Economia

Arroz já subiu quase 20% este ano com alta de preço de alimentos, mas inflação fica em 0,70%

Óleo de soja, leite longa vida e carnes são principais produtos com variação de preço, além de combustíveis, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE
Na avaliação de técnicos do Ministério da Economia, a reoneração garantiria garantiria uma economia de R$1,2 bi por ano Foto: Lucíola Vilella / Agência O Globo
Na avaliação de técnicos do Ministério da Economia, a reoneração garantiria garantiria uma economia de R$1,2 bi por ano Foto: Lucíola Vilella / Agência O Globo

RIO —  Arroz, leite longa vida e óleo de soja já acumulam aumento de preço de cerca de 20% este ano, segundo dados divulgados nesta quarta-feira pelo IBGE, embora a inflação registre crescimento de 0,70% de janeiro a agosto. A alta no preço dos alimentos pesa diretamente no bolso do consumidor e já entrou na pauta do governo.

Míriam Leitão : Inflação de alimentos subiu mais em agosto do que o IPCA acumulado no ano

O presidente Jair Bolsonaro já apelou duas vezes para que os supermercados controlem preços de itens da cesta básica. Ele afirmou, contudo, que não vai intervir . Em paralelo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, garantiu que não haverá desabastecimento.

Interferência: Os preços ao sabor do tempo

Em agosto, além de alimentos, a gasolina foi o item que mais influenciou no resultado da inflação, que foi de 0,24%. O indicador que acumula alta de 0,70% no ano e, em 12 meses, de 2,44%. Em julho, o IPCA foi de 0,36%.

O aumento vem como resultado da maior demanda por alimentos em domicílio e também pelo reforço de renda das camadas mais pobres através do auxílio emergencial. Pesa ainda a força das exportações, explicam especialistas.

. Foto: Editoria de Arte
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— O item de maior peso (4,67% do total) no IPCA é a gasolina (3,22%), que fez com que os Transportes (alta de 0,82%) apresentassem o maior impacto positivo no índice de agosto. E a segunda maior contribuição veio do grupo Alimentação e bebidas (0,78%) — explica Pedro Kislanov, gerente da pesquisa, ressaltando que os alimentos têm peso de 20,05% no IPCA e 22,82% no INPC.

Em alimentação, artigos como o tomate (12,98%), o óleo de soja (9,48%), o leite longa vida (4,84%), frutas (3,37%), carnes (3,33%) e arroz (3,08%) apresentaram alta nos preços em agosto.

. Foto: Editoria de Arte
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No acumulado do ano, contudo, o avanço já representa uma mordida importante no orçamento doméstico. A alta no preço do arroz chega a 19,25%, enquanto a do leite longa vida é de 22,99%. O preço do óleo de soja subiu 18,63%. A variação de alimentação no domicílio em 12 meses (11,39%) é a mais alta desde novembro de 2016, quando foi de 11,57%.

— Notamos que no começo da pandemia e do confinamento que houve uma elevação de itens alimentícios como arroz e feijão, que são itens mais básicos consumidos pela população de menor renda. Esse fator se justifica pelo auxílio emergencial, pela variação cambial e pelo movimento de exportação de produtos como a soja, que influencia o preço de itens como o óleo. O (aumento do preço do) leite, por exemplo, está associado à entressafra — destaca Kislanov.

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Cursos técnicos sobem

De acordo com relatório da Sul América Investimentos, o desempenho do índice reflete também o arrefecimento dos preços administrados, como energia elétrica e gasolina. Newton Rosa, economista-chefe da casa de análise, destaca que a alimentação e preços industriais seguem em alta, mas são contrabalançados pelo recuo dos preços dos serviços, em virtude da queda das mensalidades escolares.

Os preços de cursos regulares tiveram queda de 4,38%. Essa redução se justifica pelo reajustes nas mensalidades de escolas e faculdades que ocorreram devido à pandemia. Sem esse ítem, a inflação de agosto seria de 0,48%, analisa Pedro Kislanov, do IBGE.

No grupo de educação, a pré-escola (-7,71%) teve a principal variação de preço. Os cursos de pós graduação (-5,84%) também tiveram quedas intensas seguido por educação de jovens e adultos (-4,80%), creches (-4,76%), ensino fundamental (-4,12), ensino superior (-4,12%) e ensino médio (-2,93%). Já o subitem de curso técnico apresentou alta de 0,79%.

A expectativa do mercado era de alta de 0,17% no mês, e inflação acumulada de 2,37% em doze meses.

Inflação abaixo da meta

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia o resultado de agosto como benigno. Ele destaca que o forte efeito na demanda por alimentos vem ocorrendo desde o início da pandemia, mas que este mês o que tensiona o IPCA é o cenário de oferta dos alimentos.

— A demanda está elevada há algum tempo, mas o que deixa o mercado mais tensionado é o âmbito da oferta. Nada que não seja reversível no curto prazo. Tivemos entressafra, problema de pastagem no centro oeste brasileiro, na oferta de arroz e tomate por conta do clima de algumas regiões — avalia Sanchez.

A meta de inflação para este ano estipulada pelo governo foi de 4%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.  Sanchez acredita que este ano o IPCA feche em 1%.

— A inflação abaixo da meta do governo é um reflexo da pandemia. A restrição da mobilidade e o hiato de alguns produtos por conta do nível de ociosidade da economia. Pelo lado da compra, atua com uma menor demanda. Para frente um patamar de inflação benigno — ressalta.