A prorrogação do auxílio emergencial, anunciada hoje pelo governo, vai ajudar a sustentar o consumo nos próximos meses e aliviar a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no ano. Em contrapartida, o anúncio mantém dúvidas sobre a questão fiscal do país, pode aumentar a incerteza e prejudicar o retorno dos investimentos, afirma Luana Miranda, pesquisadora da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundaão Getulio Vargas (Ibre/FGV).
“O auxílio deve dar um impulso no consumo das famílias e na atividade de comércio e indústria. Mas, pelo lado dos investimentos, isso gera uma preocupação sobre não se perder de vista uma âncora fiscal”, afirmou.
Ao enviar ontem o projeto de lei orçamentária para 2021, o governo não detalhou como pretende abrigar o Renda Brasil, programa que pretende reformular o Bolsa Família.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e pesquisa) caiu 15,4% no segundo trimestre ante os três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais. Foi o pior desempenho já registrado desde 1996, quando começa a série histórica do IBGE.
Apesar de recorde, o tombo veio melhor do que o previsto pelo Ibre/FGV, sobretudo por causa do desempenho da construção, que caiu 11,1% ante o segundo trimestre de 2019 - o Ibre esperava baixa de 15,5%. “É um setor difícil de projetar dentro do PIB. Mas continua sendo uma queda recorde dos investimentos”, afirma ela.
O Ibre ainda está calculando o efeito contábil da importação das plataformas de petróleo, que pode ter ajudado a evitar uma queda maior dos investimentos.
De todo modo, por conta desse alívio do lado da demanda com o auxílio emergencial, o Ibre/FGV deve manter a previsão de queda de 5,4% do PIB em 2020.
A pesquisadora também ressalta que os serviços surpreenderam negativamente dentro do PIB, especialmente os da administração pública e a categoria chamada “outros serviços”. “São os dois segmentos com maior peso dentro dos serviços”, afirma.
O item que inclui administração, saúde e educação públicas, entre outros, caiu 7,6% dentro dos serviços no PIB entre o primeiro e segundo trimestres. Já as outras atividades de serviços, que abrigam a saúde privada, por exemplo, tombaram 19,8% na mesma comparação. O setor de transporte também foi destaque negativo, ao recuar 20,8% nesse período.
“Houve uma queda muito forte nos outros serviços, que inclui saúde privada e também serviços prestados às famílias, como alimentação. Todos foram muito afetados nessa crise e a recuperação deve ser devagar ao longo do ano”, diz Luana.
Conteúdo originalmente publicado pelo Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico