Exclusivo para Assinantes
Política Flávio Bolsonaro

Ex-assessora de Flávio Bolsonaro diz que foi chamada para reunião com Wassef em dia de depoimento ao MP

Luiza Souza Paes afirmou que foi orientada pelo advogado a não prestar esclarecimentos aos promotores
Frederick Wassef, ex-advogado de Jair Bolsonaro Foto: Fabio Motta / AFP
Frederick Wassef, ex-advogado de Jair Bolsonaro Foto: Fabio Motta / AFP

RIO E BRASÍLIA – Entre as revelações que Luiza Sousa Paes, ex-assessora do antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), fez em seu depoimento ao Ministério Público do Rio (MP-RJ), está um encontro com Frederick Wassef, ex-advogado do senador, em um hotel na Barra da Tijuca, em dezembro de 2018. A reunião ocorreu no mesmo dia em que ela tinha sido chamada para prestar esclarecimentos na investigação. Segundo Luiza, ela foi orientada a não atender a convocação dos promotores.

Leia : MP denuncia mulher de senador e filhas de Queiroz; veja a lista dos denunciados

Como o GLOBO revelou na quarta-feira, a ex-assessora admitiu que nunca atuou como funcionária do filho do presidente Jair Bolsonaro e que era obrigada a devolver mais de 90% do salário . Além disso, Luiza apresentou extratos bancários para comprovar que, entre 2011 e 2017, entregou, por meio de depósitos e transferências, cerca de R$ 160 mil para Fabrício Queiroz, ex-chefe da segurança de Flávio que é apontado como operador do esquema de desvios de salários. É a primeira vez que um ex-assessor admite o esquema ilegal no gabinete do parlamentar.

A reunião de Luiza com Wassef ocorreu no dia 20 de dezembro de 2018 em um hotel na Barra da Tijuca – justamente na mesma data na qual ela deveria prestar esclarecimentos ao MP. A ex-assessora revelou o episódio aos promotores e cedeu localizações de GPS que mostraram esse encontro. Quem a direcionou para a reunião foi o advogado Luiz Gustavo Botto Maia, que já atuou para Flávio Bolsonaro.

O MP-RJ já tinha verificado, nas mensagens apreendidas nos celulares em dezembro do ano passado, que, no dia 19 de dezembro de 2018, Luiza tinha recebido orientação de Botto Maia para não atender à convocação dos promotores e prestar depoimento no dia seguinte.

Luiza contou que encontrou Botto Maia em seu escritório e de lá seguiu com ele, no carro do advogado, para um hotel na Barra onde estava Frederick Wassef. No encontro, Wassef não se apresentou como advogado de Flávio. Afirmou que era "poderoso", cobrava milhões nas causas em que atuava, mas estava fazendo a defesa de graça porque considerava que aquilo tudo era uma "covardia". Também foi dito pelos advogados que não era para ela prestar depoimento porque nenhum assessor iria fazê-lo.

Relembre : As suspeitas que pairam sobre Fabrício Queiroz e Flávio Bolsonaro

Wassef, como se sabe, era advogado de Flávio no procedimento e também atuava em outras causas da família Bolsonaro. Em junho, depois de um ano e meio escondido, Queiroz foi preso na casa do advogado em Atibaia , no interior de São Paulo. Após a prisão do ex-assessor de Flávio, Wassef deixou a defesa do senador.

Naquela época, em dezembro de 2018, Luiza, Queiroz e o pai da ex-assessora também passaram a combinar uma versão para um eventual e futuro depoimento no MP-RJ. Queiroz tinha pedido a ela que contasse aos promotores uma história parecida com o que foi relatada pelo subtenente Agostinho Moraes, outro assessor. Moraes disse que dava dinheiro a Queiroz para investimento na compra e venda de carros.

Dias depois do encontro com Wassef, o pai de Luiza comentou com ela, em mensagens de Whatsapp, sobre a entrevista que Queiroz concedeu ao SBT em 26 de dezembro de 2018: “...Você chegou a ver ou ouvir a entrevista do nosso amigo no SBT? Depois eu vou conversar contigo se você não ouviu. Se você tiver gravado aí manda pra mim porque eu queria ouvir. Ouvi um pedaço, mas não ouvi o teor inteiro. Que ali, pela parte que eu ouvi já muda algumas coisas bem interessantes. Isso deve ter sido orientação daquele maluco lá, né? ...” Segundo Luiza, o "maluco" a que seu pai fez referência era a Wassef.

Em depoimento, ela disse que ficava apenas com R$ 700 do salário. Além disso, também tinha como obrigação devolver valores relativos a 13º salário, férias, vale-alimentação e até o montante recebido pela Receita Federal como restituição do Imposto de Renda. O valor do vale-alimentação, cerca de R$ 80 diariamente, era depositado nas contas dos funcionários da Alerj sem registro ou desconto no contracheque.

Procurado, Wassef não retornou. Luiza disse que não podia se manifestarem função do sigilo do caso. O advogado dela, Caio Padilha, informou que a defesa "não foi notificada do oferecimento de denúncia e ainda desconhece seu conteúdo". Na nota, o defensor disse ainda que "nesse momento inaugural do processo sobre o qual recai sigilo, não é possível tecer qualquer tipo de comentário extra-autos sobre as fases da investigação".

Luiza Sousa Paes foi nomeada como assessora do gabinete de Flávio em 12 de agosto de 2011 e lá ficou até 11 de abril de 2012. Depois, foi nomeada em outros setores da Assembleia: na TV Alerj e no Departamento de Planos e Orçamento. Mesmo assim, durante todo esse período, relatou ao MP que teve que devolver a maior parte do salário que recebia. O primeiro contracheque dela no período em que trabalhou no gabinete de Flávio tinha um valor bruto de R$ 4.966,45. Já o último, na TV Alerj, de R$ 5.264,44. Todos os meses, Luiza tinha que sacar o salário e devolver a maior parte para Queiroz. Ela ficava com apenas R$ 700,00.

O advogado de Queiroz, Paulo Emílio Catta Preta, afirmou que “é importante esclarecer que Luiza também é investigada - e agora acusada - sendo certo que o ordenamento legal lhe assegura o direito de apresentar qualquer versão que entenda como favorável à sua defesa, inclusive versão que não condiga com a realidade”. O defensor destacou ser “mais importante lembrar que sua versão não tem nenhum valor probatório”.

Os advogados Rodrigo Roca, Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, que defendem Flávio Bolsonaro, afirmam que estão impedidos de comentar informações que estão em segredo de Justiça. Em nota, disseram que o senador “não cometeu qualquer irregularidade e que ele desconhece supostas operações financeiras entre ex-servidores da Alerj”. Afirmaram também que “todas as contratações feitas pela Alerj, até onde o parlamentar tem conhecimento, seguiam as regras da assembleia legislativa. E que qualquer afirmação em contrário não passa de fantasia e ficção”.