Política

Bolsonaro diz que Queiroz fez pagamentos pessoais para ele

Presidente disse ainda que os R$ 89 mil depositados na conta de Michelle não são propina
Jair e Eduardo Bolsonaro com Fabrício Queiroz Foto: Reprodução
Jair e Eduardo Bolsonaro com Fabrício Queiroz Foto: Reprodução

BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que Fabricio Queiroz, figura central na investigação contra Flávio Bolsonaro no suposto esquema de rachadinha , fez pagamentos pessoais para ele no passado. De acordo com o presidente, Queiroz era de "confiança".

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— Vamos apurar? Vamos, mas cada um com a sua devida estatura, e não massacrar o tempo todo, como massacram a minha esposa, quando falei desde o começo que aqueles cheques do Queiroz ao longo de dez anos foram para mim, não foram para ela. Eu dava 89... divide aí, Datena. R$ 89 mil por dez anos, dá em torno de R$ 750 por mês. Isso é propina? Pelo amor de Deus! Pelo amor de Deus! R$ 750 por mês. O Queiroz pagava conta minha também. Era de confiança, tá?  — disse em entrevista à Band.

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Bolsonaro foi questionado sobre a reportagem da Revista Época que revelou que a defesa do seu filho e senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) recebeu orientação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no caso das rachadinhas . O presidente disse que Augusto Heleno, titular do GSI, negou a existência dos relatórios.

Em seguida, sem ser perguntado, comentou o repasse de R$ 89 mil feito por Queiroz e sua esposa, Marcia Aguiar, em 21 cheques na conta de Michelle Bolsonaro, entre 2011 e 2016. Os extratos bancários divergem da versão apresentada por Bolsonaro de que Queiroz estava pagando um empréstimo.

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Na época em que as transações foram reveladas, em agosto deste ano, Bolsonaro foi questionado sobre o assunto e respondeu com agressividade em diferentes ocasiões. A um repórter, o presidente disse que estava com vontade de “encher a boca” dele de porrada .

Na entrevista desta terça, Bolsonaro disse que desde que o processo foi instaurado não tem conversado com Queiroz, mas afirmou que o ex-assessor de Flávio está sendo "injustiçado".

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— Desde quando instaurou o processo, eu não tenho conversado com ele. Agora, ele tá sendo injustiçado também. Por que? Tem que ser investigado e dar a devida pena se for culpado, e não prender a esposa... Quebraram o sigilo de mais de 90 pessoas, não tem cabimento isso. Parece que o maior bandido da face da terra é o senhor Flávio Bolsonaro. Se tem a sua culpa, que se apure e se puna, mas não dessa forma, tentando me atingir politicamente em todo o momento — comentou.

Bolsonaro disse também que conhece Queiroz há 30 anos que nunca teve problema com ele. Em seguida, afirmou que o ex-assessor ainda não foi ouvido na investigação da rachadinha "porque parece que não interessa ouvir". Queiroz faltou depoimento ao MP-RJ duas vezes .

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— A questão do Queiroz, tá? O Queiroz, eu conheço ele há 30 anos, foi meu soldado na Brigada Paraquedista, nunca tive problema com ele. Daí aconteceu esse caso. Até hoje, ele não foi ouvido ainda. E é lógico, porque parece que não interessa ouvir, interessa é ficar desgastando, ficar sangrando, o tempo todo agindo dessa maneira — disse.

Defesa de Flávio

Questionado sobre a reportagem da Revista Época, Bolsonaro defendeu que o processo contra Flávio Bolsonaro não está sendo "justo" e acusou o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) de vazar informações do caso. Ele disse que a "pressão" em cima do senador é para atingi-lo.

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— É meu filho, tá? Eu sei que tem a ver com ele... O que eu sempre torci é que fosse um processo justo, mas isso não está sendo feito — comentou, acrescentando:

— Você vê essa questão aí da Abin. Estive com o general Heleno e perguntei: "alguma coisa foi feita?". Ele falou: "não". Como na semana passada, retrasada, falaram que eu queria interferir na Receita Federal. A Receita Federal, se vazou alguma coisa, não tem mais nada o que vazar agora, já está tudo vazado.

O caso

Flávio Bolsonaro, seu ex-assessor Fabrício Queiroz e mais 15 pessoas foram denunciadas ao Tribunal de Justiça do Rio pelos crimes de organização ciminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita no escândalo da rachadinha no antigo gabinete de Flávio na Alerj.

Na denúncia de cerca de 300 páginas, Flávio é apontado como líder da organização criminosa e Queiroz como o operador do esquema de corrupção que funcionava no gabinete do senador. Ambos foram acusados pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

A investigação do MP-RJ teve início em julho de 2018, depois que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou a movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz. No documento, foi apontado que oito assessores de Flávio faziam repasses para Queiroz e também ali já estavam assinaladas transferências e depósitos de Márcia Aguiar, Nathália e Evelyn Queiroz, mulher e filhas do subtenente.

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Quando o MP avançou nas investigações, após a quebra de sigilo bancário e fiscal de 106 pessoas e empresas em abril de 2019, verificou provas de um esquema no qual assessores eram nomeados e tinham que devolver a maior parte de seus salários para Fabrício Queiroz. Muitos, inclusive, não atuavam efetivamente e eram "funcionários fantasmas". O dinheiro era repassado por transferências, depósitos, mas também em espécie.

O Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) do MP-RJ apontou nos autos que 13 ex-assessores depositaram ao longo dos 11 anos R$ 2,06 milhões na conta bancária de Queiroz (69% do valor em dinheiro vivo). Além disso, esse grupo sacou R$ 2,9 milhões em espécie ao longo desse período.

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Depois, segundo o MP, o dinheiro era lavado e retornava para Flávio. A partir dos dados das quebras de sigilo bancário e fiscal, os promotores apontam que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) usou, pelo menos, R$ 2,7 milhões em dinheiro vivo do esquema .