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Nova cepa mais infecciosa do coronavírus aflige epidemiologistas e também é detectada na Itália

Descoberta levou vários países a suspenderem seus voos procedentes do território britânico neste domingo
Letreiro pede cuidado diante da alta nos casos de coronavírus, em Londres Foto: TOBY MELVILLE / REUTERS
Letreiro pede cuidado diante da alta nos casos de coronavírus, em Londres Foto: TOBY MELVILLE / REUTERS

LONDRES e ROMA — A Itália registrou neste domingo o primeiro caso de uma nova cepa do coronavírus que está se espalhando rapidamente em território britânico. A variante do vírus teria uma capacidade de contágio 70% maior do que as cepas anteriores. Fora do território britânico, também já foram detectados nove casos na Dinamarca, um na Holanda e outro na Austrália, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A aparição da nova cepa do coronavírus, muito mais infecciosa que as outras, aflige os epidemiologistas. O alerta levou vários países a suspenderem seus voos procedentes do território britânico neste domingo , e a OMS pediu que os controles sejam reforçados na Europa.

O conselheiro científico do governo britânico, Patrick Vallance, afirmou no sábado que a nova variante do SARS-CoV-2, além de se propagar rapidamente, está se transformando na forma "dominante", o que gerou "um aumento muito forte" das hospitalizações em dezembro. A nova cepa teria aparecido em meados de setembro em Londres ou em Kent (sudeste), segundo ele.

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"O grupo consultivo sobre ameaças novas e emergentes de vírus respiratórios (NERVTAG) considera que esta nova cepa pode se propagar mais rapidamente", declarou o médico-chefe da Inglaterra, Chris Whitty, em um comunicado.

Essa ideia se baseia na constatação de "um aumento muito forte de casos de contágio e de hospitalizações em Londres e no sudeste, em comparação com o resto da Inglaterra nos últimos dias", explica o professor de medicina Paul Hunter, da Universidade de East-Anglia, citado no site do Science Media Centre.

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"Este aumento parece ser causado pela nova cepa", acrescentou, em alusão às informações fornecidas pelas autoridades de saúde.

No entanto, "nada indica, até o momento, que esta nova cepa cause uma taxa de mortalidade mais alta ou que afete as vacinas e os tratamentos, mas há trabalhos sendo realizados com urgência para confirmar isso", continuou Chris Whitty.

Fora do território britânico, alguns casos foram notificados na Dinamarca (9), assim como um caso na Holanda e na Austrália, de acordo com a OMS, que recomenda que seus membros "aumentem sua (capacidade de) sequenciamento" do vírus antes de saber mais sobre os riscos apresentados por essa variante, disse um porta-voz da OMS.

A organização afirmou ainda que, além de "indícios preliminares de que a variante poderia ser mais contagiosa", a cepa em questão "também pode afetar a eficácia de alguns métodos diagnósticos segundo informações preliminares".

Epidemiologistas preocupados

A informação sobre esta nova cepa "é muito preocupante", afirmou o professor Peter Openshaw, imunologista do Imperial College de Londres, citado pelo Science Media Centre. Principalmente porque "parece ser entre 40% e 70% mais transmissível".

— É uma notícia muito ruim — comentou o professor John Edmunds, da London School of Hygiene & Tropical Medicine. — Parece que esse vírus é muito mais infeccioso que a cepa anterior.

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Em sua página do Facebook, o geneticista francês Axel Kahn lembrou que, até agora, "foram sequenciadas 30 mil mutações do SARS-CoV-2 no mundo".

A nova cepa incorpora uma mutação, chamada "N5017", na proteína da "espícula" do coronavírus, que permite que o vírus se prenda às células humanas para penetrá-las.

Segundo Julian Tang, da Universidade de Leicester, "essa mutação N501Y já circulava muito antes, de forma esporádica, neste ano fora do Reino Unido, na Austrália em junho-julho, nos Estados Unidos em julho e no Brasil em abril".

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— Os coronavírus sofrem mutações o tempo todo, então não é surpreendente que surjam novas variantes do SARS-CoV-2 — lembrou o professor Julian Hiscox, da Universidade de Liverpool. — O mais importante é tentar saber se essa variante tem propriedades que têm um impacto na saúde dos humanos, nos diagnósticos e nas vacinas.

— Quanto mais vírus houver e, portanto, mais pessoas afetadas, mais mutações aleatórias haverá que sejam "vantajosas" para o vírus — acrescentou Axel Kahn.

Suspensão de voos

A confirmação do nível de transmissão desta cepa levou as autoridades britânicas a decretarem um novo confinamento em Londres e em parte da Inglaterra, afetando um total de 16 milhões de habitantes.

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— Infelizmente, a nova cepa estava fora de controle. Devemos retomar o controle, é a única forma de fazê-lo, restringir os contatos sociais — declarou neste domingo o ministro britânico da Saúde, Matt Hancock.

Depois da Holanda, que suspendeu neste domingo todos os seus voos de passageiros procedentes do Reino Unido, a Bélgica também suspenderá as conexões aéreas e ferroviárias com esse país e a Alemanha estuda "seriamente" tomar uma medida semelhante, que também afetaria a África do Sul.