Rio

Mil dias sem Marielle: família pensa em legado e quer criar escola destinada a jovens negras de favelas em 2021

Anielle Franco, irmã da vereadora assassinada em março de 2018, anuncia um novo projeto para manter vivas a memória e a luta da parlamentar
Anielle, Marinete e Luyara: as três comandam o Instituto Marielle Franco, em busca de manter vivo o legado da vereadora Foto: Divulgação
Anielle, Marinete e Luyara: as três comandam o Instituto Marielle Franco, em busca de manter vivo o legado da vereadora Foto: Divulgação

RIO — No dia em que as mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes completam mil dias, a irmã da vítima, Anielle Franco, anuncia um novo projeto para manter vivas a memória e a luta da parlamentar. No ano que vem, ela pretende criar a Escola Marielle, destinada a jovens pretas, moradoras de favelas. A ideia é apresentar a elas o trabalho de intelectuais e ativistas negras, como Angela Davis e Sueli Carneiro, a escritora Conceição Evaristo, a antropóloga Lélia Gonzalez, entre outras. Todas, diz Anielle, referências na luta feminista e antirracista.

— As mulheres pretas de favela têm que entender sua história. Isso ajuda a moldar sonhos, além de incentivá-las a estudar. Esse é o legado da minha irmã. São sementes que serão plantadas, valorizando a cultura de seus ancestrais —explica Anielle, diretora do Instituto Marielle Franco.

Mil dias: 'A morte da Marielle é um atestado de óbito do Rio de Janeiro', diz Marcelo Freixo

Segundo Anielle, até o fim deste ano será definido o número de alunas da Escola Marielle. Por causa da pandemia do coronavírus, é possível que os trabalhos comecem com aulas on-line.

Enquanto Anielle foca no legado de Marielle, Agatha Arnaus Reis, viúva de Anderson Gomes, aplica sua energia no bem-estar do filho Arthur, de 4 anos e sete meses . O pequeno, que nasceu com má-formação e depende de cuidados especiais, está aprendendo a andar. O menino tinha um ano e dez meses quando perdeu o pai, em 14 de março de 2018.

— Arthur é idêntico ao pai ( Anderson ). Esses dias, ele fez um som, como se limpasse a garganta, que o Anderson fazia. Ele me deixou impressionada, pois não foi algo ensinado — diz Agatha, que não esconde como tem sido difícil viver sem o marido. —Nós tivemos que reaprender a viver. Tudo o que fizemos, fizemos pela primeira vez sem ele e, a cada primeira vez, doeu muito. Sempre me vem ainda em pensamento: “Anderson adoraria isso, estaria rindo disso, falando tal coisa” — diz.

Anielle Franco: 'Pelo fim do ciclo de luto sem fim', escreve irmã de Marielle nos mil dias da morte

Para Mônica Benício, viúva de Marielle que foi eleita vereadora, os mil dias também são uma data difícil. Nos últimos dias, ela voltou para o divã.

— Essas datas mexem comigo. Todo dia 14, um mês, um ano, mil dias. Tinha largado a terapeuta que tratava de mim na época da morte de Marielle, mas voltei hoje. Eu já não sei o que dói mais: se é viver sem ela ou ficar sem respostas, sem a justiça.