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Veja o que disse o ministro da Saúde sobre compra da vacina CoronaVac, vetada por Bolsonaro

Embora pasta afirme que falas foram 'mal interpretadas', Pazuello formalizou explicitamente aos governadores intenção de aquisição de doses de fórmula testada pelo Butantan
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em cerimônia no Palácio do Planalto em 14 de outubro Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em cerimônia no Palácio do Planalto em 14 de outubro Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO — Desautorizado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira , o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, entrou na mira de apoiadores do governo federal nas redes sociais após anunciar a intenção de adquirir do Instituto Butantan 46 milhões de doses da vacina CoronaVac , desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech. A instituição paulista é responsável pelos testes e pela eventual produção em solo brasileiro. Nesta manhã, o Ministério da Saúde recuou, informou que não houve qualquer sinalização de compra e indicou que Pazuello foi mal interpretado.

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As declarações foram feitas pelo secretário-executivo da pasta, Élcio Franco, e colidem frontalmente com as palavras do ministro, que testou positivo para a Covid-19 e, por isso, não despacha na sede do ministério. Segundo o colunista do GLOBO Lauro Jardim, Bolsonaro se irritou com a decisão de Pazuello e avalia que seu ministro está "querendo aparecer" como Luiz Henrique Mandetta, titular da pasta demitido em abril após divergências com o presidente.

Embora o Ministério da Saúde afirme institucionalmente que o ministro Pazuello não sinalizou qualquer compromisso de compra e que suas palavras foram distorcidas, as declarações do titular da pasta vão no sentido contrário. Entenda:

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Compromisso de compra

Em reunião com governadores, que pressionavam pela inclusão da CoronaVac no planejamento de imunização do ministério em 2021 junto da formula da Universidade de Oxford/AstraZeneca, Pazuello foi explícito quanto à sinalização de compra:

— Nós já fizemos uma carta em resposta ao ofício do (Instituto) Butantan e essa carta é o compromisso da aquisição dessas vacinas que serão fabricadas até o início de janeiro, em torno de 46 milhões de doses, e essas vacinas servirão para nós iniciarmos a vacinação ainda em janeiro. Essa é a nossa grande novidade, isso reequilibra o processo.

Contrariando seu próprio ministro, o Ministério da Saúde informou, por meio de nota, que "não houve qualquer compromisso com o governo do estado de São Paulo ou seu governador, no sentido de aquisição de vacinas contra Covid-19".

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Compra de vacina em testes

Ao mencionar que o acordo garante um "reequilíbrio" no planejamento de imunização, Pazuello parece fazer menção ao acordo do ministério com a farmacêutica britânica AstraZeneca, que garantiu um escalonamento de 100,4 milhões de doses da fórmula, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido).

Governadores e parlamentares passaram a última semana articulando um meio-termo com a Saúde depois que a CoronaVac foi deixada de fora do Programa Nacional de Imunizações em 2021. Temendo que disputas políticas entre Bolsonaro e Doria prejudicassem a imunização da população, o grupo sustentou que o imunizante da Sinovac está em estágio avançado de testes, assim como a fórmula da AstraZeneca.

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Embora o presidente Bolsonaro tenha dito nas redes sociais que o povo brasileiro "não será cobaia" e que o governo só comprará a CoronaVac mediante aprovação pela Anvisa, o acordo sinalizado por Pazuello segue a mesma linha do termo de compromisso firmado com Oxford/AstraZeneca.

Vacina 'chinesa'

Pazuello deixou claro que a fórmula da Sinovac Biotech será produzida pelo Butantan no Brasil e, por isso, disse que para o governo a tratará como a "vacina brasileira". Nas redes sociais, apoiadores do presidente Bolsonaro criticaram o governo por planejar a compra de uma fórmula desenvolvida na China. Além disso, nas redes sociais, Jair Bolsonaro se referiu à CoronaVac como "vacina chinesa de João Dória" (sic).

— O Butantan fez uma carta de licença de fabricação da vacina no Brasil e fabrica a vacina no Brasil, como fabrica as demais vacinas. Então, a vacina do Butantan será a vacina brasileira — disse o ministro da Saúde.

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O secretário-executivo, Élcio Franco, insistiu nesta manhã que o governo não pretende comprar "vacinas chinesas" poucas horas após Bolsonaro responder a um seguidor nas redes sociais que o imunizante testado pelo Butantan "não será comprado". As declarações do ministro na última terça-feira, por outro lado, cristalizaram a formalização da intenção do governo federal de adquirir doses da CoronaVac produzidas pelo Butantan.

Acordo com o Butantan

Pazuello enfatizou aos governadores na última terça-feira que o protocolo de intenções assinado pelo ministério representa o compromisso de adquirir as 46 milhões de doses produzidas pelo Butantan, em São Paulo. O instituto é vinculado ao governo de São Paulo e o anúncio do acordo entre a instituição e a Sinovac Biotech, coube ao seu diretor, Dimas Covas, e o governador Doria (PSDB), desafeto do presidente.

Lauro Jardim : Pazuello na mira de Bolsonaro: 'quer aparecer, como o Mandetta'

O próprio Pazuello, no entanto, reconheceu que a maioria absoluta dos imunizantes adquiridos pela pasta são fabricados pelo instituto paulista:

— O Butantan já é o grande fabricante de vacinas para o Ministério da Saúde, 75% das vacinas que nós compramos para vacinar os brasileiros vêm do Butantan. O parque fabril deles é muito importante. E a vacina da Sinovac tem a mesma tecnologia que o Butantan usa para as demais vacina do H1N1 e outras.

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Aprovação da vacina

Pazuello não anunciou a aprovação da fórmula da Sinovac pelo Ministério da Saúde durante a reunião com governadores, uma vez que essa atribuição, conforme salienta a pasta na nota divulgada nesta terça-feira, é da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).

A pasta, no entanto, sugere no comunicado que as declarações do ministro foram distorcidas nesse sentido. Não houve manifestações públicas de políticos ou da imprensa atribuindo ao governo uma suposta aprovação da CoronaVac.