Oferecido por

Por Jornal Nacional


Três testemunhas afirmam que Wassef e Queiroz se conhecem há pelo menos um ano e meio

Três testemunhas afirmam que Wassef e Queiroz se conhecem há pelo menos um ano e meio

Três novas testemunhas revelaram ao Jornal Nacional que o advogado Frederick Wassef e o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabricio Queiroz, se conhecem há pelo menos um ano e meio. Elas contam que os dois estiveram em um hotel em Atibaia, interior de São Paulo, no Natal de 2018, desmentindo o que Wassef vem afirmando: que não conhece Fabricio Queiroz.

Queiroz é suspeito de operar um esquema de rachadinha no gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro, na época em que Flávio era deputado estadual no Rio.

A polícia prendeu Fabricio Queiroz na quinta-feira (18), em uma casa que pertence a Frederick Wassef. Até domingo passado (21), Wassef era advogado de Flávio Bolsonaro.

No dia 6 de dezembro de 2018, um relatório do Coaf, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, revelou operações bancárias suspeitas de 74 servidores e ex-servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O documento mostrou a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de um ex-motorista e ex-assessor do então deputado estadual pelo PSL, Flávio Bolsonaro, hoje senador pelo Republicanos.

Foi nessa época que o Brasil conheceu o ex-assessor Fabricio Queiroz, apontado como operador do chamado esquema de "rachadinha", em que funcionários do gabinete parlamentar devolvem parte dos salários que recebem.

As testemunhas revelam que 20 dias depois da divulgação da lista do Coaf, na madrugada do dia 25 para o dia 26 de dezembro de 2018, Fabricio Queiroz deu entrada no Hotel Faro, em Atibaia, no interior de São Paulo. Segundo os relatos, estava acompanhado do advogado Frederick Wassef, que não ficou hospedado.

Segundo as testemunhas, no dia seguinte, Wassef voltou ao hotel e eles tiveram uma reunião. O nome do titular da reserva ficou registrado no sistema: Fabricio José Carlos de Queiroz, ou simplesmente Fabricio Queiroz, o ex-assessor parlamentar de Flávio Bolsonaro.

O hóspede, Queiroz, chegou no dia 26 de dezembro de 2018, uma quarta-feira, à 1h26 da madrugada. Ele deixou o hotel por volta de 12h37 do mesmo dia.

A funcionária que fez o check-out disse que o advogado Frederick Wassef estava com Fabrício Queiroz: “Realmente ele esteve lá, e quem estava junto na hora do check-out era o Wassef”.

Repórter: E você já tinha visto o Queiroz e o Wassef juntos, além desse dia do check-out do dia 26 de dezembro de 2018?
Cláudia Oliveira, ex-funcionária do hotel: Não, não. Juntos, não. Só nesse dia que eu sei que ele trouxe, o Wassef trouxe o Queiroz. Só quem ficou hospedado foi o Queiroz e, pela manhã, o Wassef, na verdade, esteve lá inclusive procurando uma sala. O Wassef procurou, ele chegou querendo uma sala, sempre assim, com muita pressa, me lembro. E ele queria fazer uma reunião. Então ele procurou um rapaz, a pessoa responsável por eventos, e que o levou, teve contato com eles, e os levou até a sala para fazer essa reunião.

Cláudia diz que trabalhou de 2017 a 2019 no hotel e que conhecia o advogado: "Conheço, sim, o Wassef. Ele constantemente estava lá”, afirma.

O Jornal Nacional também conversou com Silvana Benachio, outra recepcionista que estava na hora do check-out, e viu Queiroz. “Na noite do dia 25, eu me recordo que eu não trabalhei. Mas, no dia 26, quando eu cheguei no hotel, ele já estava hospedado”, conta ela.

Repórter: Quem estava hospedado?
Silvana: O Fabricio Queiroz.
Repórter: Você trabalhava onde no hotel?
Silvana: Eu trabalhava no setor da recepção, na recepção.
Repórter: Chegou a ver ele?
Silvana: Eu vi ele no momento do check-out.
Repórter: Você chegou a ver o Wassef lá também?
Silvana: Sim. Na verdade, eu não o vi. Como ele já era hospede antigo do hotel, a gente, nós... Rolou a conversa de que ele estava lá acompanhando.

