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Política Eleições 2018

Bolsonaro deve fechar aliança com PR, liderado por condenado no mensalão, envolvido na Lava-Jato

Senador Magno Malta (ES) poderá ser vice do pré-candidato do PSL
O pré-candidato do PSL Jair Bolsonaro participa da Marcha para Jesus com o senador Magno Malta
31/05/2018. Foto: Marcos Alves / Agência O Globo
O pré-candidato do PSL Jair Bolsonaro participa da Marcha para Jesus com o senador Magno Malta 31/05/2018. Foto: Marcos Alves / Agência O Globo

BRASÍLIA — O casamento entre o PR de Valdemar Costa Neto , condenado pelo envolvimento no escândalo do mensalão , e o PSL do pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro está muito perto de ser anunciado. Segundo Bolsonaro reconheceu ontem ao GLOBO , a aliança do PR com o ex-capitão do Exército dependeria apenas de o senador Magno Malta (ES) aceitar ser seu vice. Ontem, enquanto o presidenciável dizia que já havia “sinal verde” do partido de Valdemar para a coligação, o senador capixaba afirmava que poderia abandonar o projeto de reeleição ao Senado para ser vice na chapa de Bolsonaro. A decisão, de acordo com Magno Malta, depende apenas de uma reflexão pessoal que ele já está fazendo. Segundo integrantes da cúpula do PR, o martelo deve ser batido dentro de 15 dias.

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— O PR já deu sinal verde também. Quem conversou lá, ele (Magno) mesmo, já me falou que o PR já deu sinal verde. Eu acho que até o dia 15 o Magno Malta se decide. Da minha parte está resolvido. Eu já falei sim, já pedi ele em casamento. Ele que está mudo — disse Bolsonaro.

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Além de ser liderado por um condenado no mensalão , o PR também é um dos 14 partidos  investigados na Lava-Jato, conforme mostrou levantamento do GLOBO . Entre seus parlamantares com inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) está o ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) e os deputados  João Carlos Bacelar (PR-BA) e Milton Monti (PR-SP).

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Se a coligação com o PR se tornar realidade, a aliança dará a Bolsonaro nova musculatura na corrida eleitoral. Hoje limitado pela estrutura do nanico PSL, o capitão ampliaria seu tempo de TV e ainda contaria com uma organização maior nos estados. Com o PSL, o militar da reserva teria apenas oito segundos no bloco de propaganda eleitoral no rádio e na TV, que tem 12m30s, e uma inserção publicitária na programação a cada três dias. Com o PR, ganharia mais 45 segundos por bloco e teria direito a duas inserções por dia.

ESTRATÉGIA PARA AUMENTAR BANCADA

Para o PR, a adesão ao ex-capitão é vista como a melhor estratégia para conquistar uma bancada superior a 50 cadeiras na Câmara. Já Magno Malta quer mais tempo para tomar uma decisão porque considera a reeleição ao Senado um projeto igualmente atraente. Para desistir e disputar a vice-presidência, Malta articula que sua mulher, Lauriete Rodrigues, assuma a candidatura ao Senado. Malta diz que tem um “mês inteiro” para tomar sua decisão.

“Realmente o PR vê com muitos bons olhos a candidatura de Bolsonaro. Eu sou cabo eleitoral de Bolsonaro, assumido, o Brasil todo sabe disso. Agora, tem muita água pra correr debaixo da ponte. Tem um mês inteiro. Sou uma pessoa que dependo de Deus. Eu não vou fazer nada atabalhoadamente”, disse o senador, por meio de sua assessoria.

Magno Malta afirma que sua reflexão é sobre onde poderia desempenhar um melhor papel, como vice de Bolsonaro ou como aliado no Senado.

“Preciso entender onde está minha importância, se seria dentro do Senado, com Bolsonaro presidente da República, o ajudando dentro das mudanças que terão de ser feitas. Aquilo que está sendo falado vai ter de ser cumprido. Teremos dias difíceis. Então, onde eu seria importante para a sociedade, para as famílias, para o Brasil, será que como vice, ou como senador? Tem muito tempo ainda para refletir. Eu não vou fazer nada atabalhoadamente, já me sinto muito honrado de ser escolhido por ele e por parte do Brasil que gostaria de ver uma chapa Bolsonaro/Magno Malta”, disse o senador por meio de nota.

O PR tem o ex-deputado Valdemar Costa Neto, que foi preso no processo do mensalão, como principal liderança. Ainda que não tenha mais cargo formal na estrutura partidária — segundo a assessoria, ele está desfiliado desde 2015 —, sua liderança é reconhecida pelos dirigentes para definir os rumos da legenda. Valdemar chegou a ter reuniões com o presidenciável no ano passado quando buscava convencer Bolsonaro a se filiar no Muda Brasil, partido que desejava criar, mas que foi barrado na Justiça Eleitoral. A conversa não fluiu na ocasião e o presidenciável disse não ter se encontrado com Valdemar em 2018. As tratativas ficaram restritas a aliados e, principalmente, políticos do PR que desejam a coligação.

— As conversas estão muito avançadas. Mas o martelo só deve ser batido daqui a 15 dias — afirmou Lincoln Portela (MG).

De acordo com dirigentes da legenda de diferentes vertentes, o apoio à aliança já é majoritário na sigla, que tinha chegado a ensaiar uma candidatura de Josué Alencar, filho do ex-vice-presidente José Alencar. O partido tem hoje 41 deputados federais, a quinta maior bancada, e acredita que Bolsonaro pode ajudar a ampliar a presença do partido no Congresso. Aliados de Bolsonaro demonstram empolgação com as negociações.

— Está com tudo para fechar. Não há nenhuma ameaça a essa parceria — disse Capitão Augusto (SP).

Entre os aliados de Bolsonaro no PR, há quem acredite em uma coligação ainda que Magno Malta não aceite ser o candidato a vice. Na visão deles, o presidenciável teria outros nomes para escolher dentro da legenda.

— Uma coisa é a aliança, de fazer a parceria. Se por ventura o Magno não quiser, não puder, em que pese eu acho que ele vai aceitar, permanece a aliança com a possibilidade do PR indicar o vice. Temos vários bons nomes dentro do PR pro Bolsonaro escolher — afirmou Capitão Augusto.

Por meio de nota, a assessoria de imprensa do PR disse que "a executiva nacional do partido se pronunciará sobre a sucessão presidencial apenas depois de ouvir os diretórios da legenda nos Estados e as bancadas do partido na Câmara e no Senado".