLOBO mostram transações que podem ter sido feitas com o objetivo de dar lastro financeiro a Zoraidi e uma aparência de normalidade às movimentações milionárias na conta no Banco do Brasil. Entre 2015 e 2016, ela assinou contratos de empréstimos que chegaram a R$ 10 milhões. Em abril de 2015, foi firmado um acordo com Romário, no valor de R$ 4 milhões. No ano seguinte, assinou outro contato, este com a RSF, no valor de R$ 6 milhões.

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Por lei, o Coaf é obrigado a avisar as autoridades responsáveis por investigações quando encontrar indícios de lavagem de dinheiro em movimentações financeiras.

O senador Romário e Zoraidi receberam na segunda-feira, por e-mail, uma série de questionamentos, mas não responderam até o fechamento desta edição. Por telefone, o parlamentar foi avisado, via assessoria de imprensa, sobre o envio das questões. A irmã do senador também recebeu as perguntas por WhatsApp, mas não respondeu. Tampouco atendeu o telefone.