Silvana confirma que houve uma reunião: “Não vou saber te falar o tempo, mas foi no período da tarde”.

Repórter: Você sabe quem estava presente nessa reunião?
Silvana: Olha, eu não sei te dizer nomes. Tinha mais de três pessoas. No caso, a gente está falando do Frederick, né? Do Queiroz?
Repórter: Esse advogado Frederick costumava frequentar o hotel?
Silvana: É, ele já era hóspede de lá antes mesmo dessa situação ter acontecido.

No dia em que Fabricio Queiroz foi preso, na casa registrada como escritório de Frederick Wassef, um ex-funcionário do hotel comentou a postagem da notícia numa rede social: “Gente, eu fiz um walk-in dele aí no hotel um dia. Ele foi com aquele xarope que sempre causa, acho que é Frederick. Tem no sistema, procura aí (risos)”.

O Jornal Nacional conversou com Patrick, o autor do comentário. Foi ele quem fez o check in de Queiroz naquela ocasião. Ele conta como foi a chegada de Wassef e diz que foi ele quem reservou o quarto de Queiroz.

"O Wassef foi até a recepção. Eu sempre estava no turno da madrugada; eu entrava às 23h e saía às 7h. Ele chegou por volta de... Eu não me lembro exatamente o horário, entre meia-noite e 1h, 1h e pouquinho. Ele foi até a recepção, negociou comigo o valor, perguntou se tinha quarto disponível e tudo mais. A gente acabou entrando num acordo. Ele já fez o pagamento e foi até o carro. Quando ele voltou, ele voltou com outra pessoa e foi quando ele me falou: 'Hoje não sou eu que vou ficar, é esse amigo meu'. Me apresentou o Queiroz, aí eu fiz o cadastro do Queiroz", conta.

Patrick reiterou que quem pagou o quarto pro Queiroz foi o Wassef: "A nossa média de tarifa é de R$ 200, 250, no máximo, a tarifa que a gente trabalhava. Mas exatamente eu não lembro".

Repórter: Esse valor foi pago no ato ou na saída?
Patrick: Foi no ato. Antes, inclusive, dele ir no carro buscar o Queiroz.
Repórter: E você lembra como é que foi o pagamento?
Patrick: Foi dinheiro, dinheiro.
Repórter: E quem pagou?
Patrick: Foi o Wassef.
Repórter: Como é que você lembra disso, Patrick?
Patrick: Não, porque ele sempre pagava em dinheiro. Todas, todas as diárias, tal. Sempre quando ele ficava lá, era sempre tudo em dinheiro. Então, era mais fácil, mais fácil recordar.

Patrick explicou que fez a postagem quando viu a prisão de Queiroz na imprensa: "Sim, sim, eu fiz. É, na verdade, eu achei engraçado. Porque, engraçado que essas coisas acontecem e a gente acaba sendo parte da notícia, né? E meio, até indiretamente. É, mas aí eu acabei até comentando com, marcando o pessoal que trabalhou com a gente, que trabalhou comigo, falando assim: 'Você lembra que ficou no hotel, tal e tudo mais?' Então, realmente teve essa... esse comentário".

Fontes ouvidas pelo Jornal Nacional dizem que o último compromisso de Queiroz em Atibaia naquele dia foi um almoço em um restaurante. Na mesa, além de Queiroz, estavam Frederick Wassef e um pequeno grupo de amigos do advogado. Queiroz foi embora em seguida. Dias depois, passaria por cirurgia em um hospital em São Paulo.

As entrevistas contradizem Frederick Wassef, que, em julho de 2019, sete meses depois de ter ido ao hotel em Atibaia com Queiroz, afirmou que não conhecia Fabricio Queiroz.

