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EUA atualizam para 49 número de crianças brasileiras em abrigos no país

Informação inicial era de que oito menores haviam sido separados dos país
Pai e filho hondurenhos são abordados pela Patrulha Fronteiriça dos EUA perto de Mission, no Texas Foto: JOHN MOORE / AFP
Pai e filho hondurenhos são abordados pela Patrulha Fronteiriça dos EUA perto de Mission, no Texas Foto: JOHN MOORE / AFP

O total de crianças brasileiras em abrigos nos EUA é pelo menos seis vezes maior do que o que se pensava: ao todo, são 49 filhos separados dos pais ao ingressarem ilegalmente no país segundo dados do governo americano. A informação é do cônsul-geral adjunto do Brasil em Houston, Felipe Santarosa, que concedeu entrevista exclusiva à Empresa Brasil de Comunicação (EBC) nesta quarta-feira. Inicialmente, o governo brasileiro tinha conhecimento de apenas oito casos de crianças brasileiras em abrigos, informação repassada pelos próprios parentes a serviços de apoio a brasileiros no exterior. Nesta quarta-feira, mais uma criança na mesma situação foi localizada.

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Segundo Santarosa, os novos dados foram repassados pelo governo dos EUA na semana passada, mas não há detalhes sobre a idade das crianças nem da cidade em que estão abrigadas. O comunicado do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS da sigla em inglês) informa somente o nome do abrigo, sem especificar sequer o endereço. Agora, o trabalho dos diplomatas brasileiros será pesquisar onde estão essas instituições para fazer um contato inicial.

Em nota, o Itamaraty afirmou nesta quarta-feira que governo brasileiro acompanha "com muita preocupação" o aumento de casos de menores brasileiros separados de seus pais ou responsáveis que se encontram sob custódia em abrigos nos EUA, o que configura "uma prática cruel e em clara dissonância com instrumentos internacionais de proteção aos direitos da criança".

Segundo o comunicado, o Ministério das Relações Exteriores orientou os consulados do Brasil nos EUA a reforçarem as medidas que já vêm sendo adotadas nos últimos anos para a proteção consular aos menores brasileiros, entre elas o mapeamento de todos os abrigos  no país para a identificação de novos casos. Para Santarosa, no entanto, será um trabalho difícil por falta de informações precisas.

— O problema dessa comunicação é que simplesmente apresenta uma tabela com o nome da instituição onde está o menor, não dá nem nome da criança. Eu tenho essa informação muito geral, recebida de um oficial do DHS — explicou à EBC.

Santarosa disse que a preocupação inicial é colocar as famílias em contato. O trabalho será localizar as crianças, visitá-las e verificar as condições em que estão. Depois, o intuito é estabelecer contato com as famílias. Mas o governo está de mãos atadas, explicou.

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— O governo brasileiro não tem como pedir a libertação (dos pais e das crianças que imigraram ilegalmente para os Estados Unidos). É como se você imaginasse que o governo americano chegasse no Brasil e pedisse para soltar um preso americano, não dá — afirmou na entrevista.

Santarosa ainda contou o caso de uma mãe presa que não sabia onde estavam os filhos.

— A gente entrou em contato com a mãe, informou que os filhos estavam detidos. Ela nem sabia, ela tinha sido separada deles na chegada, na fronteira. Então demos a notícia a ela de que eles estavam bem. E conseguimos fazer um telefonema (entre eles) e ficou acertado com o abrigo das crianças e a prisão da mãe de que eles se falarão uma vez por semana.

A separação de famílias na fronteira é resultado da nova política adotada pelo governo de Donald Trump. Em seis semanas, mais de 2 mil crianças foram separadas dos pais e levadas para abrigos. Pressionado, nesta quarta-feira, Trump assinou um decreto suspendendo a separação, mas não deu detalhes sobre as mudanças e ressaltou que a política de tolerância zero em relação à imigração continua. Segundo a ordem executiva, o Departamento de Segurança Interna será responsável pelos processos envolvendo famílias imigrantes, e não os Departamentos de Justiça e Saúde como determinava a política anterior.

Agente de fronteira aborda migrantes na fronteira entre EUA e México, no Texas Foto: JOHN MOORE / AFP
Agente de fronteira aborda migrantes na fronteira entre EUA e México, no Texas Foto: JOHN MOORE / AFP

O presidente reconheceu que o tema foi discutido inclusive com membros de sua família, como a primeira-dama, Melania Trump, e sua filha mais velha, Ivanka, que lhe pediram para que tomasse uma decisão sobre o assunto.

— Esse tema afeta Ivanka e minha mulher profundamente — afirmou o presidente. — Eu também sou bastante afetado e acredito que qualquer um que tenha coração também se abala .

De acordo com o jornal “The New York Times”, a ordem executiva de Trump buscará contornar um acordo judicial mediado pela Suprema Corte em 1997, chamada de Acordo Flores, que proíbe o governo federal de manter crianças em centros de detenção migratórios por mais de 20 dias, mesmo que acompanhadas dos pais. Nos governos anteriores, famílias eram liberadas ou deportadas uma vez que esse prazo era ultrapassado.