• Redação Galileu
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Célula humana infectada por HIV (Foto: Flickr/NIH Image Gallery/Creative Commons)

Célula humana infectada por HIV (Foto: Flickr/NIH Image Gallery/Creative Commons)

Após participar de ensaios de um tratamento desenvolvido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um paciente não identificado que conviveu com o HIV por pelo menos sete anos está há 17 meses sem sinais do vírus causador da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids). Há um ano e meio, ele parou de tomar os medicamentos contra a doença e, desde então, segue sem o microrganismo no corpo, relata reportagem exclusiva da CNN Brasil.

O paciente participou de um estudo liderado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz e mostra que os cientistas brasileiros estão no caminho certo da cura para a síndrome. Segundo o médico, o vírus não foi detectado no corpo do paciente nem mesmo após passar por exames de alta precisão de diagnóstico. O número de anticorpos que combatem o HIV, que são usados como parâmetro para descobrir se uma pessoa contraiu o vírus ou não, também tem caído progressivamente, "o que é uma evidência de que o vírus pode não estar mais ali", disse Diaz, em entrevista à emissora.

Ainda assim, o infectologista alerta que é cedo para falar em cura e que há a possibilidade do vírus voltar a se manifestar, portanto, o paciente segue em acompanhamento.

Pesquisas anteriores

Os estudos coordenados por Diaz trabalham em duas frentes para combater o vírus HIV: a primeira utiliza medicamentos que eliminam o microrganismo durante sua replicação e células infectadas (mesmo que o vírus esteja adormecido nelas); e a segunda visa o desenvolvimento de uma vacina que leve o sistema imunológico a reagir contra as células doentes que os fármacos não conseguiram eliminar.

O paciente noticiado foi um dos 30 voluntários com carga viral indetectável e sob tratamento padrão que participaram de um dos testes do estudo, cujos primeiros resultados foram anunciados em 2018. Na época, os voluntários foram divididos em seis grupos e receberam diferentes combinações de remédios que eliminam o vírus, além do coquetel de antirretrovirais usado no tratamento padrão.

O subgrupo que apresentou os melhores resultados à época foi o de pacientes que receberam dolutegravir e maraviroc, aliados à nicotinamida (uma forma de vitamina B3 que impediu que o HIV se escondesse nas células) e à auranofina (que revelou potencial para encontrar células infectadas e matá-las).

Além disso, para fortalecer a imunidade dos voluntários, os pesquisadores também criaram uma vacina personalizada de células dendríticas (um tipo de glóbulo branco que nos protege de antígenos), baseada em monócitos (células de defesa) e peptídeos do vírus do próprio paciente. Assim, o próprio organismo pôde aprender a detectar e destruir células infectadas, ajudando a eliminar o HIV.

Em 2018, Diaz havia explicado em nota quais seriam os próximos passos do estudo. “Somente após as análises de sangue e das biópsias do intestino reto desses pacientes vacinados é que partiremos para o desafio final: suspender todos os medicamentos de um deles e acompanhar como seu organismo irá reagir ao longo dos meses ou, até mesmo, dos anos”, disse. “Caso o tempo nos mostre que o vírus não voltou, aí sim, poderemos falar em cura.”

Dois anos depois, com anúncio do paciente que está há 17 meses sem sinais do vírus, o médico acredita que esteja "no caminho certo [para a cura], numa perspectiva muito promissora."

No momento, o tratamento brasileiro aguarda a liberação da Anvisa para que mais testes sejam realizados em 50 voluntários.

Em todo o mundo, apenas duas pessoas foram consideradas completamente curadas do HIV: Adam Castillejo, conhecido como "paciente de Londres", e Timothy Ray Brown, chamado de "paciente de Berlim". Ambos foram curados após passarem por um tratamento baseado no transplante de medula óssea.