Por Arthur Guimarães, Danilo Vieira, Leslie Leitão, Mohamed Saigg e Marco Antônio Martins, G1 Rio


MP diz que Rafael Alves pediu à prefeitura do Rio para não demolir casa de Romário

MP diz que Rafael Alves pediu à prefeitura do Rio para não demolir casa de Romário

O empresário Rafael Alves, que é apontado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como operador do suposto esquema conhecido como "QG da propina", intercedeu junto ao prefeito Marcelo Crivella para que uma casa do senador Romário no Rio não fosse demolida.

De acordo com parecer técnico, parte do imóvel localizado na Barra da Tijuca, Zona Oeste, foi construída em uma área irregular. A informação foi publicada pelo jornal O Globo. Por isso, a Secretaria Municipal de Urbanismo defendeu a derrubada da construção. De acordo com os promotores, Alves intercedeu pessoalmente junto a Crivella e impediu a demolição.

Procurada pelo G1, as assessorias de imprensa do senador Romário e da prefeitura do Rio não tinham se manifestado até 11h40.

Os promotores descobriram que, no dia 15 de março de 2018, Alves enviou mensagens a Crivella sobre o tema - o aparelho do empresário havia sido apreendido naquele mesmo mês. Também em março, um laudo da Secretaria de Urbanismo havia recomendado a demolição.

Soube agora que amanhã vão demolir a casa do Romário. Se o senhor puder tentar segurar isso. Ele me ligou aqui e foi nosso companheiro. Isso destruiria a vida dele. Ele disse que quer ir lá e regularizar o que for necessário. E com isso acaba essas brigas bobas e indiferenças. Somos pessoas de bem”, disse Alves, em mensagem.

Em um minuto, Crivella respondeu:

"Claro, amigo. Me dá o endereço".

O empresário passa a localização da casa.

O prefeito responde: "Ok".

Três horas depois, em mensagem enviada ao doleiro Sérgio Mizrahy, Alves afirma:

"Iam demolir a casa do Romário. Não deixei. Me pediram ajuda e resolvi com o prefeito".

Um dia após a troca de mensagens entre Alves e Crivella, o jornal "O Globo" publicou um documento endossando a demolição, deixando claro que a autorização para a demolição já havia sido publicada no Diário Oficial.

Segundo o laudo, "parte da edificação destinada à edícula não é legalizável, tendo em vista que está sendo executada fora do limite do lote em questão, em área pública destinada ao recuo, caso em que é previsto o desmonte ou demolição (...), por usurpação ou invasão de bem público".

Naquele mesmo dia, Alves mandou mensagem a um interlocutor questionando se Romário "estava calmo" e "havia ficado feliz".

O homem responde que sim: "Segurou o assunto dele".

No dia seguinte, a mesma pessoa informa Alves sobre reportagem do "Globo" que revelava a autorização para a demolição.

O que dizem os citados

O advogado do empresário Rafael Alves disse que as acusações contra ele são precipitadas e não têm compromisso com a verdade. Disse também que o Ministério Público interpretou as mensagens encontradas no celular de Rafael de forma "malévola" e "enviesada".

O prefeito Crivella divulgou neste sábado (12) dois vídeos para se defender das acusações do Ministério Público. Ele negou que tenha interferido para impedir a demolição da casa de Romário, mas não respondeu às principais denúncia do inquérito.

"Não há delação de doleiros, transportadora de valores, funcionários da prefeitura, empreiteiras, não há contas no exterior, nada foi encontrado na minha casa ou no meu gabinete, em banco ou no celular", afirmou o prefeito no vídeo. "Sou acusado de tudo. Não sou réu de nada."

"Estão aqui comigo meus secretários, sub-procurador da prefeitura, a controladora geral, que trabalharam comigo nesses últimos 3 anos. São os responsáveis por todas as licitações que tenho absoluta certeza foram conduzidas pelo sagrado interesse do povo. Conheço cada um deles e os defendo como a mim mesmo. São servidores de carreira. O que tem menos tempo de serviço, tem mais de 30 anos.

Ora, fui eu que decretei a inidoneidade da Linha Amarela, Lamsa e Invepar, e de todas as empreiteiras das obras Olímpicas superfaturadas e que já foram denunciadas na Lava Jato. Fui eu que cobrou na justiça que elas devolvam bilhões de reais desviados. E isso, incomoda muita gente. Criei o sistema de integridade carioca e abri procedimento disciplinar contra todos os funcionários condenados na Lava Jato.

Fui eu que abri processo contra as O.S (Organizações Sociais), que praticavam ilícitos na saúde e proibi que contratassem com o setor público e a OS IABAS, multei em 26 milhões de reais."

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