Rio

Prefeitura recua e não tem mais prazo para retomar aulas para mais de 600 mil alunos

Motivo seria a falta de protocolo de segurança para escolas e creches; essa é a primeira vez que município recua de uma medida de reabertura
Escola Municipal Pedro Ernesto, no Humaitá, é uma das unidades que seguem fechadas Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Escola Municipal Pedro Ernesto, no Humaitá, é uma das unidades que seguem fechadas Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO — Depois de várias medidas que anteciparam prazos no processo de flexibilização das regras de isolamento social no Rio, a prefeitura recuou, com uma medida que atinge a si mesma. Não há mais prazo para a reabertura das 1.542 unidades de ensino da rede municipal, nas quais estudam 641.564 alunos. Pelo planejamento original, turmas do 5º ao 9º ano e 525 creches deveriam retomar suas atividades no próximo dia 6 . Mas, em meio a um aumento do risco de contágio da Covid-19 na cidade, a expectativa agora é que as aulas, suspensas há quase quatro meses, só voltem, de forma gradual, no fim de agosto ou no início de setembro.

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Um dos motivos para o adiamento da volta às aulas é que, apesar de a pandemia ter feito suas primeiras vítimas na cidade em março, ainda não existe um protocolo para as escolas garantirem a segurança de funcionários e estudantes. As normas serão definidas por uma comissão que a secretária municipal de Educação, Talma Suane, deverá formar nos próximos dias. Ela admitiu a ausência dessas regras na última segunda-feira, durante uma audiência pública virtual na Câmara Municipal.

— Não propomos retorno sem preparo. O comitê que constituiremos vai trabalhar em cima de evidências, sem restrição de direitos, com foco na segurança dos alunos, na adequação das estruturas e no plano pedagógico — disse a secretária na audiência.

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Retorno depende da curva de contaminação

O adiamento da retomada das atividades escolares foi confirmado ontem pela Secretaria municipal de Educação (SME), que divulgou uma nota: “Não há uma data para o retorno dos alunos às aulas. Depende da curva de contaminação do novo coronavírus e das orientações sanitárias. Assim que for definido efetivamente o reinício do ano letivo, a SME seguirá as orientações do Conselho Nacional de Educação que trata da reorganização do calendário escolar’’.

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Apesar de a SME afirmar que o retorno depende da curvas de contaminação, a secretária municipal de Saúde, Beatriz Busch, disse ontem que, “no momento”, isso não preocupa a prefeitura. Ela deu a declaração em um evento de cessão de equipamentos para o Hospital Mário Kroeff, na Penha. Também presente, o prefeito Marcelo Crivella não comentou um estudo da UFRJ, mostrado pelo GLOBO, que aponta um aumento no índice de contágio este mês. Ele pediu para Beatriz se pronunciar, e ela negou que haja um recrudescimento da Covid-19:

— O aumento de casos é diretamente ligado ao aumento da quantidade de exames positivos. Isso é normal (acontecer). O dado (da UFRJ) não é preciso para o nosso planejamento de retomada de atividades. Levamos em conta a capacidade de leitos, a quantidade de óbitos e a notificação da quantidade de casos gripais nas nossas redes.

Aumento da taxa de contágio

Segundo o estudo da UFRJ, depois de iniciadas as medidas de flexibilização no município, houve um aumento da chamada taxa de transmissão - em maio, a taxa de contágio na capital era de 1,72 — uma pessoa doente pode infectar quase duas. No início de junho, quando se decidiu pela flexibilização, a mesma taxa era de 1,03, avaliada em “moderada”. Mas, em meados deste mês, o quadro mudou e o risco de infecção subiu para 1,39, classificado, outra vez, como “alto”. No estado, a curva também oscilou para cima. . No fim de maio, a taxa de contaminação era de 1,81, ou “muito alta”; no início de junho, de 1,35, “alta”; e, em meados de junho, de 1,57, também “alta”. Os dados são atualizados semanalmente.

A assessoria do governador Wilson Witzel, por sua vez, informou que até o momento nada será alterado no cronograma de reabertura das atividades definidas por um decreto, que no início do mês autorizou a reabertura parcial de vários setores incluindo shoppings, bares e restaurantes. Mas dava autonomia para os municípios fixarem cronogramas mais restritivos. Substituto de Fernando Ferri, o novo secretário estadual de Saúde, coronel Alex Busquet, não se manifestou.

Já secretária de Saúde acrescentou que a prefeitura está desenvolvendo um projeto para avaliar o índice de contaminação pelas regiões da cidade com base em exames sorológicos, em uma pesquisa inspirada em um estudo que está sendo desenvolvido pelo Ibope em todo o país. A próxima etapa consiste em testar profissionais que não pararam de trabalhar nos últimos meses durante a pandemia, como taxistas e funcionários de supermercados.