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Paes e Crivella sobem o tom e intensificam ataques na reta final do segundo turno

Disputa chegou à Justiça Eleitoral: candidato do DEM já moveu 53 ações contra o prefeito, que acionou o adversário judicialmente 38 vezes
Campanha de Eduardo Paes acusa Crivella de espalhar fake news Foto: Reprodução
Campanha de Eduardo Paes acusa Crivella de espalhar fake news Foto: Reprodução

RIO — Mesmo em uma campanha que pesquisas de intenção de voto apontam não ser das mais acirradas, com larga vantagem para o primeiro colocado, o segundo turno da disputa pela prefeitura do Rio vem sendo marcado por ataques, seja por meio de declarações, panfletos, em debates ou no horário eleitoral. O acirramento chegou também ao Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ): o candidato do DEM, Eduardo Paes, já moveu 53 ações contra o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que postula a reeleição; o atual ocupante do cargo, por sua vez, acionou o adversário judicialmente 38 vezes.

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No ápice do confronto, Crivella fez uma falsa acusação ao afirmar que Paes, se eleito, entregaria a Secretaria de Educação para o PSOL, o que, nas palavras dele, incentivaria a pedofilia nas escolas. Um material distribuído nas ruas vincula o ex-prefeito ao aborto, à legalização das drogas e à distribuição de um “kit gay” nas escolas. Na Justiça Eleitoral, Paes afirma que a propaganda é “sabidamente inverídica e difamatória” e tem o objetivo de “ludibriar os eleitores” — o ex-prefeito também foi às redes sociais contestar a divulgação.

Propaganda de Crivella acusa Paes de ser contra pautas evangélicas sobre costumes Foto: Reprodução
Propaganda de Crivella acusa Paes de ser contra pautas evangélicas sobre costumes Foto: Reprodução

De seu lado, a campanha de Paes não tem poupado a faceta religiosa do adversário. Na propaganda de TV, Crivella é chamado de “falso pastor”. O candidato do DEM passou a se referir ao rival pela alcunha de “Pai da Mentira”, um termo bíblico de referência ao diabo.

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Um funcionário da prefeitura foi flagrado no domingo enquanto distribuía o mesmo panfleto em frente à Igreja Universal do Reino de Deus da Rua Cambaúba, na Ilha do Governador. O prefeito é bispo licenciado da denominação religiosa e, de acordo com os recortes divulgados pelas pesquisas, o segmento evangélico é o único em que ele tem vantagem sobre Paes.

Procurado pelo GLOBO, Marcio Giglio Pimenta, nomeado administrador regional da Ilha, afirmou que está de férias desde o início do mês para poder “trabalhar em paz”. Segundo o Portal da Transparência da prefeitura, o funcionário recebeu uma parcela referente a adiantamento de férias na folha de pagamento de outubro. Pimenta tem fortes ligações com o grupo de Crivella: além do cargo de confiança, integrava o grupo Guardiões do Crivella, junto com outros funcionários da prefeitura. O objetivo dos envolvidos era fazer plantão na porta dos hospitais municipais, atrapalhar reportagens e impedir denúncias sobre problemas na Saúde.

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A distribuição dos panfletos com acusações contra Paes levou o clima de agressividade da campanha para as portas das igrejas. Assim como na Ilha, o material foi distribuído nas imediações de templos da Assembleia de Deus de Madureira, na Zona Norte, e levou o líder do local, o bispo Abner Ferreira, a orientar os fiéis no último fim de semana.

— Quem faz isso está cometendo um crime. Quem está fazendo isso prejudica o próprio candidato. Se tiver alguém fazendo isso na porta dessa igreja, não pegue o panfleto. Essas pessoas, além de tudo, estão emporcalhando as portas das nossas igrejas. Isso é desrespeito — afirmou Ferreira, sem mencionar diretamente um dos candidatos.

Agressão física

Na Assembleia de Deus Vitória em Cristo da Penha, também na Zona Norte, uma mulher segurava uma pilha de panfletos quando foi surpreendida por um homem, que retirou a propaganda eleitoral à força de suas mãos. O vídeo da ação, que circula nas redes sociais, foi filmado de dentro do carro de onde o homem desembarcou, e termina com um aviso à pessoa que distribuía os panfletos: “Mete o pé”. Um dos ocupantes do carro afirma na gravação que conseguiu “recuperar” os panfletos. As imagens não esclarecem se os envolvidos na ação apoiam a candidatura de Paes.

A campanha do ex-prefeito afirmou que “desconhece as pessoas envolvidas na cena” e que não houve qualquer orientação para retaliar a distribuição do material. O texto diz ainda que “o nível do outro lado anda tão baixo que é importante verificar se o ocorrido não foi uma cena forjada por eles mesmos”.

“Sete pecados capitais”

O ex-prefeito passou a exibir na televisão peças que citam os “sete pecados capitais” de Crivella e criam o enredo da “Fantástica fábrica de fake news”, uma referência ao clássico cinematográfico “A fantástica fábrica de chocolates” — o rosto do prefeito foi inserido no corpo do personagem Willy Wonka, dono da fábrica de chocolates no filme.

Ontem, Crivella foi classificado como “falso pastor” e acusado de nunca ter tido de fato “cuidado com as pessoas” — uma referência ao slogan da campanha vitoriosa de 2016. Além disso, o programa tenta romper o vínculo do prefeito com o presidente Jair Bolsonaro: o narrador lembra que Crivella já foi aliado dos ex-presidentes Lula e Dilma e, assim como deixou o PT de lado, pode “trair” Bolsonaro também. No mesmo bloco, o prefeito veiculou uma propaganda em que o narrador diz que “a corrupção matou mais que a Covid-19”, exibindo, ao fundo, imagens de Paes ao lado de políticos como os ex-governadores Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. (Colaboraram Pedro Capetti, Luiz Ernesto Magalhães e Paulo Cappelli)