Ao desistir de depor, Bolsonaro preferiu desgaste político a risco jurídico, avaliam interlocutores
Interlocutores políticos do presidente Jair Bolsonaro avaliaram ao blog nesta quinta-feira (26) que Bolsonaro fez um cálculo pragmático ao desistir de prestar depoimento no inquérito que apura se ele tentou interferir na Polícia Federal.
Para esses interlocutores, Bolsonaro preferiu o desgaste político com a decisão ao risco jurídico do depoimento.
Até aqui, a Advocacia Geral da União (AGU) tentava fazer com que Bolsonaro prestasse depoimento por escrito, o que foi negado pelo então relator do caso, Celso de Mello, que se aposentou do Supremo Tribunal Federal.
O plenário do STF analisa esse pedido, mas o julgamento foi suspenso em outubro sem data para retomada.
"É melhor enfrentar um pequeno desgaste político agora do que qualquer risco jurídico no depoimento", observou um aliado próximo do presidente, numa referência ao fato de Bolsonaro não enfrentar questionamentos da Polícia Federal, o que poderia ser explorado politicamente pela oposição.
O argumento da AGU até então era o de que deveria ser seguindo o mesmo procedimento adotado quando o então presidente Michel Temer também foi investigado e prestou depoimento por escrito.
Até mesmo auxiliares de Bolsonaro reconhecem o risco de contradições num depoimento presencial, até porque contaria com a possibilidade de questionamentos da defesa do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro.
O inquérito está paralisado desde 17 de setembro em razão da indefinição sobre o depoimento do presidente da República. No documento, a AGU informa ao STF o desejo de "declinar do meio de defesa que lhe foi oportunizado unicamente por meio presencial no referido despacho".
O pedido para o fim do inquérito é visto por aliados como uma preocupação do presidente Jair Bolsonaro de ficar com uma situação de vulnerabilidade por um período indeterminado. Inicialmente, a estratégia foi de ganhar tempo para recuperar o capital político depois das acusações feitas pelo ex-ministro Moro. Mas a avaliação no Planalto é que a manutenção prolongada desse inquérito seria como o presidente “ficar com uma faca no pescoço indefinidamente”.