Profissionais do Estadão são agredidos com chutes, murros e empurrões por apoiadores de Bolsonaro

Fotógrafo Dida Sampaio registrava imagens do presidente em frente à rampa do Palácio do Planalto quando foi atacado

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Por Redação
Atualização:

BRASÍLIA - Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro agrediram com chutes, socos e empurrões a equipe de profissionais do Estadão que acompanhava uma manifestação pró-governo realizada neste domingo, 3, em Brasília. O fotógrafo Dida Sampaio registrava imagens do presidente em frente à rampa do Palácio do Planalto, numa área restrita à imprensa, quando foi agredido. 

Ministros do Supremo, partidos políticos, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e entidades como a Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) rechaçaram os ataques. Em nota, a direção do Estadão disse que “trata-se de uma agressão covarde contra o jornal, a imprensa e a democracia”. Até a publicação deste texto, o Palácio do Planalto não havia se manifestado.

Fotógrafo doEstadãoDida Sampaio é impedido de registrar imagens do presidente Jair Bolsonaro; manifestante de camisa azul agride verbalmente o fotógrafo, o chamando repetidas vezes de 'lixo' por trabalhar noEstadãoe incita demais apoiadores do presidente a não permitirem que o repórter faça seu trabalho, colocando as mãos na frente da câmera. A partir deste episódio, o fotógrafo sofreu agressões físicas Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

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Sampaio usava uma pequena escada para fazer o registro das imagens quando foi empurrado duas vezes por manifestantes, que desferiram chutes e socos nele. O motorista do jornal, Marcos Pereira, que apoiava a equipe de reportagem, também foi agredido fisicamente com uma rasteira. Os manifestantes gritavam palavras de ordem, como “fora Estadão” e “lixo”.

Os dois profissionais precisaram deixar o local rapidamente para uma área segura e procuraram o apoio da Polícia Militar. Eles deixaram o local escoltados pela PM.  O repórter da Folha de S.Paulo Fabio Pupo também foi empurrado ao tentar defender o fotógrafo do Estadão. Júlia Lindner e André Borges, jornalistas do Estadão que também acompanhavam a manifestação em outro ponto da Esplanada, foram insultados, mas não sofreram agressões físicas.

Fotógrafo doEstadãoDida Sampaio é um empurrado por um dos manifestantes da escada que usava para registrar as imagens do presidente Jair Bolsonaro;fotógrafo relata que recebeu o empurrão na altura da cintura, do lado direito. Dida, que bateu a cabeça ao cair no chão, continuou sendo hostilizado pelos manifestantes, mas um grupo o ajudou a se levantar - 3/5/2020. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Uma multidão participou do ato estimulado pelo presidente. A ação ocorre após o ex-ministro Sérgio Moro prestar depoimento no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para apurar denúncia feita por ele de que o presidente Bolsonaro utilizou o cargo para tentar ter acesso a investigações sigilosas da Polícia Federal.

Bolsonaro desrespeitou todas as normas de saúde pública ao participar da manifestação. Sem máscara, desceu a rampa do Planalto e deu uma volta em todo alambrado. O desrespeito as medidas de segurança por causa do novo coronavírus é generalizado entre os apoiadores do presidente. Assim como o presidente, grande parte da população não usa máscara. 

Após a confusão,fotógrafo do Estadão Dida Sampaio se desloca a outro ponto da Esplanada; ele é novamente derrubado da escada pelos manifestantes Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Entre os gritos contra Maia e ministros do Supremo, os manifestantes que participaram do ato de ontem também se posicionaram contra a imprensa. Em certo momento, parte deles começou a gritar “Globo Lixo” e partiu contra profissionais de empresas jornalísticas. Neste momento, a alguns metros de distância, o presidente Jair Bolsonaro foi avisado por um auxiliar que os profissionais da emissora estavam sendo expulsos. 

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Diante da informação, Bolsonaro não repreendeu a atitude e endossou críticas à emissora. “Pessoal da Globo vem aqui para pegar um cara ou outro falar besteira. Essa TV realmente foi longe demais”, comentou durante transmissão ao vivo nas redes sociais.

Fotógrafo doEstadãoDida Sampaio pede aos manifestantes que o deixem trabalhar; neste momento, ele tem o braço segurado por um dos apoiadores do presidente; a imagem mostra um manifestante com punho cerrado Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Vencedor de dois prêmios Esso e três Vladimir Herzog, Dida Sampaio trabalha no Estadão desde 1994. Do exato ponto da Praça dos Três Poderes em frente ao Palácio do Planalto onde foi agredido por bolsonaristas, ele já captou as tradicionais subidas pela rampa dos presidentes eleitos - Fernando Collor (1990), Fernando Henrique (1995 e 1999), Luiz Inácio Lula da Silva (2003 e 2007), Dilma Rousseff (2011 e 2015) e Jair Bolsonaro (2019) - e de visitantes internacionais, como Bill Clinton (1997), Nelson Mandela (1998),  papa João Paulo II (1991) e Barak Obama (2011).

Fotógrafo do Estadão Dida Sampaio é agredido com chute e soco no estômago e deixa o local sob escolta da PM Foto: Reprodução

‘Estadão’ condena ataque a profissionais do grupo; leia nota

A diretoria e os jornalistas de OEstado de S. Paulo repudiam veementemente os atos de violência cometidos hoje contra sua equipe de jornalistas durante uma manifestação diante do Palácio do Planalto em apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

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Trata-se de uma agressão covarde contra o jornal, a imprensa e a democracia. A violência, mesmo vinda da copa e dos porões do poder, nunca nos intimidou. Apenas nos incentiva a prosseguir com as denúncias dos atos de um governo que, eleito em processo democrático , menos de um ano e meio depois dá todos os sinais de que se desvia para o arbítrio e a violência.

Dada a natureza dos acontecimentos deste domingo, esperamos que a apuração penal e civil das agressões seja conduzida por agentes públicos independentes, não vinculados às autoridades federais que, pela ação e pela omissão, se acumpliciam com o processo em curso de sabotagem do regime democrático.

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