Vacina

Por G1


Entenda a suspensão dos testes da CoronaVac

Entenda a suspensão dos testes da CoronaVac

O coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), Jorge Venâncio, disse nesta terça-feira (10) que o órgão analisou os dados iniciais sobre a morte de um voluntário e avaliou que não havia a necessidade de suspensão dos testes da CoronaVac no Brasil.

A Conep é um órgão do Ministério da Saúde e também acompanha os testes de vacinas no Brasil. O entendimento do Conep foi diferente do adotado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que suspendeu temporariamente os testes em humanos da vacina CoronaVac contra a Covid-19.

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Apesar de não ter recomendado a paralisação dos testes, o coordenador da Conep disse à TV Globo que, até o começo da tarde, ainda não tinha recebido o parecer elaborado por um comitê internacional independente de segurança sobre a morte do voluntário.

"A causa não tem efeito com a vacina. Esse conjunto dos dados que está sendo colocado demonstra que são duas coisas completamente independentes. Suspender um estudo com o esforço todo que está sendo feito por causa de evento que não tem relação não me parece uma coisa apropriada. Por isso que não decidimos por esse caminho", disse Venâncio.

Reunião com o Butantan

O coordenador da Conep disse que recebeu na sexta-feira o comunicado do Butantan e que no mesmo dia foi realizada uma audiência sobre o caso com o pesquisador responsável. Venâncio diz que as informações repassadas descartavam relação entre a morte e os testes.

"Nós solicitamos uma série de documentações que estão sendo providenciadas, e que devem estar sendo entregues hoje, e nós vamos tomar um posicionamento definitivo a esse respeito", disse Venâncio.

Considerando o sigilo, Venâncio disse que o principal fato é que entre a data do "evento adverso" e a segunda dose da vacina se passaram mais de 20 dias. "Nada indica que o que ocorreu posteriormente tenha relação com a vacina."

O coordenador da Conep disse que, entre os dados que aguardam está o parecer de um comitê internacional independente de segurança.

"O comitê (internacional de segurança) é da pesquisa, embora ele seja independente, é de pessoas de fora da instituição. Ele dá um parecer sobre o que ocorreu. Esse parecer é apresentado tanto para nós quanto para a Anvisa. Mas, pelo conjunto de fatos que estão colocados, acredito praticamente impossível que o comitê dê um parecer pela suspensão do estudo porque não teria lógica", disse Venâncio.

Críticas a Bolsonaro

Especialistas da saúde criticaram a fala de Bolsonaro ao comentar a suspensão de testes da CoronaVac. Em uma rede social, o presidente afirmou que o episódio é "mais uma que Jair Bolsonaro ganha".

O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri, disse que politizar o debate sobre vacinas só provoca desinformação.

"Este é um receio que nós estamos, na prática, acabando vivenciando, de que a contaminação política ultrapasse a barreira da ciência, e você vê vacinas sendo colocadas como de um partido ou de outro, de um governador ou de um presidente, questões xenofóbicas, vacinas de um país ou de outro quando, na verdade, a ciência não respeita fronteiras, a ciência não tem preferências políticas nem calendário eleitoral para se prometer datas de entrega", avaliou Kfouri.

A especialista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, escreveu no Twitter que, em caso de óbitos, o ensaio clínico tem que ser paralisado.

“O evento (morte) parece ter ocorrido em 29 de outubro. Nesse dia, deveria ter sido comunicado à Anvisa, iniciado investigação, e paralisado o ensaio. O ensaio continuou durante a investigação. E, segundo a Anvisa, o comunicado só foi feito 10 dias depois”, escreveu Garrett.

“No pronunciamento do diretor do Butantan, não é suficiente dizer que 'é um óbito não relacionado à vacina' e lançar dúvidas quanto à ação da Anvisa. Precisa de mais transparência. Morreu de quê? O óbito estava no grupo da vacina ou do placebo?”, escreveu a especialista.

Fala de Bolsonaro sobre suspensão de testes da CoronaVac é criticada por especialistas

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“Finalmente, erra feio o presidente Jair Bolsonaro ao dizer que ele ganhou com a interrupção dos testes. Nosso interesse deve estar em combater a pandemia e salvar vidas. Ninguém deveria ganhar com isso, muito menos um presidente eleito para zelar pelo bem estar dos seus constituintes”, acrescentou Garrett.

A presidente do Instituto Questão de Ciência, Natália Pasternak, também criticou a fala de Bolsonaro.

"Atrapalha demais. Atrapalha o andamento da ciência, atrapalha a confiança da população nas vacinas como um todo, e não só nas vacinas para a Covid-19, deixa o país polarizado, dividido e convida as pessoas a politizarem a ciência como se a ciência pudesse ser, também, uma disputa de poder, uma disputa política", avaliou Pasternak.

"Todas as vacinas que forem testadas e que forem aprovadas como seguras e eficazes são necessárias e são úteis à população. Nós não vamos vacinar a população brasileira com apenas uma vacina. Nós vamos precisar de todas elas, e a CoronaVac é uma vacina tão promissora quanto todas as outras."

A neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19, disse em uma rede social que a suspensão acontece quando algum evento adverso é observado. “Comitês científicos independentes estudarão para dar o aval de prosseguimento ou não. AstraZeneca e Johnson & Johnson já passaram por isso e hoje já estão com os estudos retomados. Não houve relação dos eventos adversos com a vacina.”

Entretanto, a neurocientista enfatizou que a partidarização das vacinas não faz sentido. “Todas elas passam pelo método científico de análise e validação, independente de rótulo/fabricante/de onde veio. A população é quem ganha com as vacinas. Sem elas, todos perdemos.”

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