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Cientistas descobrem nova linhagem com mutação do vírus da Covid-19 no Rio

No entanto, o estudo não indica que a nova cepa seja mais transmissível ou agressiva
Movimentação intensa no Saara no último fim de semana antes do Natal para compras de fim de ano Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo 21-12-2020
Movimentação intensa no Saara no último fim de semana antes do Natal para compras de fim de ano Foto: Gabriel Monteiro / Agência O Globo 21-12-2020

RIO — Cientistas descobriram no estado do Rio de Janeiro uma nova linhagem do coronavírus. Ela derivou da B.1.1.28, a linhagem que já estava em circulação no Brasil desde o início do ano. O estudo não indica que a nova cepa seja mais transmissível ou agressiva, apenas relata sua descoberta. Como para as demais linhagens do Sars-CoV-2, tampouco há indícios de que esta possa reduzir a eficácia das vacinas que começam a chegar no mundo, frisam os pesquisadores.

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Ela foi identificada por meio de sequenciamento genético. Amostras de 180 genomas do Sars-CoV-2 em circulação no estado do Rio de Janeiro foram sequenciadas pelo Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, sob coordenação de Ana Tereza Vasconcelos.

Dos 180 genomas, 38 tinham mutações que indicam se tratar de uma nova linhagem, explica Vasconcelos. Sessenta por cento dos genomas são do município do Rio de Janeiro.

A análise dos dados foi realizada em conjunto com o Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ entre outras instituições. O trabalho é parte da Rede Coronaômica, do MCTI, e da Rede Fluminense de Ômicas, apoiada pela Faperj. O trabalho foi publicado no site do LNCC e submetido ao medRxiv.

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— Não temos evidências de que essa mutação represente um perigo maior. Mas ela mostra que o coronavírus circula com intensidade no estado, que as medidas de distanciamento social e a vigilância são fundamentais — frisa Vasconcelos.

Os pesquisadores ainda investigam se a linhagem identificada agora é mais transmissível, relata Amilcar Tanuri um dos autores do trabalho e coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Se esta forma identificada no Rio se propagar mesmo com mais facilidade, poderia explicar parte do aumento de casos registrado no estado desde novembro, diz o professor titular da UFRJ.

Assim como a linhagem recém-descoberta no Reino Unido, 94% das amostras pertencentes a esta variante do Rio têm uma mutação, chamada E484K, no gene da chamada proteína S.

— Salientamos que não há motivo para pânico. Vírus estão sujeitos a mutações.  A identificação dessa linhagem mostra que devemos intensificar a testagem e a vigilância genética.  A descoberta também evidencia a importância das medidas de distanciamento social e o uso de máscara — destaca Tanuri.

A análise das características da nova variante, feita por  Carolina Voloch e Ronaldo da Silva Jr, mostrou que ela  emergiu em julho e foi identificada em 38 amostras de genomas de coronavírus isolados de pessoas com Covid-19 do estado do Rio de Janeiro. O estudo analisou dados de 19 cidades e a hipótese dos cientistas é que a nova linhagem tenha se espalhado a partir do município do Rio.

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Os pesquisadores analisam agora dados de dezembro para investigar se essa linhagem se tornou dominante, a exemplo do que aconteceu no Reino Unido com a outra variante do coronavírus. Esta última, observa Vasconcelos, ainda não foi encontrada no Brasil.

O Estado do Rio é um dos que mais depositou sequências genéticas do coronavírus do Brasil em bancos genéticos mundiais, nesse estudo foram 180 genomas no total.

Tanuri diz que as mutações recém-descobertas podem ser um fenômeno global, de adaptações do coronavírus à medida que se espalha pelo mundo.

— Por isso, a vigilância genética é fundamental, para detectar mudanças no vírus antes que elas causem problemas — acrescenta ele.