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Covid-19: Fiocruz alerta que Saúde do Rio já está em colapso com novo avanço de casos

Os pesquisadores apontam que não são apenas os hospitais que sofrem hoje com superlotação e problemas de atendimento, mas também a assistencia básica
Saúde volta a sentir pressão por leitos de Covid-19 no Rio, principalmente para casos mais graves Foto: Alexandre Cassiano em 27-4-2020 / Agência O GLOBO
Saúde volta a sentir pressão por leitos de Covid-19 no Rio, principalmente para casos mais graves Foto: Alexandre Cassiano em 27-4-2020 / Agência O GLOBO

RIO — Uma nota técnica divulgada pelo Monitora Covid-19, grupo de estudos da Fiocruz, nesta quarta-feira alerta que a rede de saúde pública da cidade do Rio já está em colapso. Nesta quarta, 172 pessoas aguardavam por um leito de UTI na região metropolitana , que além da capital contempla a Baixada Fluminense. Na rede privada a situação também é preocupante, já que 98% dos leitos de terapia intensiva da cidade do Rio estão ocupados .

— Já vemos o colapso no sistema. Dentro dos hospitais estamos com muitos problemas, mas fora também. E nem todos foram por Covid-19, mas indiretamente ficaram sem assistência. Além disso, ser hospilatizado não garante vaga em UTI. Muitos estão morrendo por Covid-19 fora de UTIs, mesmo confirmados como casos de Covid-19— comenta o sanitarista Christovam Barcellos, membro do MonitoraCovid-19 e pesquisador da Fiocruz.

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O levantamento foi feito até o dia 1º de dezembro, e por isso os dados de novembro podem ainda sofrer alterações. Os pesquisadores apontam que não são apenas os hospitais que sofrem hoje com superlotação e problemas de atendimento, mas também a assistencia básica. Um dos dados analisados utilizados pelos especialistas da Fiocruz para chegar à conclusão o número de tal de mortes em setembro e outubro: 1.100 a mais do que e esperado para o período, indicando " que o sistema de saúde não retornou ao que seria sua “normalidade”, depois da crise de abril e maio".

"Esse quadro aponta para uma condição de colapso do sistema de saúde, não somente dos hospitais, mas também da atenção primária, que, caso fossem mantidas ou estendidas as ações de prevenção e tratamento oportuno de casos crônicos de doenças, poderia se evitar grande número dos óbitos", diz a nota técnica.

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Uma outra nota técnica com dados de até o fim de novembro indicava que a Saúde do Rio já "apresentava sinais de colapos" . Mas, desde então os pesquisadores também apontam o aumento das mortes fora dos hospitais em outubro como um dos indicativos de que falta assistência de saúde para os cariocas. Um dos principais motivos seria a desmobilização de leitos após os meses com maior número de casos e mortes de Covid-19 na cidade:

— O pico maior foi em abril maio que foi uma grande crise, mas outubro volta a aumentar o numero de óbitos fora dos hospitais. O pico de agora é menor, mas a capacidade do sistema de saúde piorou. É um colapso gerado agora pelo próprio sistema. Isso foi avisado que poderíamos ter um novo aumento de caso E a crise não é apenas nos hospitais, e sim na atenção primária. Essas pessoas que nao foram ao centro de saúde poderiam ter sido atendidas. Não é atoa que são mortes que estão concentradas em problemas cardiovasculares e outras doenças cronicas — comenta Barcellos.

Evolução do número de óbitos no município do Rio de Janeiro em 2020 em comparação com a média de 2017 a 2019" Foto: Editoria arte
Evolução do número de óbitos no município do Rio de Janeiro em 2020 em comparação com a média de 2017 a 2019" Foto: Editoria arte

A proporção de mortes em domicílio na capital até dia 1º de dezembro de 2020 em comparação ao mesmo período de 2019 também é maior. Atualmente, a proporção dos óbitos em casa está na casa dos 15%, enquanto a média para esse período foi de cerca de 12,%. A proporção de novembro é maior inclusive do registrado na cidade no pico da pandemia.

Além de mortes que possam ser causadas diretamente pelo vírus, os especialistas apontam que muitas foram causadas por doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, o que seria indiretamente provocadas pela pandemia, por conta da restrição do acesso à saúde.

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"Nos anos anteriores, havia uma média de 12,7% de óbitos que ocorriam nos domicílios. Esse padrão foi ultrapassado de março a maio de 2020. De maio a outubro houve uma redução do indicador, mas em outubro e novembro os valores voltaram a subir, chegando a 15% em novembro, o que pode demonstrar a incapacidade de diagnóstico e de internação de casos graves, tanto de doenças crônicas, quanto de Covid-19", diz trecho da nota técnica.

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Outro dado analisado pelo grupo de estudos foi o local do óbito em geral, tenha a pessoa sido hospitalizada ou não. Os especialistas concluíram que do total de mortes no Rio pelo coronavírus, somente 40% foi em uma UTI. "Provavelmente mais da metade da população que veio a óbito por Covid-19 no município sequer teve a chance de receber atendimento intensivo", afirmam.

Alerta para as festas de fim de ano

Uma das preocupações do grupo técnico é que o novo aumento de casos da doença no Rio acontece próximo das festas e comemorações de fim de ano e alertam que o quadro de desassistência poderá se agravar em breve caso não tenha um reforço na estrutura hospitalar:

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"Esse quadro de desassistência pode se agravar com o aumento do número de casos e da exposição da população a situações de risco de transmissão do vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19. Nesse sentido, é importante o reforço da estrutura hospitalar de cuidados intensivos, a intensificação das atividades de atenção primária em saúde, articulada com a vigilância em saúde, bem como a manutenção de medidas de isolamento social e alerta para condições de risco nas próximas semanas, especialmente diante do quadro preocupante de realização de grandes festas de fim de ano, que já contam com propaganda regular nas redes sociais."

Procurada, a prefeitura do Rio afirma que foi responsável pela maioria das internações de Covid, é a única a manter um hospital de campanha em funcionamento e realizou 200 mil atendimentos na atenção primária em pacientes com sintomas respiratórios. O município afirma que negocia com o governo do estado a ampliação de leitos. A secretaria de Saúde do Estado não quis comentar a nota técnica e o Minsitério da Saúde não respondeu os questionamentos até o momento.