Sadi: Quanto a uma estratégia muito discutida em Brasília, de que o Fabricio Queiroz, se ele falar, ele pode esclarecer esse caso. O senhor acha que ele deveria falar?
Wassef: Eu entendo que essa... Toda a pauta relativa a Fabricio Queiroz deve ser dirigida ao advogado dele. Como eu não represento esse cidadão e nem o conheço, não posso responder por ele.

Dois meses depois, nova entrevista.

Wassef: É importante lembrarmos que não existe a frase ‘o sumiço de Fabricio Queiroz’.
Repórter: Mas ele não aparece.
Wassef: Não, isso não corresponde à verdade real. Fabrício Queiroz...
Repórter: Mas onde ele está?
Wassef: Fabrício? Não sei, não sou advogado dele.

No dia 20 de maio, Wassef foi de novo questionado sobre o paradeiro de Queiroz. Agora, em entrevista ao Portal Uol.

Repórter: Se o Queiroz não tem importância nenhuma, ele podia aparecer.
Wassef: Também acho. Também acho que ele podia aparecer.

No sábado (20), em entrevista ao Jornal Nacional, Frederick Wassef disse que não poderia falar sobre o que Queiroz fazia na casa dele quando foi preso.

Wassef: Mas quem que disse que ele está morando na minha casa?
Repórter: Porque ele estava lá quando foi encontrado.
Wassef: Nós estamos aqui, numa padaria na rua, a gente não podemos afirmar que a senhora é dessa farmácia ou trabalha aqui, não tem nada a ver. Vamos deixar bem claro: Queiroz não era testemunha, não é testemunha, não é réu, ele é um averiguado, certo. E outra coisa: jamais escondi Queiroz, Queiroz não estava escondido. Por que que não estava? Porque ele sequer estava sendo procurado.

Nesta quarta (24), o JN falou com Ana Flávia Rigamonti, que contou que trabalhou para Frederick Wassef de maio a dezembro de 2019. A advogada disse que não se lembra quando Fabricio Queiroz chegou em Atibaia, mas que, enquanto os dois estavam na casa de Wassef, em 2019, conviveram e chegaram a ficar amigos.

Ana: Foi depois que eu estava lá.
Repórter: Você lembra o mês?
Ana: Eu não lembro se ele foi. Ah, eu não lembro direito o mês, mas foi depois disso. Depois de maio.
Repórter: Você foi lá por causa dele?
Ana: Não, não. O Queiroz eu não tenho, nunca fiz trabalho. Não tem nada a ver com o caso Queiroz. Eu acabei conhecendo o Queiroz ali e a gente, querendo ou não, criou um vínculo de amizade assim, porque às vezes eu estava na casa e às vezes eu não estava, então eu acabei conhecendo ele e a esposa dele.

O pedido de prisão de Fabricio Queiroz faz referência a uma pessoa chamada Ana. Os promotores não esclarecem se é a advogada Ana Flávia Rigamonti. Numa mensagem interceptada pelos investigadores, Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, pede que a filha avise Ana que ela e o marido estavam a caminho de São Paulo.

Em um outro diálogo, no fim de 2019, em novembro, o filho de Queiroz mandou para Márcia uma mensagem de áudio encaminhada por Ana, em que ela afirma que não teria comentado com o "Anjo" sobre uma viagem de Queiroz e Márcia, pedindo que "se ele questionar alguma coisa, vocês falam que foi agora".

Segundo as investigações, Queiroz e os parentes se referiam ao advogado Frederick Wassef como "anjo".

Repórter: Vocês tinham o hábito de chamar o doutor Fred de ‘Anjo’?
Ana: Não, eu sempre chamei o dr. Fred de dr. Fred.
Repórter: E entre você, o Queiroz, a mulher? Teve alguma vez que vocês se referiram a ele como 'Anjo'?
Ana: Que eu... Bom, essa pergunta eu prefiro não responder.

O advogado Frederick Wassef disse que desafia as testemunhas a mostrar alguma foto dele ao lado de Fabricio Queiroz e que tem sido alvo de uma mega campanha de fake news desde que prenderam o Queiroz.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!