Publicidade

Covid-19

O tamanho do estrago

No início de agosto, ao apresentar um relatório da Unesco sobre os desafios do setor educacional durante a pandemia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou a crise causada pela Covid-19 como “o distúrbio mais grave já registrado nos sistemas educacionais em toda a história”. Não era exagero. Ainda é cedo para mensurar todo o impacto do fechamento repentino das escolas em múltiplas dimensões afetadas pela educação, mas já começam a surgir alguns estudos que dimensionam o tamanho do estrago.

Um deles foi publicado há duas semanas na revista acadêmica Educational Researcher, editada pela Associação Americana de Pesquisas Educacionais (Aera), e trata do cenário dos Estados Unidos em relação às perdas de aprendizagem. Lá, como ainda não houve retorno presencial de todos os estudantes, então ainda não foi possível avaliar todo o impacto negativo do fechamento de escolas. Para contornar este problema, os autores estimaram esse impacto a partir de estudos feitos em três situações prévias à pandemia: as perdas verificadas durante férias de verão, pelo fechamento de escolas devido a condições climáticas, ou pelo absenteísmo dos alunos.

 Dentre os cenários projetados, o mais preocupante estima que os estudantes chegarão, após três meses de paralisação, com perdas de aprendizagem entre 32% e 37% em leitura e 63% a 50% em matemática, se comparadas ao que seria esperado num ano letivo normal. Megan Kuhfeld, autora principal do estudo, explica que a perda estimada é maior em matemática porque as famílias têm menos condições de ajudar os filhos nessa disciplina e por não possuírem em casa livros apropriados para a faixa etária das crianças, algo mais provável de acontecer no caso de livros de leitura.

Outro alerta importante que o estudo confirma é que as perdas serão sentidas de forma muito desigual entre as crianças. Para algumas, que tiveram condições de continuar estudando remotamente e com apoio dos pais, pode até não haver perdas (especialmente no caso de leitura). Para outras, porém, o impacto negativo será brutal.

Um outro estudo a investigar a mesma questão veio da Holanda, este com a vantagem de se basear em dados mensurados após o retorno de 350 mil alunos às escolas, oito semanas depois do fechamento. Ao examinar as médias dos alunos em testes feitos antes e depois da paralisação, os autores – Per Engzell,

Arun Frey e Mark Verhagen - compararam a evolução das crianças neste ano com a verificada no mesmo período do ano passado. Eles concluíram que as perdas de aprendizagem foram equivalentes a um quinto do ano letivo, praticamente o mesmo período em que as escolas ficaram fechadas. Também no caso holandês, as perdas foram maiores para alunos de menor nível socioeconômico.

Para os autores, os dados da Holanda – um país rico e que ficou relativamente pouco tempo com escolas fechadas – indica que o quadro será muito pior para países como o Brasil: “Esses resultados implicam que, na média, os alunos fizeram pouco ou nenhum progresso enquanto estudavam em casa, e sugerem perdas muito maiores em países menos preparados para o ensino remoto”.

Leia também