Exclusivo para Assinantes
Rio Coronavírus

Escolas particulares também devem adotar aprovação automática de alunos por causa da pandemia; entenda

Tendência é que a rede privada siga os mesmos passos da rede pública estadual, mas cada colégio tem autonomia para decidir; veja o que dizem algumas instituições
Indefinição: escolas particulares discutem sobre aprovação automática de alunos em 2020; tendência é que modelo seja seguido Foto: Fabiano Rocha em 21-9-2020 / Agência O Globo
Indefinição: escolas particulares discutem sobre aprovação automática de alunos em 2020; tendência é que modelo seja seguido Foto: Fabiano Rocha em 21-9-2020 / Agência O Globo

RIO — Os colégios particulares devem adotar o que chamam de continuidade pedagógica nos próximos dois anos, proposta parecida com a da rede estadual, anunciada nesta quarta-feira . Diretor do Sindicato das Escolas Particulares do Rio (Sinepe) e gestor do Colégio Andrews, Pedro Flexa Ribeiro avalia que, desde que seja conduzida cuidadosamente, essa medida é pedagogicamente coerente. Segundo ele, não faz sentido uma “correria” no fim do ano para repor conteúdo que não pôde ser aplicado. O educador ressalta, no entanto, que as escolas devem fazer um esforço para que os alunos do 3º ano do ensino médio tenham condições de prestar o Enem.

Pandemia da Covid-19: RJ tem 19,4 mil mortes e 285 mil casos confirmados; média móvel aponta estabilidade no contágio

As escolas privadas evitam falar em aprovação automática. No CEL Intercultural School, por exemplo, os alunos estão fazendo avaliações mesmo on-line. Segundo Romulo Nunes, coordenador do ensino médio, os resultados vão ajudar a fazer um diagnóstico sobre o que cada um aprendeu e a traçar a retomada de conteúdo.

Diretor do colégio Camões-Pinochio, na Freguesia, Luciano Nogueira avalia positivamente a decisão da rede estadual de não reprovar os alunos. Na opinião dele, seria “injusto reprovar alunos que talvez não tenham tido condições para manter os estudos ao longo do ano”.

— Acho que não existe final feliz para essa história — diz ele.

Mais de 600 mil alunos da rede estadual terão aprovação automática

O ano letivo na rede estadual que mal começou já tem data para terminar: 22 de dezembro. E os alunos não terão que se preocupar com os boletins porque todos serão aprovados. A decisão é baseada num modelo aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no início de outubro, que prevê a integração de duas séries em uma a partir do ano que vem. O problema é que apenas 30% dos mais de 600 mil alunos assistiram às aulas on-line durante a pandemia, de acordo com estimativa do próprio estado.

. Foto: .
. Foto: .

Ainda não há previsão de retorno às aulas presenciais no estado em 2020. A exceção será para os alunos do terceiro ano do ensino médio e da última fase da Educação de Jovens e Adultos (EJA), que terão uma volta opcional a partir da próxima segunda-feira, com foco no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontece em janeiro.

— As escolas estão preparadas, receberam recursos e todas as orientações. A partir de segunda-feira, vamos analisar diariamente qual é o quadro — garante o secretário estadual de Educação, Comte Bittencourt.

Tragédia: Estudante encontrado morto em Nova Iguaçu é enterrado em cerimônia restrita a família e amigos no Caju

O secretário estima que cerca de 60 mil alunos do terceiro ano voltem às salas de aulas a partir da próxima semana, em escolas de todo o estado. Para anemizar os danos causados pela suspensão das aulas durante a pandemia, os estudantes que não forem aprovados em universidades e desejarem continuar na rede estadual poderão fazer uma nova matrícula para permanecer na rede em 2021.

Segundo Comte, dos 604 mil alunos da rede, apenas 193 mil participaram de atividades remotas na quarentena. Para tentar evitar uma evasão escolar sem precedentes, ele diz que será feita uma busca ativa dos estudantes, com a entrega de materiais didáticos e a realização de uma avaliação de diagnóstico no início do próximo ano.

Educadora aprova medida

Comte diz que a adoção do modelo de ciclo não se confunde com uma aprovação automática. Segundo o secretário, cada escola terá autonomia para definir como será a reposição do conteúdo, que pode se estender até 2022.

— Não vamos deixar nenhum aluno para trás. Vamos fazer um resgate dessas crianças e adolescentes — completa.

Ex-secretária municipal de educação e diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Claudia Costin disse apoiar a iniciativa para evitar a evasão escolar desde que acompanhada por um plano de recuperação no ano que vem.

— Isso é o que está sendo feito Brasil afora. E tem uma lógica porque 28% dos alunos, de acordo com pesquisa da Unesco, disseram que pretendem abandonar os estudos. Ou seja, perderam o vínculo com a escola. Isso é um desastre para eles e para o país. Não dá para subestimar as consequências de tantos meses de afastamento da escola — diz.

Sob suspeita: Polícia Civil faz operação no zoológico do Rio para apurar supostos maus-tratos aos animais

Presidente da comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que realizou nesta quarta-feira uma audiência com o secretário, o deputado Flávio Serafini (PSOL) disse que vai acompanhar o planejamento dos ciclos que vão reunir conteúdos de duas séries.

— É preciso fazer o planejamento para o ano que vem possivelmente ainda sem aulas presenciais ou com formato híbrido. Temos que começar o ano com mecanismos que desenvolvam o ensino e compensem o que foi perdido — afirma.

O deputado Waldeck Carneiro (PT), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Alerj, diz que os números são alarmantes e acendem o alerta:

— A situação é muito difícil. A pandemia causou um verdadeiro estrago na educação desses alunos.

Coordenadora-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), Izabel Costa aprova a reorganização do calendário com foco a curto prazo nos estudantes do terceiro ano. O sindicato, no entanto, mantém a greve e orienta os professores a não voltarem às salas de aula na próxima semana por conta da pandemia.

— A estimativa é que o retorno não passaria de 12% dos alunos. A secretaria tem como garantir recursos básicos para que as atividades desses estudantes sejam realizadas de forma não presencial — diz.

A decisão do estado de não reprovar alunos de forma excepcional em 2020 traz de volta a memória da aprovação automática, que vigorou nas escolas municipais. De 2000 a 2007, o sistema de ciclos, sem reprovações, foi adotado da 1ª à 4ª série. Em 2007, o modelo foi expandido para todas as nove séries do ensino fundamental. Criticado por especialistas, o modelo foi revogado em janeiro de 2009.